G.R.E.S. ARRANCO DO ENGENHO DE DENTRO |
Sinopse 2008 |
JUSTIFICATIVA "Desde a mais alta antiguidade a dança esteve sempre presente. Entre os povos não letrados existe uma série de danças, como as de caça, de máscaras, guerreiras, nupciais, de iniciação, fúnebres, medicinais, de colheitas, religiosas, lúdicas, etc. As manifestações populares tradicionais, representadas através das danças e músicas folclóricas, são mantidas pela tradição e transformadas pela dinâmica cultural. Por sua pluralidade cultural representam a fé, a religião, a vida cotidiana, as diferenças étnicas, a relação do sagrado-profano e acima de tudo, a identidade cultural do povo no qual está inserida. No Brasil, onde cerca de 500 danças diferentes foram assinaladas, desde os rincões gaúchos às selvas amazônicas, a diversidade cultural extrapola fronteiras geográficas. Desta forma, uma mesma manifestação pode ser encontrada em diversas regiões e pode ser representada em diferentes épocas do ano com variações locais quanto à sua expressão coreográfica, rítmica e funcionalidade. Os passos, o gestual, as expressões corporais sagradas e profanas de nossas danças, compõem um conjunto de coreografias que traduz, expressa e recria a alma coletiva do povo brasileiro. Com o enredo Andanças e Folias, o G.R.E.S Arranco do Engenho de Dentro quer registrar valores da nossa cultura na dança onde encontramos, em constante mutação, uma mistura incomum de marcas da colonização européia com elementos indígenas e africanos."
SETOR I "A dança é a mãe de todas as linguagens." Muitas danças com devoções religiosas foram trazidas pelos portugueses e ficaram presentes em nossa sociedade. A Folia de Reis é uma dessas danças religiosas, e chegou ao Brasil no século XVIII com a finalidade de divertir o povo, mas passou a ter um caráter mais religioso. Um grupo de cantadores e instrumentistas percorre a cidade entoando versos de porta em porta em busca de oferendas. A Folia do Divino foi instituída pela Rainha D. Izabel, e veio para o Brasil no século XVI. Sua importância chegou a tal ponto que o Imperador escolhido para presidir a festa, passou a gozar de privilégios majestáticos. Também de devoção religiosa temos o Terno de São Benedito (acontece durante a procissão e festejos à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia) e a Dança de São Gonçalo (diz a lenda que São Gonçalo a organizou para reabilitação das prostitutas, com as quais dançava a noite toda e, no outro dia, extremamente cansadas, não pecavam). É considerada dança de votos de solteironas que desejam se casar.
SETOR II "O corpo diz o que as palavras não podem dizer." No início de nossa colonização, a Igreja desenvolvia planos ambiciosos de evangelização da América Latina. Nessa cruzada ao Novo Mundo, os padres jesuítas desempenharam um papel importante na tentativa de implantar uma sociedade estruturada com base na fé católica. A música e a dança foram muito exploradas como estratégias pedagógicas, e de comunicação, para transmitir a mensagem cristã aos índios. Assim surgiram latentes várias danças como o Sairé: a mais antiga dança da cultura popular da Amazônia que resiste há mais de 300 anos, mantendo intacto o seu simbolismo. Manifestação característica da herança indígena, os Caboclinhos contam durante o Carnaval as glórias dos nossos antepassados. Calcadas, sobretudo na visão de um "índio idealizado", o Caiapó e a dança do Carimbó - a mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense criada pelos índios Tupinambás - apresentam incomparável valor folclórico. Na Dança das Máscaras, os índios Carajás do rio Araguaia, representam animais, com máscaras por eles criadas, mas não são imitações do animal. O que se representa, é apenas indicado por uma propriedade, um ornamento ou uma pluma.
SETOR III "E que seja perdido o único dia em que não se dançou." A dança no Brasil é uma dessas coisas espetaculares. É como o céu que fica tão carregado de estrelas que dá a impressão que não vai agüentar tudo! Cada estrela cadente enorme, riscando o céu de alto a baixo, vagarosas, bem distante do compasso das danças que vemos por aqui. Nessas danças, temos a influência de vários povos que marcaram a nossa história. Dos portugueses nós herdamos o Tamboril, a Ciranda, que é uma dança típica das praias de Pernambuco e as Pastorinhas. Dos franceses herdamos a Quadrilha e os Fandangos com passos e marcações inspirados na corte européia e que continuam a animar nossos bailes e festas populares. O Frevo nasceu das marchas, maxixes e dobrados. As bandas militares do século passado teriam dado sua contribuição na formação do frevo, bem como as quadrilhas de origem européia. As influências européias também despertaram a criação do Baião e do Xaxado, que é uma dança criada no Sertão pernambucano, muito praticada pelos cangaceiros da região, como comemoração de vitórias. O nome é devido ao barulho das sandálias dos cangaceiros contra a areia do sertão. O Baião teria nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem lundu na zona rural do Nordeste estruturando-se em seguida como música de dança. Esse gênero foi muito divulgado pelo trabalho de Luiz Gonzaga. A Dança Pau de Fitas é uma tradição milenar originária do meio rural que aparece em alguns países como a Espanha, Inglaterra e outros da Europa. Como dança dramática o Bumba-meu-boi adquire através dos tempos, algumas características dos autos medievais. Ao espalhar-se pelo país, o bumba-meu-boi recebe outros nomes, ritmos e formas de apresentação. Dessa forma, também o encontramos como Boi-Bumbá ou Pavulagem; Boi Calemba ou Bumbá; Boi de Reis, Boi Surubim e Boi Zumbi; Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar; Mulinha-de-Ouro; Boi de Mourão ou Boi de Mamão; Bumba ou Folguedo do Boi; Boi-de-Reis e ainda Boi de Jacá e Dança do Boi.
SETOR IV "E a dança que danço,não me dá descanso, Os africanos, que aportaram aqui na condição desumana de escravos, prestaram significativa contribuição à construção material do Brasil. A cultura africana também agregou aos elementos nativos uma força própria, que se faz sentir com vigor na música, na dança, e no comportamento do povo brasileiro. Uma das mais antigas e belas realizações do alto espírito de criatividade do povo africano, a "Dança do Lundu", tendo o amor sensual como motivação, foi proibida durante anos em virtude de exagerada deturpação que a tornou obscena. Alguns núcleos de escravos, continuaram a cultivá-la e nas últimas décadas do século XIX, deu origem à primeira dança urbana genuinamente brasileira - o Maxixe. Os Congos ou Congadas denunciam influência africana. São lutas de africanos, buscando sua autonomia contra os portugueses. Não foi, contudo, importado da África. Surgiu no Brasil, invenção dos escravos negros e que depois originaria o Maracatu (termo africano que significa dança ou batuque, no qual um grupo de adeptos sai fantasiado às ruas para fazer saudações aos orixás, em um cortejo carnavalesco onde cruzam as ruas dançando). Surgidos em 1885 e considerados as mais antigas entidades a participarem do Carnaval, o desfile dos Afoxés é ritmado pelos atabaques, agogôs e xequerês. São entidades carnavalescas que usam trajes de inspiração africana e se apresentam cantando e dançando no ritmo "Ijexá". O Samba de Coco é uma dança cuja origem está associada à formação de quilombos, onde se reuniam os negros fugitivos das senzalas, já o Jongo formou-se nas terras por onde andou o café. Estruturado em torno de uma fogueira que ajuda a manter a afinação dos tambores, acontece hoje em praças públicas e é uma dança do mesmo tronco do Batuque: ambos ancestrais do Pagode e do Samba. O samba é um símbolo da identidade brasileira e construído por uma cultura popular que o legitima. "Ele não é nem do morro, nem da cidade -- como diz o samba de Noel Rosa. É brasileiro." Dele, surgiram o Samba-enredo, de partido alto, Samba-canção, Samba-exaltação, Samba de breque, Samba de gafieira e o Sambalanço. O samba se harmonizou no bater dos tambores. Misturou-se, se enriqueceu, se ritmou e, então, ficou mulato assim, extasiando as multidões. Hoje é um forte traço de união. É linda a sua história. E a história deste samba é a mesma história desta Nação. E como é bom sambar, descontrair nos carnavais, pular nos blocos, nos
salões, na emoção que faz chorar, faz sorrir, faz sofrer, e faz vibrar. Severo Luzardo
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