CARNAVAL DE 2016
SINOPSE DO ENREDONegro, a Cor da Vida |
Origem
Há três milhões de anos, surge na África a mais antiga espécie humana: o NEGRO. Esse nosso ancestral tinha características semelhantes ao Homem Moderno e foi quem criou os primeiros instrumentos de trabalho. O trabalho com as mãos sofisticou sua capacidade de manipulação, estimulando o crescimento do seu cérebro e sua capacidade intelectual, dotando-o de Cultura. Esse Homem Moderno se diversificou muito cedo, quando saiu de seu lugar de nascimento, propagando-se por todo o Mundo Antigo: da África à Europa e à Ásia. Estendeu suas fronteiras em todas as direções, chegando à Austrália e às Américas.
O Homem Natural, do ponto de vista da anterioridade é, portanto, NEGRO. Os outros tipos são, digamos assim, derivados.
Quanto ao local de origem, na África, existem dúvidas, mas são o Vale do Rift e as Regiões dos Grandes Lagos, os locais mais indicados pelos estudiosos. Os recentes progressos nos estudos de DNA confirmam a origem africana da humanidade. Afirma-se, também, que as populações humanas contemporâneas são todas descendentes de uma única mulher, que viveu na África há cerca de duzentos mil anos: a “Eva Mitocondrial” ou “Eva Africana”.
Hoje, o jornalista e escritor americano Paul Salopek refaz a rota desses primeiros Humanos Modernos, que saíram da África para explorar outros continentes há cerca de sessenta mil anos atrás, em uma jornada com previsão de término em 2020.
A história do Negro Africano no Brasil começa em torno de 1538, quando aqui chegaram nos primeiros NAVIOS NEGREIROS, na condição de escravos.
Racismo
Presentes em todos os continentes e apesar da origem comum, os negros são vítimas de estranhamento e discriminação; o racismo marcando as relações entre os seres humanos. O RACISMO surgiu, de um lado, como atitude defensiva, como fruto do medo do desconhecido, uma forma de não se deixar contaminar pelas “maneiras estranhas” (a cultura) e o medo de se perder. Mas, de outro lado, também como uma forma de subjugação de povos conquistados pelos mais poderosos. Uma forma de justificar a dominação de uns pelos outros, através da desvalorização social, cultural e, até mesmo, biológica dos povos submetidos.
Através dos séculos, o RACISMO e o escravismo aparecem de várias formas. Entre populações da mesma cor de pele, como escravismo greco-romano, na escravidão praticada na África e nos Impérios Orientais e, atualmente, o racismo contra judeus (antissemitismo), contra árabes e ciganos, e contra os NEGROS, é claro.
O foco do NEGRO como principal alvo do RACISMO consolidou-se após a conquista das Américas. No Brasil, a partir do século XVI, quando os colonizadores começam a explorar a mão de obra Africana escravizada no lugar da indígena.
O RACISMO TRANSFORMA DIFERENÇAS EM DESIGUALDADE.
Racismo no Brasil
Sabe-se que, no Brasil, o RACISMO acontece desde os anos de 1500, com a exploração dos escravos negros pelos nossos colonizadores. Apesar da resistência secular, o RACISMO acompanha a vida de negros, de índios, de seus descendentes e da população pobre de todas as cores, fazendo vítimas que vão de ZUMBI ao pedreiro AMARILDO.
No RACISMO À BRASILEIRA são, principalmente, a aparência e a cor que contam. O RACISMO é uma construção social e política, e deve ser tratado como tal.
O RACISMO no Brasil está em cada esquina, em casa, no trabalho, nas escolas e faculdades, nos clubes, na intolerância religiosa.
Classificado pelos estudiosos como por não envolver segregação forçada em guetos, escolas, etc. (como no passado dos Estados Unidos e da África do Sul), O “RACISMO À BRASILEIRA” envolve, entretanto, desde o constrangimento às babás para que usem uniformes quando levam os filhos dos patrões aos clubes às famosas “entradas de serviços” para onde sempre é encaminhado o povo negro. Das proibições às meninas de usarem shorts nas escolas públicas (os diretores alegam que as pernas de fora ¨distraem os meninos¨ e que elas seriam por demais sexualizadas – característica comumente atribuída aos negros – e teriam que se ¨dar ao respeito¨) aos trabalhadores demitidos e estudantes punidos por se recusarem a cortar os cabelos ou a abandonarem seus penteados afros.
“Amanhã é dia de branco”; “Fulano é um preto de alma branca”; “Ela é a ovelha negra da família”; “Ele tem um pé na África” – estas e muitas outras frases todos nós já ouvimos de pessoas que não se consideram racistas.
O “RACISMO À BRASILEIRA” também esteve presente na criação do sincretismo religioso, desde o Brasil Colônia, pois a desvalorização e a perseguição ao candomblé obrigou os NEGROS ao sincretismo para pudessem celebrar suas tradições históricas, culturais e religiosas. Mais recentemente, ele apresenta sua face mais perversa nos efeitos, muitas vezes devastadores, da intolerância religiosa. Não se pode afrontar a dignidade da pessoa humana, causando-lhe tratamento degradante que viole a honra e a autoimagem.
Mas o RACISMO está, também, presente na desigualdade de oportunidades sociais, de SAÚDE, HABITAÇÃO, EDUCAÇÃO e TRABALHO para o povo negro. Todas as pesquisas demonstram que os negros e seus descendentes são a maioria da população pobre, moradora de favelas e bairros periféricos – lugares em que as condições de moradia e de saneamento, assim como as escolas, são usualmente piores do que no restante da cidade. Também são os negros os que mais sofrem com o desemprego e com o trabalho precário e sem direitos.
Contudo, talvez um dos casos mais graves de desigualdade seja na SAÚDE, onde a diferença entre a vida e a morte está no cuidado que o Estado dispensa a seus cidadãos. As desigualdades entre negros e brancos começam ainda antes do próprio nascimento (as mulheres negras atendidas pelo SUS/Sistema Único de Saúde têm menos consultas e fazem menos ultrassonografias para acompanhamento da gestação do que as brancas) e se prolongam na falta de investimentos na pesquisa e cura das doenças que os afetam especificamente (anemia falciforme, por exemplo), na falta de atendimento adequado nos hospitais públicos e – muito importante – de amparo para uma terceira idade saudável, feliz e produtiva.
Também a VIOLÊNCIA (social e estatal) recai mais fortemente sobre os negros, sobretudo se jovens. Quantas vezes todos nós não presenciamos, lemos nos jornais ou vimos na TV jovens negros sendo agredidos, perseguidos e mesmo linchados por causa da cor de sua pele? Motivo suficiente para acionar o RACISMO que faz com que os agressores suspeitem que sejam bandidos. O mesmo RACISMO que alimenta as violências e os abusos das incursões policiais aos bairros pobres, favelas e periferias, tornando os jovens negros as maiores vítimas da violência do Estado, na cidade e no país.
Resistência
Onde houver escravidão ou RACISMO, haverá resistência.
A melhor representação da resistência à opressão no Brasil Colônia foi a criação de comunidades formadas por grupos de escravos fugidos, em determinados locais de difícil acesso. A contribuição das mulheres negras foi de enorme importância. Além de cuidarem da casa e das crianças, as mulheres negras combatiam ativamente nas revoltas, chegando até a se constituírem como lideranças nas comunidades que se formavam, os QUILOMBOS. Documentos de arquivos e relatos dos contemporâneos também dão conta da existência de indígenas entre seus primeiros moradores. Das comunidades quilombolas, espalhadas por todo o território brasileiro, 1573 foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares, outras receberam seus títulos, mas uma grande parte ainda está em luta pelo processo de regularização fundiária. Recentemente, receberam títulos o Quilombo da Rasa em Búzios (2005) e o Quilombo do Sacopã (2014) na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
O QUILOMBO DOS PALMARES, criado provavelmente em 1630, foi o mais famoso de todos eles, pela sua duração, resistência, e pela liderança de ZUMBI que, junto à DANDARA, dirigiu PALMARES nos momentos mais dramáticos. As forças chefiadas pelo bandeirante Domingos Jorge Velho destruíram o QUILOMBO e assassinaram ZUMBI, em 20 de novembro de 1695, data que originou o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, aprovado em 1977 em assembleia nacional do MNU (Movimento Negro Unificado). A Serra da Barriga, local dos Palmares, foi tombada no mesmo ano, como sítio arqueológico.
A partir de 1970, surgiram os movimentos negros, como os conhecemos atualmente, mesma época em que tiveram início as organizações e movimentos indígenas. O grupo ¨Resistência Aldeia Maracan㨠tem um papel importantíssimo neste contexto, denunciando o racismo também em relação à população indígena. As resistências negra e indígena estão vivíssimas e é através delas que o Brasil poderá conhecer a plenitude e a sintetização de seu projeto de Nação.
A resistência ao RACISMO continua hoje, cada vez mais forte, nas escolas, faculdades, ruas, favelas, movimentos e associações criados para defender os direitos do povo negro, e também nos tribunais, reivindicando leis e políticas públicas para ampliar a igualdade social, através de saúde, moradia, saneamento e educação de qualidade para todos os brasileiros – negros, brancos ou índios – direitos iguais, em suma. E só assim garantir de fato respeito e reconhecimento ao povo negro.
Brasil sem Racismo
A luta contra o RACISMO no Brasil vem se dando através de movimentos que buscam conscientizar o povo negro para mudar esta realidade e conquistar políticas públicas e direitos que beneficiem os grupos desfavorecidos, promovendo a igualdade de oportunidades no campo da saúde, da educação, da moradia, do trabalho, etc. Apesar dessa luta constante, o RACISMO continua sendo um problema nacional.
E uma das raízes dos conflitos sociais entre pobres e ricos, favelas e “asfalto”, negros e brancos. O país está mergulhado numa onda de violência, fruto das desigualdades raciais e sociais. Algumas políticas de ação afirmativa adotadas pelo governo visam mudar, gradativamente, esta realidade. Entre elas, podemos citar as cotas de acesso às universidades públicas; a obrigatoriedade no currículo escolar do ensino da história e das culturas afro-brasileira e indígenas; o programa de educação escolar diferenciada para indígenas e quilombolas; a reserva de vagas para negros, indígenas e seus descendentes em concursos públicos; projetos de saúde nas comunidades; o veto à redução da maioridade penal; a criminalização da intolerância religiosa.
Contudo, muito teremos que caminhar ainda para construir um Brasil verdadeiramente democrático, em que a cor da pele não defina o destino de ninguém.
O fim do RACISMO trará, para benefício de toda a sociedade, mais igualdade (de oportunidades e de vida), melhor distribuição de renda, menos violência, mais criatividade. Só assim, tratando igualmente todos os seus nacionais – brancos, negros e índios – o Brasil mostrará ao mundo a que veio.