Unidos do Jacarezinho – Sinopse 2017

CARNAVAL DE 2017

SINOPSE DO ENREDO

O Dia em que o Jacaré Comeu a Noite

Unidos do Jacarezinho - Logo do Enredo - Carnaval 2017

 

Era uma floresta encantada, onde os bichos falavam e as plantas e as flores gigantes – e coloridas! – alegravam o lugar. Lá, havia um jacaré que tinha inveja da bicharada que nunca o convidava para as melhores e mais animadas baladas da mata. Revoltado, o todo poderoso, dono do pedaço e mais respeitado do local, do nada, resolve tomar uma decisão: comer o dia!

Resolveu isso só para deixar os outros animais (que não o convidavam para nada) sem a luz natural ambiente, e por pura e simples perturbação!

“- Nhac, que dia quentinho e gostoso.” – Disse o papudo, deixando todos os bichos em um escuro de dar medo.

As borboletas cintilantes foram as primeiras a sentirem a falta do lindo Sol. Formiguinhas que trabalhavam levando folhas para os lares estranharam a ausência da luz e pararam de trabalhar. Depois, apareceram os outros animais reclamando e procurando saber o que tinha acontecido com o dia. De repente tudo ficou escuro e frio. A cobra, a mariposa, o morcego e os besouros apareceram antes da hora para entenderem também o porquê de estar sem o dia e o céu ter ficado tão escuro antes do anoitecer. O sapo, muito inteligente, percebeu que tinha sido uma galhofa do jacaré.

No meio da mata todos os bichos questionavam e se perguntavam pelo fato dele ter feito isso. Quando de repente escutam um estrondoso berro: era o jacaré gritando que o seu estômago estava queimando de dor por culpa do Sol quente. Nesse momento, ele cospe o astro-rei e o dia volta para o céu da floresta!

“- Nunca mais quero saber desse Sol quente dos infernos! Agora eu vou é comer a noite!! Muito mais fresquinha e muito mais gostosa!” – Gritou o rabudo, para que todos ouvissem o seu mais novo desejo.

Assim que ele propagou, a noite foi devorada ferozmente pelo guloso bichano. Ela, linda e fria, junto com a Lua prateada e soberana e suas amigas estrelas cintilantes. Todas comidas, sem dó nem piedade pelo assombroso rabudo.

O tamanduá ficou furioso e convocou outros bichos para uma reunião urgente no clarão da floresta, agora sob a luz do Sol quente.

“- Isso não pode ficar assim, como vamos dormir sem noite? Será que vamos virar zumbis??” – Perguntava a anta falante.

“-Estou muito confuso, não sei que cor eu coloco para entender essa questão!” – Reclamou o camaleão multicolorido, sem saber ao certo que tom de pele ele escolheria com o repentino desaparecer da noite.

“- O pior é que ele comeu primeiro a Lua e as suas estrelas. Depois é que devorou a noite. Dessa forma, a coitadinha, não pode nem se proteger! Sem a Lua e as estrelas para lhe guiar, como ia se esconder do guloso?!” – Falava bem alto a coruja, preocupada já com o seu emprego de guia noturno. Sem noite, a pobre não tinha como trabalhar.

Foi quando o jabuti teve uma brilhante ideia. Ele recolheu pela floresta vários pauzinhos de madeira, e fez com eles grandes palitos de dentes. A ideia era essa: trocar a noite por uma caixa de palitos de dentes.

“- O jacaré adora palitar os seus dentes enormes! Vai topar com certeza!!” E lá se foi o jabuti com sua caixa de palitos de dentes na mão, tentar trocar com o bichano pela devolução da noite, da Lua e das estrelas.

Chegando na beira do rio, ele avistou o jacaré e já foi logo mostrando a caixinha de palitos para tentar a troca.

O jacaré na mesma hora aceitou e entregou para o jabuti uma cesta de palha fechada. Na cesta, o bocudo disse ao jabuti que ali estava a noite guardada. Porém, era só para ele abrir a cesta assim que chegasse no meio da floresta com os outros.

E lá se foi o jabuti, com a cestinha na mão, ao encontro de todos. E quando chegou bem no meio do clarão da mata, abriu a cesta e de dentro saiu uma enorme orquídea azul salpicada de estrelinhas prateadas.

Não era a noite! O jacaré enganou todo mundo! Grande espertalhão.

Os bichos ficaram furiosos e o macaco, o intelectual, teve outra ideia:

“- Vamos todos juntos até o jacaré, logo após o almoço. Vamos cantar uma linda canção de ninar para ele. Quando o bichano deitar ouvindo a cantiga, ele vai dormir rapidinho, pois está com a noite dentro da sua barriga. Nós, então, vamos dar as mãos e vamos fazer uma corda com os nossos corpos. Dessa forma, eu puxo a noite de dentro da barriga e pronto!!” – Disse o animado macaco.

E assim, todos foram ao encontro do jacaré. Chegando lá, o macaco pega a sua viola e puxa uma linda e sonolenta cantiga de ninar. O jacaré, em poucos minutos, cai no sono profundo. Logo todos os bichos dão-se as mãos e quando o rabudo abre a boca, o macaco puxa a noite que vem com a Lua e as estrelas! Mas, de repente, o jacaré abre um olho só e pergunta:

“- Quem está ai??”

“- Somos nós, os guardiões da noite, seu jacaré. Pode continuar a dormir. Tome um copo de água e volte ao seu bom sono” – Respondem os bichos quase todos ao mesmo tempo.

E assim o jacaré volta a dormir depois de tomar o seu copinho de água. Dessa forma o macaco consegue finalmente puxar toda a noite para fora da barriga do bichano!!

Ele ainda abre de novo o olho, toma mais um copo de água e volta a sonhar que está com a noite fria e geladinha dentro dele.

Assim, os bichinhos voltam para dentro da floresta todos felizes e serelepes com a noite, a Lua e as estrelas guiando os seus caminhos e podendo todos dormirem e descansarem sossegados. Sem a perturbação do zangado jacaré e o seu apetite grandioso. Dizem que é por isso que o jacaré até hoje dorme com o papo em cima da lagoa, dessa forma acorda para beber sua água gelada. Ele tem medo que os bichos entrem na sua boca gigante e de novo roubem o que tem lá dentro.

Com isso aprendemos que juntos somos cada vez mais fortes! E que não devemos desejar o que não nos pertence. O que é nosso está guardado e assim será!

 

Baseado no livro “O jacaré que comeu a noite”, 2007, do grande historiador, doutor em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritor brasileiro Joel Rufino dos Santos.

Dedicado ao gênio e querido mestre Oswaldo Jardim. Aquele que fez do lúdico a sua mais perfeita arte, quando poderia ter feito tão somente o óbvio.

 

Pesquisa e texto Eduardo Gonçalves