CARNAVAL DE 2020
SINOPSE DO ENREDODo Professor ao Sucessor. Brilha o Passado e o Presente Azul e Branco |
Paulo da Portela, nosso professor. Paulinho da Viola, o seu sucessor.
Vejam que coisa tão bela. O passado e o presente da nossa querida Portela…”.
De trem, empurrados pelas transformações urbanas ocorridas no centro da capital da então Jovem República, em meio a tantos infortúnios, um grande contingente de desvalidos chega aos subúrbios.
Fugidos ou perseguidos, os negros trazem sua música, sua dança, sua religião, sem esconder a dor sob o árduo sabor de sobreviver, fazendo da arte “um novo amanhecer”. Guiados pela espontaneidade poética, germinam a semente artística da batucada lá pelas bandas de Oswaldo Cruz… e transcendem da hostilidade e do desconforto: sem luz, sem água, à margem da cidade, mantendo vivas as tradições da Mãe África.
A arte e as expressões culturais se reafirmam e enobrecem uma vida social marcada por festas religiosas e manifestações herdadas de seus antepassados, e encontram na região um alento à preservação.
O povo reza, canta, dança, resiste… Sua cultura resplandece à realidade. A força é a luz da sabedoria, que ilumina Paulo da Portela ao posto de líder, sambista e defensor do povo negro. Com seus ensinamentos a redenção: o “samba de batucada” ganha visibilidade. E nesse contexto, o enredo deste samba veste-se de Paulo da Portela, percorrendo seus feitos e glórias, e coroa-o professor. Ruma aos encantos, frutos de sua história e encontra-se com a genialidade de Paulinho da Viola, o seu sucessor.
De Paulo a Paulinho
Paulo Benjamin de Oliveira viveu por muitos anos na Praça Onze, até se mudar com a mãe e a irmã para Oswaldo Cruz, subúrbio carioca, no início da década de 20. De família pobre, começou a trabalhar cedo. No subúrbio, conheceu animadas rodas de pagode, Jongo e Caxambu.
Filho de violonista, Paulinho da Viola cresceu num ambiente musical. Sua infância em Botafogo foi regada por muita música e histórias. Ia do jogo de botão ao futebol na rua com bola de meia e presenciando grandes encontros em sua casa, onde viu tocar nomes como Pixinguinha e Jacob do Bandolim.
O primeiro bloco surgido em Oswaldo Cruz foi fundado por Paulo da Portela: “Ouro sobre azul”. Não era um bloco de samba, e sim de marcha-rancho. O samba só chega a Oswaldo Cruz através das festas religiosas na casa de “seu” Napoleão José do Nascimento, pai do lendário Natal, que contava com a presença de Dona Benedita, vinda do Estácio acompanhada de Brancura, Baiaco, Ismael Silva e outros bambas que estavam desenvolvendo este ritmo no morro de São Carlos. Frequentador também da casa de D. Esther, festeira e já acostumada a brincar o Carnaval, onde se realizavam festas de candomblé e rodas de samba. Ela foi fundadora do bloco “Quem Fala de Nós Come Mosca” e em sua casa reúne gente como Roberto Silva, Donga, Candeia e Pixinguinha.”
Paulinho, além do contato com o mundo do choro, na sua juventude frequentava a casa de sua tia Trindade, em Vila Valqueire. Lá brincou diversos carnavais, uma experiência marcante para sua formação como sambista, criando com seus amigos o bloco “Foliões da Rua Anália Franco”. Diante disso a escola União de Jacarepaguá, que era da região, convidou os jovens foliões para integrar seu conjunto, tendo assim seu primeiro contato com uma escola de samba.
Paulo figura importante, extraordinário homem, sensível, mas destemido defensor do povo negro, à frente do seu tempo, brigava pela dignidade e respeito ao sambista. Contribuiu para que o Samba, hoje considerado Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, ganhasse visibilidade. O Professor lutou incansavelmente para mudar a imagem estereotipada e preconceituosa que se tinha do sambista, do malandro e vagabundo, para o artista de respeito. Com Antônio Caetano e Antônio Rufino dos Reis, criou o “Conjunto Oswaldo Cruz”, que depois foi renomeado para “Quem nos Faz é o Capricho”, “Vai Como Pode”. Reza a lenda que um delegado da época, só renovaria a licença para os desfiles se o nome fosse mudado, surgindo então Portela, em referência à Estrada do Portela.
Por intermédio do seu primo Oscar Bigode, em 1964, Paulinho foi apresentado a agremiação de Oswaldo Cruz, daí foi logo incorporado à Ala de compositores. Em 1966, apresentou o samba “Memórias de Um Sargento de Milícias”, escolhido como samba enredo para o carnaval deste mesmo ano, onde a Portela foi campeã.
Em 1937 Paulo foi eleito Cidadão Samba e em 1941, após uma série de shows voltando de São Paulo para o Carnaval, antes do desfile se desentendeu com integrantes da escola e foi aí que deu-se o seu afastamento da Portela.
Paulinho em 1970 compôs “Foi um Rio que passou em minha vida”, que tornou-se o seu maior sucesso e afirmou sua paixão pela escola do coração, transformando a música em um hino de exaltação à Portela. Muitos críticos definem sua obra como uma ponte entre a tradição e a modernidade, um elo do passado com o presente da MPB.
Paulo saiu da Portela, mas jamais sairia dos corações Portelenses e do sambista como um todo. Não a toa em 1984, em uma grande homenagem a Ele e aos também lendários Natal e Clara Nunes, Portela cantava “Contos de Areia”, atingindo seu vigésimo primeiro campeonato.
A bela canção de Francisco Santana e Monarco nos trás a liderança e a sabedoria de Paulo da Portela, o Professor, inspiração para tantas gerações e Genialidade de Paulinho, seu Sucessor e como ele mesmo diz: “Não vivo do passado, o passado vive em mim”, e é com ele que recria e vem nos surpreendendo com sua música. Ao fim das contas, falar de Paulo, de Paulinho, é falar da Portela, falar de uma semente plantada há 96 anos, em que suas raízes que, se hoje são fortes, é porque foram regadas de muita luta, busca de dignidade e respeito.
É falar dessa árvore que deu e dá frutos, vinte e dois campeonatos, que continua sendo regada e preservada nos corações apaixonados de uma enorme e guerreira nação Azul e Branco.