CARNAVAL DE 2020
SINOPSE DO ENREDOO Rei Negro do Picadeiro |
Nasci livre! (01)
Sou filho do “Negro Malaquias”, sujeito danado de brabo, que caçava os “fujão”da fazenda do sinhô e da sinhá, que até eram “bão”; e minha mãe, Leandra, era cativa de estimação.
Um dia o circo chegou lá na Vila (02), eu levava broa de milho para vender na entrada; tinha uns doze anos e resolvi fugir. O picadeiro representava liberdade, sonho e fantasia. Antes que me esqueça, meu nome é Benjamim Chaves, mas meu pai me chamada de “Beijo”, “Moleque Beijo”.
Parti no Circo Sotero, Lá, a obrigação da meninada, era aprender desde cedo todas as tarefas. Mesmo eu, que era um agregado, aprendi debaixo de castigo, a cuidar dos animais, todas acrobacias e outras coisas mais…
“A mãe da arte de todos os números é o salto” e eu dei um salto na vida. Tem que aprender a cair, pra saber levantar.
Aprendi muito com o “Mestre Severino” e adotei seu sobrenome, agora pode me chamar de Benjamin de Oliveira. Mas entre sonho e realidade, vida de “beijo” é difícil, é difícil como o quê… E de tanto apanhar, fugi de novo. Meu destino era fugir, destino de negro…
Fui atrás de uma caravana de ciganos, mas “quá” (03), “num” é que os “ladino” (04) queriam me trocar por cavalo?
Fui e fui pego por um fazendeiro, provei que era circense e ele me deixou seguir viagem.
E de circo em circo, substituí o palhaço principal, que estava doente, no Circo frutuoso, começando aí minha história…
A noite começava a fervilhar nas cidades grandes, eram novos tempos, teatros, café-concerto, a elite buscava o teatro sério e o “Zé Povo”, o que fosse mais ligeiro, encontrava no circo o divertimento que queriam. “Todo artista tem de ir aonde o povo está!”
Minha popularidade crescia, uma vez até o presidente, o marechal de ferro, Floriano Peixoto, por eu cantar e dançar chulas (05), foi lá me cumprimentar (06).
Na Spinelli lancei a forma de teatro combinado com circo que chamariam de pavilhão. Comédias, paródias e a arte de representar por gestos, sem palavras. Fizemos clássicos, como Otello (07), farsas, melodramas, operetas como A Viúva Alegre (08), até uma paródia de O Guarani (09), que acabou projetado nas telas, o cinema surgia na bela época (10). O primeiro Momo, que seria mais tarde, a representação do “Rei na Folia”, foi pela primeira vez, representado por mim, na minha opereta fantástica O Cupido do Oriente. Assim como inúmeras peças, de minha autoria.
Fui ator, diretor, autor, produtor, dançarino, compositor, cantor (até gravei discos), e palhaço sim senhor! O PRIMEIRO PALHAÇO NEGRO DO BRASIL! E o palhaço o que é? E o que fui? Uai?! Acima de tudo: um artista brasileiro!!!
Abram as cortinas, acendam as luzes, que o show tem que continuar! Respeitável público, minhas senhoras e meus senhores, nessa passarela/picadeiro, o meu querido Salgueiro vai apresentar: Novos Benjamins do circo, teatro, cinema e televisão, com o aplauso “d´ocês”!
Despeço-me com um “Beijo” do “Moleque” e o meu muito obrigado!!!
Carnavalesco
01 – Benjamin Chaves, (Pará de Minas, 11 de junho de 1870 Rio de Janeiro, 3 de maio de 1954) co nhecido com o nome artístico de Benjamin de Oliveira. Ele e seus irmãos nasceram livres, mesmo ele tendo nascido um ano antes da Lei do Ventre Livre, que alforriava auto maticamente todos os filhos de escravos.
02 – Antiga Vila do Patafufo, Cidade do Pará, que em 1921, passa a se chamar Pará de Minas, em Minas Gerais.
03 – Expressão regional. “Mas quá” é usado quando você acha uma coisa estranha.
04 – Ladino Espertalhão; diz se da pessoa astuciosa que age desonestamente.
05 – Chula. Dança popular do Norte de Portugal, de andamento vagaroso, com canto acompanhado por rabecas, violas, guitarras e percussão. No Brasil, se tornou dança típica do Sul do Brasil, introduzida por tropeiros. Dançada em desafio, praticada preferencialmente por homens. A chula tem bastante semelhança com o Lundu sapateado, encontrado em outros Estados brasileiros.
06 – É no circo do Comendador Caçamba armado em Cascadura, subúrbio carioca que o jovem palhaço chama a atenção de um inesperado espectador: o presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.
07 – “Otelo, o Mouro de Veneza”, é uma obra de William Shakespeare.
08 – “A Viúva Alegre”, de Franz Lehár, é uma das operetas de maior sucesso da história.
09 – O Guarani é um romance escrito por José de Alencar e adaptado a ópera por Carlos Gomes.
10 – A Bela Época, também conhecido por Belle Époque é um período que começou no final do século XIX e terminou com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Marca o surgimento do cinema e do telefone. “Era de ouro” no âmbito cultural e científico. A França era o “coração” da Belle Époque Mundial.