Por Thalita Santos

 

Cria da União da Ilha, com um estilo ousado e ao mesmo tempo clássico, tendo como referência os mestres mais antigos do carnaval, Riquinho assumiu ano passado a bateria “Tabajara” da Academicos de Santa Cruz. No último carnaval, a bateria já apresentou uma diferença dos anos anteriores. O mestre gosta do andamento mais atrás, mais ou menos 144 BPM, mantendo a cadência. Aos poucos está conseguindo colocar a sua cara na bateria da verde branca da zona oeste.

Riquinho, mestre de bateria da Santa Cruz (Foto: Divulgação)

Riquinho, mestre de bateria da Santa Cruz (Foto: Divulgação)

“Eu gosto de ser muito ousado. Não gosto de ir pra avenida e passar em branco ou fazer coisas repetidas. A bateria tá bem ousada, tá compacta. Padronizei a batida de caixa e a levada das terceiras. Os instrumentos hoje tocam como se fossem um só para que o jurado escute uma coisa só.”

A bateria ainda não está do jeito que o mestre deseja, mas trabalha firme a cada ano pra que seus objetivos sejam atingidos.

“Ainda não consegui deixar do jeito que eu quero porque é um trabalho a longo prazo. Tem deficiência de material humano. Várias baterias sofrem com isso, nenhuma sai com 100% dos ritmistas da casa, e se você não tem a ajuda de amigos das outras escolas você não consegue colocar uma bateria na avenida. Lá não é diferente. Continuando o trabalho, com mais 2 anos eu consigo colocar a bateria do meu jeitinho.”

No último carnaval, dos 270 que desfilaram na bateria, 150 foram da casa. Graças ao trabalho da oficina de percussão, essa quantidade deve aumentar, indo para 200 ritmistas da escola.

“Tem que ter renovação. Se nós não formos buscar ritmistas nas favelas, nas comunidades, nós vamos perder a garotada para o funk. Nada contra o funk, mas as crianças e adolescentes que moram em comunidade, só escutam funk e acabam indo para o funk. Se não fizermos um trabalho social, se não abrirmos espaço, se não buscarmos, nós vamos ficar sem bateria. É fundamental toda escola ter uma escolinha, se possível, uma escola mirim, pra garantir o futuro do samba. No projeto que estamos fazendo, estamos formandos muitos ritmistas bons de caixa e de marcação, está sendo bem aproveitado.”

Sobre a padronização das batidas de caixa, Riquinho escolheu colocar todo o naipe tocando a batida reta embaixo.

“No momento eu ainda preciso de ritmistas de fora. Tenho muitos amigos no mundo do samba, graças a Deus. Da União da Ilha que é a minha casa, da Tijuca, da Rocinha e de outras escolas. Muitos tocam a batida de caixa em cima e outros embaixo e na hora não fica uma coisa só, então resolvi colocar a batida reta, universal, que todos conhecem.”

Para o carnaval 2016, Mestre Riquinho quer ousar trazendo uma surpresa. Podemos dizer que ele vai tentar fazer uma bateria retrô, colocando couro em todas as caixas e repiques.

“Meu presidente já me chamou de maluco. Eu quero ver se consigo trazer pra avenida aquele som da bateria gostosa de antigamente.

Vou fazer um teste antes num campo aberto pra ouvir a sonoridade que vai dar. Vou pedir ajuda dos mestres daquela época, Paulão, Bira, Odilon, para saber como se afinava, como se colocava um bordão. Infelizmente eu não peguei essa época.

Espero que essa ideia de certo e agrade a todo mundo. Tirando boas notas, torço para que algumas baterias façam isso nos próximos anos, seria muito bom para o carnaval do Rio de Janeiro.

Já os tamborins, ele disse não não vai mudar. “Não vou colocar, vou deixar como tá. Vai ficar bem agudo pra dar a diferença na bateria.”

Sobre o samba, Riquinho diz que foi escolhido o melhor e está satisfeito com o trabalho junto ao carro de som.

“O entrosamento bateria e samba está perfeito. O andamento tá por volta de 142. Na parte do samba que fala sobre a flecha, podem observar que vai ter uma surpresa na avenida.”

E o mestre ainda completa:

“Podem esperar uma bateria ousada e cadenciada, com um ritmo gostoso de samba enredo. Uma Santa Cruz que ninguém nunca ouviu, com todo respeito aos mestres que passaram por lá. Vamos vir com uma bateria bem diferente do que já passou na avenida.”

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