CARNAVAL DE 2020
SINOPSE DO ENREDOPinah, a Soberana |
Texto-mestre, ou sinopse
Corre em minhas veias o sangue real africano. E aqui, diante do povo e por ele aclamada, me apresento. Sou Pinah. Sou o rastro. Sou agora porque já foram. Sou herdeira e produto das memórias que por Kalunga Grande navegaram, gritando nos porões. Os homens brancos, no entanto, diziam que elas não tinham valor. E, por não terem valor, mereciam ser esquecidas.
Porém, recordá-las é preciso! Elas são navios das nossas memórias, principalmente as nobrezas d’África que aqui aportaram.
Essas realezas africanas, primeiro, ancoraram como algumas lembranças trazidas pelos escravizados, alguns do Reino de Angola, governado por Nzinga; outros, do Reino de Oyó, governado por Sango histórico. Elas, depois, ancoraram acorrentadas, como Agotime, do Reino de Daomé; como Galanga, o Chico Rei, do Reino do Congo.
Aqui, d’outro lado de Kalunga Grande, essas histórias que navegaram ressoaram feito tambor: som ancestral. No Quilombo de Palmares, governado por Zumbi e Dandara; depois, no Quilombo do Quariterê, governado por Tereza de Benguela e José Piolho. Nos levantes negros, não demorou muito para tambor ressoar, com os Zuavos Baianos, liderados por Dom Obá II; com os Bem-Te-Vis, liderados pelo Imperador Negro Cosme. Na mística das manifestações folclóricas afro-brasileiras, tambor ecoou – e coroou – no Afoxé, Mãe Menininha do Gantois, A Rainha do Trono Sagrado de Oxum; no Baião, Luiz Gonzaga, o Rei Lua; no Maracatu, Maria Júlia do Nascimento, A Rainha Dona Santa. Todos eles tambor, negros novamente no altar.
A nobreza dos meus ancestrais, voz no toque do tambor, fez com que, nos terreiros daqui, nascesse um novo reino com sangue africano. Era o Reino do Samba. Ele, na Pequena África, cresceu embalado no colo da Rainha Ciata.
Com o bumbum paticumbum prugurundum, de Ismael Silva, o Samba abraçou o Reino do Carnaval, vizinho, de muito real valor. Ainda nesse reino, o Samba se encontrou com Zé Espinguela da Mangueira e Paulo da Portela, Reis da Revolução no Reino do Carnaval. Mas a revolução não parou por aí. Do abraço entre o Samba e o Carnaval, nasceram outros impérios, com outros reis e rainhas, de muitas tradições. Inclusive, as do negro falando de negritude do Rei Fernando Pamplona.
Da mente delirante do Rei João 30, da Corte da Academia à Nilopolitana, eu brilhei. Fui uma Estrela Negra da Constelação. Daí, eles fizeram de mim Pinah, a Soberana, sangue azul, cor da nobreza.
E, com o cortejo da Lins Imperial, ornado de Beija-Flores, nunca é tarde para rememorar a tradição da qual sou herdeira.
Carnavalescos: Eduardo Minucci e Raí Menezes.
Pesquisa, texto e desenvolvimento: Mateus Pranto, Mauro Sérgio Farias e Raphael Homem.
Webgrafia e obras consultadas
ALMEIDA, Juliano Nogueira. Negrismo e negritude na história da música popular brasileira: entre textos e canções. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/viewFile/10666/8000>. Acesso em: 13 abr. 2019.
ARAÚJO, Hiram. Carnaval: seis milênios de história. Rio de Janeiro: Gryphus, 2003.
DINIZ, André; MEDEIROS, Alexandre; FABATO, Fábio. As três irmãs: como um trio de penetras “arrombou a festa”. “A Cinderela Negra que ao príncipe encantou”. Rio de Janeiro: Nova terra Editora e Distribuidora LTDA, 2019.
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MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
Pinah e Selminha Sorriso falam da posição feminina no carnaval. Disponível em: <https://youtu.be/E_8l9NhvfdY>. Acesso em: 13 abr. 2019.
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