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G.R.E.S. ARRANCO DO ENGENHO DE DENTRO

Sinopse 2009

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"O ARRANCO É TODO AMOR..."

 

JUSTIFICATIVA

Era o tempo dos deuses... Havia uma civilização onde a harmonia e o amor reinavam. Afrodite, deusa da beleza e da paixão sexual. Eros, deus do amor e do desejo. Uma civilização onde os seres possuíam quatro braços, quatro pernas, duas cabeças e dois troncos distintos, um deles feminino e o outro masculino, mas com apenas uma alma...

Essa harmonia provocou a fúria de outros deuses que enviaram uma tempestade com relâmpagos e trovões... Afrodite e Eros tentaram lutar, mas foi em vão. Cada relâmpago que caía na civilização atingia um ser, separando a parte feminina da masculina e dividindo sua alma ao meio...

Muitos se perderam, muitos ficaram sozinhos, mas conseguiram sobreviver. E até hoje vivem na luta e na busca de sua outra metade, a Alma Gêmea.

No Carnaval 2009, a Escola de Samba Arranco do Engenho de Dentro desfilará na avenida esse desejo natural e incontido do ser humano se relacionar.

O amor e a paixão serão retratados, em contextos de paquera, namoro e casamentos reais ou imaginários, baseados no afeto permanente ou no descompromisso sadio de apenas "ficar".

Com o enredo "O Arranco é todo Amor", mostrará a busca da felicidade e outras emoções que se expandem e transbordam, que não se explicam nem se justificam, uma vez que, conforme Machado de Assis, a melhor definição de amor não vale um beijo.

A proposta é acompanhar o cupido em uma breve viagem, ao longo de todos os tempos, para conferir de perto os acertos e estragos de suas flechadas.

O cupido, um menino angelical e travesso, de cabelos encaracolados e asas será o símbolo da determinação do Arranco, que com amor e paixão, tem escrito sua trajetória de luta, colocando na avenida expectativas, sonhos, impressões e estratégias de expressão e aproximação, tal qual um coração apaixonado conquistando o seu alvo.

Severo Luzardo Filho
Carnavalesco

 

Setor I - AMORES MITOLÓGICOS

A viagem do cupido inicia no Olimpo, morada de todos os deuses. Encontrará Afrodite, Vênus, Eros e outras divindades em uma representação simbólica. Assim como os demais deuses, eles servirão de exemplo e norte para o restante da humanidade, nos seus ideais de beleza e paixão, amor e desejo. Cupido presencia o episódio da tempestade, que dá início ao princípio das almas gêmeas e renova ali sua grande missão.

Cupido, equivalente em Roma ao deus grego Eros, andava sempre com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. Teve um romance muito famoso com a princesa Psiquê, a deusa da alma.

Vênus estava admirando a terra quando avistou uma bela moça chamada Psiquê, uma moça muito bela e não gostava de perder em matéria de aparência, mandou seu filho Cupido atirar uma de suas flechas de amor em para ela se apaixonar pelo homem mais feio do planeta.

Quando anoiteceu, Cupido foi até a casa de Psiquê, entrou pela janela avistou um rosto perfeito, esticou o seu arco e quando ia soltar a flecha, Psiquê moveu o braço, e Cupido acertou ele mesmo. A partir daquele instante Cupido ficou perdidamente apaixonado pela jovem.

No dia seguinte foi falar com Zéfiro (o vento oeste) e pediu para que a instalasse num lugar magnífico: o Palácio de Eros.

Toda noite Cupido vinha ver Psique, mas em uma forma invisível.

Certa noite eles se encontraram e se amaram, mas quando Cupido adormeceu, Psiquê pegou uma lamparina e acendeu-a, e quando ela viu o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros, ficou encantada. Mas num pequeno descuido ela deixou cair uma gota de óleo no braço do rapaz, que acordou assustado e, ao ver Psique, desapareceu. O encanto todo acabou.

Desconsolado, Cupido voltou para o Olimpo e suplicou a Zeus que lhe devolvesse a esposa amada. Então Zeus a transformou em imortal.

Nada mais se opôs aos amores de Cupido e Psiquê, nem mesmo Vênus, que ao ver seu filho tão feliz se moveu de compaixão e abençoou o casal. Seu casamento foi celebrado com muito néctar, na presença de todos os deuses. As Musas (jovens encantadas, que eram acompanhantes do deus Apolo) e as Graças (jovens que representavam a beleza que acompanhavam a deusa Vênus) aclamavam a nova deusa em meio a cantos de danças. Assim Cupido viveu sua imortalidade com o ser que mais amou.

 

Setor II - ETERNOS NAMORADOS

O segundo momento da viagem do Cupido encontra parada nos romances históricos, como o de Cleópatra e Marco Antônio. Cercados de poder, os namoros históricos eram concebidos para aumentar prestígio e domínio, unindo famílias e nações, não importando se existia ou não carinho, amor, paixão, nem se esses sentimentos poderiam vir a ser desenvolvidos ou não.

Na história da humanidade existem grandes provas de amor.

O monumental Taj Mahal encerra uma das mais fascinantes.

Em 1632, o imperador mongol Shah Jahan mandou erguer em Angra, na Índia, um mausoléu de mármore e pedras preciosas em homenagem à amada, Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz a um filho dele.

Romeu e Julieta é seguramente uma das maiores obras da dramaturgia mundial. Fora traduzido para vários idiomas. Há centenas de adaptações teatrais e cinematográficas da obra e inúmeras são também as inspirações musicais sobre este drama. O drama shakespeariano nasceu clássico, com um sentimento amoroso tão admirável e poético.

Chica da Silva, a Bela e a Fera, Dona Flor e seus dois maridos na literatura brasileira, Pierrô, Colombina e Arlequim, e Orfeu Negro nas tramas poéticas do carnaval... A história da humanidade está repleta de namoros, reais ou fictícios, que serão eternizados.

Celebrizados pela literatura e pelo cinema, esses contos mostram que a beleza está no coração (muitas vezes solitário e escondido por trás de um semblante feio e amargo).

Demonstram que o amor traz liberdade, produz novos conceitos, desafia tradições, lança mistérios que nunca serão esclarecidos, atravessa os tempos, leva a crer no conceito de almas gêmeas, inflama-se em sensualidade.

E que também deixa as pessoas mais passionais, incorrendo em intrigas, incertezas, demonstrações de coragem, explorando os conflitos entre o desejo carnal e o amor espiritual.

 

Setor III - ROMANTISMO, FASCÍNIO E FETICHES

Olhos que brilham, mãos que suam, corações que batem mais aceleradamente. Conferindo de perto histórias românticas, o Cupido descobriu em sua viagem que estar apaixonado ou amando alguém (e ser correspondido), significa viver mais alegre e intensamente. Que para agradar o(a) companheiro(a) e expressar interesse usa-se da criatividade e se cria artifícios para declarações mais efusivas ou delicadas. Entram em cena cartões, cartas perfumadas, serenatas, flores e bombons. Ninguém se preocupa com o quanto pode receber, mas sim com o quanto pode dar. Nem registra erros. Nem arquiva mágoas. Tem vontade de ajudar e estar sempre por perto. Sente a química do toque, que parece inesgotável.

Descompromissado e feliz, o Cupido viu com bons olhos o fato de simples mortais, através de suas flechadas, transformarem-se em fervorosos poetas. Gostou mais ainda de ver escritores, músicos, profissionais de todas as estirpes, descobrindo que construir em letras, declarações de amor, nem sempre é tarefa simples. Isso porque as palavras costumam ser temperamentais. Às vezes se entregam sedentas; outras fazem charme, querendo ser seduzidas. Geralmente quanto mais se precisa delas, traem sentimentos e intenções. O esforço resulta soberano, testando-se versos, rimas, e pondo à prova criativa e literária, prosaísmo apaixonado, veracidade de sentimentos.

É quase um suplício gramatical, onde o sujeito e predicado nem sempre se unem num verbo bem conjugado.

O Cupido viu o poder do prazer, que desafia costumes, atravessa a história, foi ao inferno e voltou.

Escutou a canção do amor de iguais.

Viu que os afetos aumentam nossa capacidade de existir e que, como diz um provérbio italiano, a cama é a ópera do pobre. Ou ainda, citando Sabino de Campos, em qualquer âmbito, clima, latitude ou longitude, onde houver a efervescência dos sexos, também haverá o amor, que é a mais suave poesia da vida e da glória da natureza.

Lingeries provocantes, sessões de strip-tease, roupas minúsculas, perfumes afrodisíacos que lembram folhas de outono. Momentos de pecado, lábios carnudos, pernas dengosas, explosão dos sentidos, dos desejos, bocas, peles e cheiros, espartilhos, chicotes, olhares lânguidos...

Do fascínio das letras e fetiches chegamos ao fascínio do místico, do sobrenatural, da consulta às cartas para se saber do amor eterno, da cigana que lê a sorte, dos horóscopos, dos mapas astrais. Tudo o que pode dar uma ajuda na busca da alma gêmea, até mesmo invocar a dourada Oxum, deusa do amor.

 

Setor IV - QUERO FICAR COM VOCÊ

Se o amor é um jogo que duas pessoas jogam e ambas ganham, como disse Eva Gabor, o Cupido viu de perto os estragos e derrotas causados por suas flechadas inconseqüentes. Pelos cantos, vertendo-se em lágrimas, viu gente se perguntando o que seria pior: ser traído ou amar sem ser amado?! Ouviu grito de lamento, completamente mudo, das almas solitárias, com olhar estático e distante, na direção do infinito. Viu que dor de amor é mal que não se evita, que não se corta, mal que não se doma. Quando acontece, rouba, furta, toma toda alegria que num peito habita.

Viu saudade, nostalgia do que foi e que talvez nunca mais será, sensibilidade aflorada, cicatrizes abertas, amargura. E se surpreendeu com o número expressivo de pessoas dispostas a não mais se entregar ao amor: fãs da contemplação, do querer sem se aproximar, do medo de se machucar.

Também viu pombos-correio cruzarem os céus carregados de esperanças, de poesia e de sedução nas conquistas esperançosas de amores que deixaram de ser platônicos.

Em seus passeios pelos relacionamentos mais modernos, o cupido visitou corações solitários que atravessam madrugadas em frente a tela fria e impessoal de um computador. Ele viu internautas conectados a novas infovias da paquera e da sedução, amantes virtuais que transformam nicks, e-mails e gifs animados em artifícios de conquista.

Viu homens e mulheres, de todas as idades, expressando seus sentimentos em bits e bytes e levando foras cibernéticos. Nos chats e cadastros de namoro online, o cupido viu, em linguagem de última geração, uma forma reconfigurada de dizer: quero ficar com você.

E se até Dom Pedro ficou com a nação brasileira, porque então a nação não ficaria também?

Se foi apenas um contato informal no supermercado, na caminhada matinal, na danceteria durante o fim de semana, ou ainda na reunião de condomínio, não interessa. Se foi uma reunião de negócios, uma solenidade oficial, um curso importante para o futuro de nossas vidas, também não interessa. Se será paixão, ou apenas entusiasmo da mesma forma não interessa. Importa que eu encontrei um tu, que refletiu em mim, que me fez pensar em nós.

O tempo não é passado, nem futuro, é presente. Você é meu presente. Deixe-me mostrar o quanto podemos dar certo, arranhando o céu com a ponta dos dedos de tanta felicidade.
 

Severo Luzardo Filho
 

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