CARNAVAL DE 2017
SINOPSE DO ENREDOZé Kéti… A Voz do Morro Sou Eu Mesmo Sim Senhor! |
JUSTIFICATIVA
Zé Kéti: É uma história de liberdade criativa do nosso enredo “ZÉ KÉTI… A VOZ DO MORRO SOU EU MESMO SIM SENHOR!” é uma afirmação aonde o próprio homenageado vem dizer e afirmar que ele é o samba e o samba faz parte dele e torna possível reviver a vida e as obras deste grande compositor e artista, ao mesmo tempo em que apresenta a própria história do samba. De fato, a história de Zé Kéti se confunde com a do próprio samba, tão forte foi a sua identificação com esse gênero musical. Impressiona a personalidade deste sambista carioca, sua sensibilidade pela vida, sua autenticidade e liberdade diante de tudo e de todos.
Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba
Essa melodia de um Brasil feliz.
Zé Kéti
SINOPSE
Apresento a vocês o samba, meu canto, ritmo e movimentos buscando nas minhas raízes mais profundas e que representa a força que meus ancestrais libertavam de um tambor, sua vitalidade intensa e fascinante, presente nas celebrações e nos rituais. Assim foi ele consagrado na minha mãe África, com o som e musicalidade em homenagem aos meus orixás.
Sua presença pode ser sentida por todos: a partir do momento em que um tambor é tocado, seu som reverbera e mexe com nossos sentidos, pois o coração bate mais forte, a pele arrepia, dá vontade de cantar, de dançar, de ser feliz…
Outros estudiosos dizem que o samba se originou do ritmo africano chamado “Semba” estilo musical Angolano o que significa umbigada em kimbundo.
Mas quis o destino que os ritmos e os sons dos tambores com toda sua energia intensa e vibrante se espalhassem pelo mundo a fora e assim chegou aqui no Brasil, juntos com os lamentos de uma viagem de dor e que não pareci ter fim e o sofrimento dos meus irmãos negros escravizados, e tempos depois foi trocado pelos sons da liberdade, das rezas, em todos os terreiros e quilombos. Na forma de cantos de louvação aos deuses da liberdade.
Tanta energia, intensa e vibrante, esteve presente nas heranças negras das mais diversas etnias que aqui chegaram e fincaram raízes.
Na redenção da liberdade vi os tambores embalarem o canto dos pretos novos livres no Recôncavo Baiano assim nasceu o samba de roda. Mas foi no Cais do Valongo, na Pedra do Sal na minha querida cidade do Rio de Janeiro, que meus irmãos os negros de ganho nas vendas de seus produtos criaram suas rodas de batuque e de jongo, então assim que o samba foi lindamente acolhido nos terreiros urbanos.
As vozes libertas entoaram a reza e as festas lá na Praça Onze, onde se dançava o “semba”, berço da mais pura linhagem negra no coração da capital na casa da baiana chamada Tia Ciata que trouxe da Bahia seus encantos e magias.
No inicio fomos marginalizados e visto com muito preconceito. Mas, por conta de nossas origens negras, mas com garra, com luta e a força que o samba tem, vencemos as barreiras, superamos os preconceitos e conquistamos o Brasil e o mundo.
Por nossas histórias, nossas conquistas, nossas originalidades e por ser um ritmo que traduz o sentimento, o jeito de ser, a essência do povo brasileiro, tornando-se a mais genuína expressão de uma gente alegre e faceira.
O primeiro samba gravado como tal? Foi “Pelo Telefone”. O primeiro desse ritmo que se transformou na “Voz do Morro”. Pelo Telefone o Brasil revela: Eu sou o samba!
E assim cantamos as favelas, os morros, a malandragem, nossos amores e a marginalização.
Entre tantos compositores sou o Zé, poderia ter sido mais um Zé nesta minha caminhada, mais um negro qualquer. Mas, quem teve a bênção de ter Flores nascido e, em nome de Jesus, Nosso Senhor, consagrado, e foi embalado pelas melodias, ritmos e cantorias do meu avô João e meu pai Josué, tive como destino construir poesia e espalhar por este mundo de meu Deus a palavra em forma de canção.
Nasci em Inhaúma terras que já foram sesmaria da antiga Freguesia de N. Sra. da Apresentação do Irajá, depois chamou-se Fazenda de São Thiago de Inhaúma. Vizinho do atual Engenho da Rainha. Terra da nossa Primeira Academia do samba.
Cresci na casa do meu avô, lá pelos lados do Rio da Prata, atual Bangu. Mas foi em Oswaldo Cruz que me fiz sujeito de fato.
Em Dona Clara me aprumei: terra de bambas, da Turma do Muro da Portela, lugar dos maiores versadores carioca. Onde em 1945, passei a fazer parte do grupo de compositores da Portela – escola que mais tarde assumi como minha de coração.
Ensinaste-me que samba bom e bonito tem os pés e o pescoço ocupados e é onde a poesia “se espalha pelo chão”.
Aprendi que o samba haveria de dominar o mundo da maneira mais bela e feliz: como uma bela celebração a partir dos morros, favelas e subúrbios.
Em 1939, fui pela primeira vez ao Café Nice, que era o ponto de reunião da vida artística carioca. Lá conheci várias personalidades. Em 1943, criei minha primeira marchinha carnavalesca: “Se o feio doesse”. Em 1946, Gravei minha primeira composição o samba “Tio Sam no samba”.
Em 1960, conheci Luiz Paulo Nogueira, filho do senador udenista Hamilton Nogueira. Responsável pela revitalização do samba, na época em que surgiu a bossa nova. Então de Zé Quietinho ou Zé Quieto que eram meus apelidos de infância, virou Kéti porque a inicial K do meu nome artístico era a letra que na época era vista como de sorte, nomeava estadistas como Kennedy, Krushev e Kubitscheck. Eu mesmo divulguei a nova versão numa de minhas falas no meu Show no teatro Opinião, estrelado por mim ao lado da querida Nara Leão e do querido João do Vale.
Fui fazer outras artes: Cinema Novo, teatro de protesto, fazer valer ao mundo que o Rio da Zona Norte, dos morros e favelas, ferve em criatividade e tem, sim, senhor, Opinião.
Atento ao meu povo e ao meu tempo, o samba mostrou-se uma verdadeira maneira de me expressar. Cantando principalmente o morro, seus moradores e os problemas do Rio. Não nasci no morro, mas tive a oportunidade de ali conviver por um tempo, ou mesmo sempre freqüentar. Assim, passei a compreender este universo marginalizado. Em minha música “Acender as velas”, por exemplo, denunciei a miséria que matava as crianças, em vista da desassistência e dificuldades.
É claro que hoje o morro não é bem assim. Os problemas são outros. No meu samba “Os Tempos Mudaram”, denunciei a criminalidade, que, aliás, persiste até os dias de hoje.
São muitas obras deixadas por mim, sempre fui sensível e muito ligado ao mundo que me cercava.
Hoje da minha paz celestial vejo que muita coisa não mudou, Esses dois sambas que citei aqui são exemplos disso, mas que dão bem a grandiosidade dessa realidade.
Pelas forças do nosso povo brasileiro, o samba não parou de se renovar e de sempre voltar, cada vez com mais força. Assim também nasceram as primeiras escolas de samba, que passaram a ser a expressão máxima do maior festival de samba no Brasil e no mundo. O nosso samba também está no ritmo envolvente dos pagodes, do partido alto, das rodas de samba!… Seja nos terreiros, nos quintais, nas avenidas, essa força infinita garante: Que o show tem que continuar!
Despertando novas paixões, embalando multidões, levando alegria, magia, poesia a milhões de corações, o samba é forte, é guerreiro… A identidade do povo brasileiro! Eu sou o samba…
E hoje, o tambor do samba é o nosso coração, que marca o ritmo puro dessa contagiante alegria… Afinal, estamos na primeira academia do samba!
A nossa força é a energia que vem do samba!
E hoje para minha grande felicidade me sinto muito orgulhoso por minha história ser contada e cantada na Avenida pela Primeira Academia do Samba, que de certa forma presta também uma grande homenagem ao samba e assim consolidar meu nome com esse ritmo tão mágico e vibrante!
Vem brincar comigo! Sigo pelas suas Ruas, encantadoras ruas, quem sabe atrás de um amor mascarado. Leviano é o amor ausente de amantes.
Por aonde vou?
Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí…
Autoria: Dy Fernandes
Pesquisa e Texto: Dy Fernandes e Rogério Rodrigues