Acadêmicos do Cubango – Sinopse 2015

CARNAVAL DE 2015

SINOPSE DO ENREDO

Cubango, a Realeza Africana de Niterói

Acadêmicos do Cubango - Logo do Enredo - Carnaval 2015

 

“Uma peculiaridade que eu acho é este nome Cubango. Pelo pouco que nós sabemos, aqui viveram escravos que vieram de uma pequena cidade , de uma província de nome Cubango, na África.” (Sr. Francisco, ex-presidente da GRESA Cubango – Livro o Candomblé e o Lúdico – Maria Alice Rezende Gonçalves)

 

Sinopse


Em busca da ancestralidade africana

África, esse continente que foi o grande berço da humanidade e da civilização, é sem sombra de dúvidas a grande matriarca da comunidade do Cubango em Niterói. Histórias orais revelam que a origem do próprio nome já representa o caminho a seguir na busca de sua identidade no Continente Africano.

A região de Cubango, hoje pertencente a Angola, fazia parte do grande Império Negro do Congo. O império era governado por um monarca, o Manicongo, que possuía uma grande área de influência na África.

Fundado por volta do século XIV, esse Estado centralizado congregava vários grupos da etnia banto. A principal atividade econômica dos congoleses envolvia a prática de um desenvolvido comércio.

O povo deste império tinha características guerreiras, mas também destacavam-se pelo fausto das cerimônias de cortejo, principalmente aquelas que contavam com a presença do rei (Manicongo). Os desfiles eram de grande magnificência e enriquecidos pela música e dança. Estas festividades ficaram tão fortemente enraizadas no inconsciente dos negros escravizados que vieram para o Brasil, que fizeram surgir em varias regiões do país, manifestações folclóricas atribuídas sempre aos cortejos do rei do Congo.

 

A semente germina em Niterói – Quilombo do Cubango

O contato dos portugueses com reino do Congo teve grande importância na articulação do tráfico de escravos para o Brasil. Uma expressiva parte dos escravos que trabalharam na exploração aurífera do século XVII vieram desta região, e os negros eram mais caros por serem considerados mais inteligentes e já possuírem conhecimento de exploração de metais preciosos em solo africano.

Um forte comércio se intensificou entre o Brasil e África. No século XVIII veio a proibição do tráfico de escravos, principalmente pela pressão dos ingleses. Para burlar essa proibição, os traficantes buscaram outras alternativas para continuar com esse vil comercio. No caso do destino Rio de Janeiro, uma das alternativas criadas foi o desembarque clandestino nas praias da região oceânica. fazendo surgir em Niterói um mercado negro de escravos.

Niterói se tornou um entreposto clandestino de venda de escravos, um local de paragem, preparo e engorda dos africanos até o momento de sua venda. Essa clandestinidade do cativeiro trouxe como conseqüência um afrouxamento na segurança, pois não podiam chamar a atenção das autoridades da capital do Império, permitindo assim, que muitos escravos fugissem, florescendo alguns quilombos na região.

A herança oral registrou o fato de ter sido localizado um quilombo na região do Morro do Cubango. Um local de liberdade e onde poderiam cultuar sua ancestralidade, mantendo assim viva a chama da cultura africana. Uma semente que floresceu e se transformou nesse reduto de resistência cultural que é nossa Escola de Samba, e que vai trazer no seu nome toda a força da sua herança africana.

 

Cubango cultua os grandes heróis e os movimento resistência negra!

Neste Quilombo Cubango, a valorização da luta por liberdade e igualdade que aconteceram neste país é nosso estandarte. Saudar os grandes heróis negros que não tiveram medo de brigar por uma vida de respeito, dignidade, igualdade de direitos para acabar com os preconceitos de qualquer natureza, sejam raciais, sociais ou religiosos.

Tais reflexões nos levaram a reverenciar o Quilombo de Palmares, saudando Zumbi, este guerreiro negro que deu a vida pela liberdade e que hoje, é celebrado nacionalmente no “Dia da Consciência Negra”.

O fruto plantado por Zumbi germinou e inspirou diversas lutas pelo Brasil, como a de Negro Cosme na Revolta da Balaiada no Maranhão.

Em Salvador a luta por liberdade e religião, como no caso de Luiza Mahin na Revolta dos Malês, bandeira levantada pelos negros muçulmanos.

A liberdade dos cultos afro-brasileiros com destaque para a atuação de Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá no Rio de Janeiro e em Salvador, influenciou o presidente Getúlio Vargas na promulgação do decreto-lei que proibiu o embargo sobre o exercício da religião do Candomblé no Brasil.

O grande Almirante Negro João Candido, conhecido como Dragão dos Mares, liderou a Revolta da Chibata, onde os marinheiros negros se rebelaram contra os castigos corporais impostos pelos oficiais, exigindo o fim desse martírio.

Abdias do Nascimento, um defensor da cultura e da igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil, como deputado federal foi o pioneiro na defesa dos direitos humanos e civis no Congresso Nacional. Ele apresentou o primeiro projeto de lei propondo políticas públicas de igualdade racial.

Neste grande panteão de heróis, nos falta espaço para saudar tantos guerreiros que se notabilizaram nessa briga em prol dos negros africanos e dos afrodescendentes neste país, e que ainda com certeza, vão ser escritos muitos outros grandes capítulos em nossa história, pois a luta continua. Neste pensamento, nós da Acadêmicos do Cubango, promotora da Cultura Afro-brasileira, estaremos sempre valorizando estas conquistas e lutas em nossos enredos.

 

Cubango é África em Niterói!

Rufam os atabaques, ganzás, surdos e cuícas, numa batida rítmica e astral. É hora da celebração! Evocamos a memória dos ancestrais africanos, fazendo soar pelos toques os cantos guerreiros dos negros pela libertação! Irmanados com a cidade de Niterói saudamos a mãe África! Pedimos a proteção de todos os orixás para a realização desta celebração.

Dos quatro cantos do Brasil convidamos para participar desta festa manifestações folclóricas e culturais perpetuadas pelas tradições africanas. É hora desses filhos saudarem suas raízes que tanto colaboraram para tornar esse país mais rico culturalmente; do samba ao afoxé, do maracatu as congadas, do jongo ao cortejos de Chico Rei, o negro deu festa e vida ao Brasil, mas também mostrou sua força e sua garra sabendo resistir e driblar com sua malemolência os percalços sofridos. Um exemplo que precisa ser sempre exaltado com orgulho e festa!

Somos sim uma Nação mestiça, mistura de muitos povos, mas é inegável a contribuição africana! Negro se fez Rei na cultura, no esporte e na política! Temos hoje, referências de tantos que batalham por um país melhor e mais digno. A luta pelos direitos e o respeito ainda continua viva e necessária, mas hoje, nesse quilombo do samba que é a Sapucaí, queremos te exaltar: Ó África… Grande Mãe!

Seus filhos vem no ritmar da sua mítica magia te celebrar! Hoje somos todos negros e clamamos em seu louvor! Cubango, vestida de realeza africana, faz desse desfile um ato de amor e respeito, e convida o mundo a te coroar, porque tu és o grande berço de civilizações e deuses, de força de trabalho e cultura, a grande Majestade Negra, a Árvore da Vida!

Jaime Cezário
Autor e Carnavalesco

 

Justificativa

O ano de 2015 será para a cidade de Niterói um ano muito especial, será o ano da África. A cidade inteira se vestirá nas cores quentes desse continente para homenagear sua cultura e história. Nós, da Acadêmicos do Cubango, filha legítima da cidade, fomos buscar inspiração para o enredo numa viagem em cima do nosso próprio nome que é de origem africana e nos fez requerer o direito de ser a grande embaixadora deste evento para o Brasil e o mundo.

Mostrar nossas origens na Sapucaí é algo que nos enche de orgulho, pois temos certeza que também é a de milhões de brasileiros que lutam diariamente para construir um país mais justo. Quando citamos preconceito e racismo, queremos deixar claro, que não vamos mostrar isso no enredo. Queremos é banir esses sentimentos da moderna sociedade, e uma das formas pensadas por nós, foi a utilização do veículo escola de samba, para criar um enredo que exalte o orgulho de nossas origens africanas, de nossos heróis negros, de nossa origem quilombola e da festa que a mãe África merece sempre, pois o “negro é lindo!”.

E assim surgiu “Cubango, a realeza africana de Niterói”, um enredo criado pelo carnavalesco Jaime Cezário, mas com a colaboração de inúmeras pessoas conhecedoras da história do negro no Brasil.

Este enredo é uma festa de exaltação ao africano ancestral e os que para cá vieram escravizados, assim como, os nossos heróis e as personalidades afro-brasileiras. O papel do negro na sociedade atual é enorme, ocupando posições privilegiadas no cenário mundial, nos orgulhamos desses filhos da África, mas queremos deixar claro que este enredo é de exaltação aos negros que no Brasil conseguiram mover montanhas contra tudo e todos e lutaram e lutam por um país com mais respeito e dignidade.

Este enredo é para você brasileiro, que como nós da Cubango, tem sua origem miscigenada e que sofre, sonha e luta por um país mais justo e digno onde possamos viver com cidadania plena e sem corrupção. Somos frutos de tantos povos, somos uma mistura de raças, somos brasileiros e nesse carnaval seremos África na Sapucaí!


Jaime Cezário

Autor e Carnavalesco