Por Thalita Santos
Ele foi da escola mirim Império do Futuro, mas seu coração sempre pulsou pela a azul e branca de Madureira.
Nilo faz parte do seleto time de mestres que conseguiram chegar ao cargo máximo da bateria da própria escola. Ele nos contou um pouco da sua trajetória.
“Meu cunhado era mestre de bateria do Império Serrano e me levou pra lá, mas todos sempre souberam que eu era portelense. Na época, menor de idade não podia entrar na Portela, então virei catador de garrafas. Entrava na quadra e aproveitava pra ir para a bateria. O dinheiro também ajudava na passagem para frequentar os ensaios.”
Em 2003, Nilo passou a ser diretor de bateria, e em 2006 se tornou mestre. Já são 10 desfiles consecutivos à frente da Tabajara do Samba, sempre buscando manter a identidade da Portela.
“Até hoje a gente tenta resgatar o máximo das características da bateria antiga, claro que com um pouco mais de ousadia. Tentamos manter o peso, a levada da terceira e a caixa embaixo, que tinha 3 rufadas, e hoje colocamos apenas uma, para se enquadrar no carnaval de hoje. Nem tudo podemos mudar, se não tomamos puxão de orelha da velha-guarda, mas a gente tem que acompanhar a evolução do samba, e assim tentamos agradar o portelense, o público e os jurados”.
Nilo e sua equipe, quando planejam o carnaval seguinte, tentam trabalhar em cima dos erros do último desfile, tendo como base as justificativas dos jurados quando não alcançam a nota máxima, sem perder a característica da bateria. Mas não é só a opinião do júri que conta.
“Dependendo da justificativa, eu trabalho em cima para não cometer os mesmos erros. Por exemplo, perdíamos muito em afinação, hoje não perdemos mais. Perdíamos em bossas longas, trabalhamos em cima disso. Mas não posso perder a identidade da bateria. Quando construímos um trabalho, peço a opinião dos segmentos da escola. Se está bom, se pode melhorar, se precisa mudar alguma coisa. Tenho que agradar primeiro a minha escola, e tento aproximar o máximo possível do que os jurados pedem”.
Uma curiosidade: Nilo contou que o agogô, que se tornou uma marca do Império Serrano, na verdade começou na Portela, e ainda se mantém como uma das características que dão a identidade da bateria. O mestre diz que nunca perdeu ponto neste naipe.
“Temos a batida do agogô da Portela. Fazemos um desenho em cima da melodia, sem ferir o samba”.
E sobre os famosos desenhos de tamborim, que vem com um grau de dificuldade acima das alas das outras baterias do Rio e se tornou uma das características da bateria da Portela, mestre Nilo conta como é feito esse trabalho.
“Tem alguns desenhos que as pessoas acham que é difícil, mas que os tocadores de tamborim mais antigos da Portela já faziam antes. Inclusive, os tocadores de frigideira faziam uma batida que hoje fazem no tamborim. Muita gente acha que é algo novo, mas não é. Não perdemos essa essência.
O Raul, atual diretor de tamborim, faz o desenho e apresenta. Se a gente acha que tá muito picotado, ou chocando com a melodia, pedimos pra mudar, mas o grau elevado de dificuldade é permitido. Hoje em dia eles cobram criatividade”.
Sabemos que a bateria da Portela já sofreu com fantasias quentes e pesadas. Para 2016, Nilo está muito satisfeito com a escolha do carnavalesco Paulo Barros para a roupa dos seus ritmistas.
“Quando ele me mostrou a fantasia, eu só disse obrigado. Não tive o que falar. Não vai atrapalhar em nada. O que a gente fizer no ensaio técnico, acredito que vamos fazer da mesma forma no desfile”.
Para o próximo carnaval, Nilo deve reduzir o contingente de sua bateria, seguindo a tendência do carnaval atual, deixando-a mais compacta e melhor para manter o controle.
“A Portela chegou a vir com 320 ritmistas na bateria. Este ano viemos com 300. Eu não posso sair tirando os ritmistas que me viram garoto da bateria. Eles vão parando e eu vou reduzindo. Tem também os ritmistas de fora que nem sempre podem ir e depois param de frequentar. Diminui para 280, mas estou querendo vir com 270 ritmistas”.
Sobre o trabalho com a obra escolhida para embalar o desfile da agremiação, mestre Nilo diz que já acertou o andamento do samba entre a bateria e os intérpretes Wantuir e Gilsinho. É basicamente o andamento característico da Tabajara do Samba, que respeita os demais segmentos, inclusive a velha-guarda. A ideia é começar em média com 146 BPM, que é o momento da adrenalina do início, e depois caindo muito pouco, ficando entre 145 e 144 BPM, na primeira e na segunda do samba, respectivamente.
A bateria vem com 3 bossas, e a hora agora é de limpar os detalhes para melhorar cada vez mais a execução. Mas além das bossas e do seu tradicional ritmo, a bateria da Portela deverá vir com uma surpresa para o público.
“Eu já falei com o presidente e com o carnavalesco, que gosta muito de surpreender. Levei uma proposta e estou esperando para saber se irão aceitar. Está dentro do enredo e do contexto da fantasia da bateria. Nem os ritmistas sabem. Não vamos apresentar no ensaio técnico, só no dia do desfile. Se puder, vamos fazer, e vai ficar legal”, completou o mestre.
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Tabajara do Samba!! Quando passa nos deixa arrepiados! É alucinante!
Grande Mestre Nilo Sérgio, um dos melhores da atualidade!! Sem comentar os prêmios por ele conquistados. Competência, respeito e criatividade,é a sua marca!! Tabajara do Samba é showww
Amooooo
Eu só tenho a certeza que jamais os mestres deveriam mudar a pegada dos surdos e das caixas. Repiques e tamborins, é outra história…uma bossa e outra tudo bem. Acredito que bateria tem que ser como sempre foi e inventar demais, perde a beleza da tradição. Bateria e mestre sala e porta bandeira, já deveriam ter a nota máxima. É uma covardia julgar esses que são os mágica das escolas…
Apesar de uma interessante aguia em azul escuro, de fato as alegorias nao puderam ser reconstruidas a contento e plasticamente a escola realmente nao mostrou muito, o que era esperado. Num desfile que tambem nao empolgou, o destaque foi a sempre firme bateria do Mestre Nilo Sergio.