"O VENTO
CORTA AS TERRAS DOS PAMPAS. EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO
GUARANI - SETE POVOS NA FÉ E NA DOR... SETE MISSÕES DE AMOR"
Na infinidade dos céus,
luziu a claridade da grande estrela.
Era a anunciação da luz mensageira.
A luz em forma de menino.
A fonte que fez cintilar a igualdade entre as raças e juntou a mirra, o
ouro e o incenso em louvor ao soberano do reino dos céus.
E a luz se fez homem.
O tempo passou. O império das trevas se fez anunciar e a noite se
sobrepôs ao dia... Reinou a escuridão.
O homem ergueu fabulosos templos e bordou com o mais rico metal. Mas,
sem seguir os ensinamentos do Bom Pastor, afastou-se da caridade
perfeita, a inspiração eclesiástica.
Os cataclismos da inquisição pareciam jogar, definitivamente, por terra,
os últimos vestígios dos herdeiros do Trono de Pedro.
Numa Europa decadente, protesta o rebanho de uma igreja de controvérsias
e, com a reforma de Lutero, a mais sólida instituição do mundo, oscila
em suas próprias raízes seculares e, só não cai, porque o bafejo do
Senhor ainda alimenta.
Se fazia necessário substituir as almas dissidentes e arrebatar novas
ovelhas para um rebanho disperso.
Bem-aventurado sejas, Oh! Mundo Novo!
Sinais de um novo tempo a se descortinar.
As terras conhecidas estenderam-se para o ocidente desconhecido. E para
lá seguiram os missionários da esperança cristã, que levavam a missão de
restaurar a fé perdida e pregar por recantos insólitos os ensinamentos
do Rio dos céus.
Através dos princípios da Companhia de Jesus, Deus desceria novamente
até os homens, envolvendo-os na paz de sua glória infinita.
Sul da América do Sul, o vento corta as terras dos pampas e o índio
guarani é o senhor do seu tempo; tempo que trouxe os padres jesuítas e
que se encarregou de multiplicar o gado e "civilizar" o índio em nome do
Criador.
Ergueu-se ali, em território bravio, um verdadeiro império da opinião.
Um Reino da fartura e do bem estar coletivo, que gerou Sete Missões de
Amor.
A fama das Missões, também chamadas cidades perfeitas ou o novo paraíso,
cortou as terras dos pampas e despertou a insanidade do sertanista
bandeirante, que surgiu sorrateiro, ávido pelo mesmo gado e pelo mesmo
índio civilizado.
Mas, aquelas terras tinham dono e da coragem do guerreiro manifestou-se
a resistência: louvado seja. Sepé Tiarajú que, com a própria vida,
defendeu as Missões e a nação Guarani.
A ação missioneira que pretendemos mostrar não poderia, dessa maneira,
decifrar-se unicamente na apreciação dos monumentos que se adivinharam
nas fantásticas ruínas das Missões, nem nas estátuas ou na coleção de
peças dessa origem recolhidas aos museus.
Faltar-lhe-ia alguma coisa.
E esse seria a própria alma que vitalizara esses mudos atestados de um
mundo diferente em que palpitava a vida em gestos admiráveis de fé, em
vibrações inspiradoras e fortes.
E os gestos de fé e de amor para superar a dor, fizeram dos índios e dos
jesuítas, imitadores do próprio Cristo crucificado.
A paixão de Cristo parte foi de noites sem dormir, parte de dias sem
descansar, e tais foram suas noites e seus dias.
Cristo despido e eles despidos.
Cristo sem comer e eles famintos.
Cristo em tudo maltratado e eles maltratados em tudo.
Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de
tudo isso se compunha a imitação daqueles almas.
Cabe hoje, a todos nós, tocados pelos ventos do passado e embalados
pelos ventos do presente, preservarmos as brisas que estão por vir; Com
a alma guarani, nos tornamos verdadeiros guerreiros, defensores da nossa
cultura, carregando nos próprios ombros as pedras e tijolos que manterão
firmes os alicerces das nossas raízes e erguer, com o suor da nossa
memória, os templos indestrutíveis da nossa história.
História de fé e dor;
De lutas e batalhas sangrentas, mas acima de tudo, de infinita
resistência.
História de um povo, sobretudo forte e que se somando a tantos outros
vindos de várias partes do mundo, fez triunfar no sul do nosso
território, um Brasil de diversos sotaques, de variadas cores e
múltiplos sabores.
Ah! Brasil da arte de misturar.
Benditos, somos nós, frutos do vosso ventre de glória eterna.
E abençoado és teu solo, "em que se plantando tudo dá".
Laíla, Cid Carvalho, Fran-Sérgio,
Shangai e Ubiratan Silva
Comissão de Carnaval
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