CARNAVAL DE 2019
SINOPSE DO ENREDOOpará: Por Onde Passo Te Banho de Cultura! |
“Chico”
Prazer. Meu nome é Chico.
Nasci há muitos anos em uma noite enluarada. Noite de guerra entre as tribos das terras do Norte. Os índios que antes viviam em paz mandavam seus guerreiros para os campos de batalha. Eram tantos que seus passos forjaram sulcos ao afundar a terra à beira dos desfiladeiros. A formosa Iati, a índia mais bela da aldeia, assistia nervosa. Seu noivo partira para a guerra e ansiava nunca mais vê-lo.
A saudade era tanta que Iati chorou sem parar… Suas lágrimas escorreram pelos chapadões e despencaram formando garbosas cachoeiras e cascatas. O pranto das matas inundou a verde canastra e seguiu rumo ao norte pelas fendas criadas pelos passos fortes dos guerreiros, levando água ao árido sertão.
Assim eu nasci. Filho da saudade. Herdeiro da esperança. Sem saber meu destino, segui por aquela noite inquieto. Minhas águas se paralisaram à meia noite. Permaneci inerte por dois ou três minutos, até vislumbrar uma linda sereia, que penteava seus cabelos negros e longos como o próprio véu que tece a imensidão. Apenas voltei a percorrer meu destino ao perceber a errante serpente nadando em minhas águas, assombrando àqueles que percorriam meus caminhos.
Tomem cuidado com o que desejam! Eu sou Chico, sou o Rio, sou o Mar do Sertão, mas não controlo as criaturas que se escondem em meus caudalosos confins. Muito do que falam de mim não passa de história de pescador, mas não ache que é tudo assim. Quando um grito invade a madrugada, me encanta que um arrepio não percorra toda a espinha de todo aquele que ouvi-lo.
Ouço um batuque estranho, diferente. Vem de uma canoa, ainda ao longe. É o nego d’água fazendo algazarra e pedindo fumo aos navegantes. Não se deixe enganar… Ele carrega as moças para o fundo das minhas águas e os rapazes ele leva para torná-los escravos.
Encanto-me ao ver aventureiros em minhas margens, navegantes em minhas águas… Cuidado ao descansar por essas bandas, seus sonhos podem tornar-se pesadelos. A pisadeira espreita e observa os desavisados…
Apesar de tudo, trouxe vida a esse lugar tão sofrido. Trouxe fartura para esse lugar tão árido.
Peço perdão às almas que se perderam em meu leito e as envio de volta às estrelas de onde não deveriam ter saído.
Sigo viagem. Sem saber pra onde vou.
Chega de repente a manhã. O sol esquenta minhas águas.
Deparo-me com o fim… Ou seria um recomeço?
Encontro as salgadas águas do mar, tão diferente das doces lágrimas de Iati.
Esse é meu destino, enfim entendi. Servir de esperança para o povo do sertão. Irrigar a seca e molhar cada palmo de terra machucada pelo Sol.
Eu, que vim de lá do verde da Canastra… Encontrei o sertão sem cor e o colori… Sou a alegria desse povo, hoje sou Alegria do Vilar também.
Eu que já fui Chico quando novo, agora me conhecem por Velho Chico.
Mas ainda percorro o mesmo caminho, ouço as mesmas histórias e ainda carrego a mesma felicidade em cada lágrima que faço chegar ao mar.
Carnavalesco: Ricardo Paulino
Autor do Enredo e da Sinopse: João Perigo