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G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS

Sinopse 2007

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"ÁFRICAS: DO BERÇO REAL À CORTE BRASILIANA"

 

Voa Beija-Flor em seu sonho alado, a cintilar na imensidão do universo de Olorum e faz rufar tambores ancestrais, explodindo em luz como sopro divino da mágica da criação. E no espaço disperso, abrindo caminhos de Legbará, no vento, nos leva na viagem do tempo ao berço real da humanidade, Baobá da vida no esplendor de seu despertar.

Resplandece qual visão aos olhos do imenso infinito e traz Oduduá, iluminado mito, unindo quatro elementos para dar forma e movimento a obra de Obatalá. Da vida em transformação, faz surgir o mundo, a África, a majestade viva, fervilhante dádiva, diva sob o sol dourado coroada de poder e nobreza, soberana mítica e mística altiva alteza, coberta pelo manto ébano da noite, na pele negra de seus filhos e com a cabeça erguida, ungida do axé dos orixás.

Hoje o samba vem mostrar seu legado e faz do pranto lembranças distantes, das lágrimas, pérolas e diamantes, do sofrimento e da resistência, o seu rico tesouro.

Vem transformar o banzo, o sentimento acorrentado num elo forte de ouro, uma aliança com Aruanda, da trajetória dos tumbeiros, criar uma odisséia de bravura de quem venceu o inferno mar, na travessia da Calunga levar uma oferenda como quem se entrega ao destino no doce abraço de Iemanjá e no violento jogo do oceano, uma dança a cada onda, vislumbrando no horizonte a esperança de outra África por encontrar.

Que se abram os braços do Brasil, os portões das senzalas, pequenas Áfricas de quintais; que se iluminem os terreiros à luz da "Lua de Luanda" para reinarem na noite seus bravos guerreiros que sob o braço do açoite não se curvaram jamais. Que se torne a luta pela liberdade, a volta por cima da capoeira e que o ferro que marca e fere, forje a África brasileira.

Ave Bahia! Na graça de todos os santos da África pois o sangue e o suor te fazem sagrada e as correntes do cativeiro te bordam um manto de fé, com a nobreza de princesa de Nação Nagô, de alma africana livre, embalando o berço do Candomblé.

Que se faça aportar Mina Jeje à Cidade dos Azulejos, tão azuis quanto as águas profundas desse grande mar, Agoê revolto que separa as terras de Agongolo, dessa África de cá. Que faça morada dos espíritos, dos tambores da noite e da realeza de Daomé, que seja o trono místico da escrava-rainha, essa ilha África imaginária, a terra da encantaria, dos Voduns, da feitiçaria, das divindades da terra e do ar. O gomé do gentio, a corte do além, impregnada de magia e transbordante de fé.

Que venha nos mostrar as trilhas ocultadas nas brenhas das matas dos "Cafundós" do Brasil, os caminhos de determinação e coragem, da fuga para a libertação. Ser mais um quilombola guerreiro nas Áfricas deste sertão, formando assim um grande exército, uma livre nação, guardiã de Zumbi dos Palmares, anjo negro, rei da luta e rompimento, consciência e razão.

Louvado seja "Galanga do Congo", negro Francisco, Chico-Rei, escravo das minas dessa Vila África, Rica. Que o ouro guardado em seus cabelos venha coroar de fato a sua africana realeza e que ele venha dourar também a liberdade de tantos irmãos de seu sangue nobre, que o pranto derramado no templo da escravidão se transforme em rosário de lágrimas de alegria ao lavar suas almas com a consciência negra, o orgulho, sua eterna alforria.

Abençoado se torne esse novo mundo, o grande reino de todas as Áfricas a desfilar seus cortejos, seus reinados e reisados, sob o céu protegido por Deus em seus diversos nomes. Que em seu solo venha brotar uma árvore vida, de raízes que se entrelacem e unam novamente suas partes, que a sua sombra abrigue a lembrança, como dança, que em sua volta bailem: Afoxés, Jongos, Maculelês e Caxambus, que a sua copa se torne a grande coroa da Congada e que seus ramos formem nações de frutos-reis e de flores-rainhas de livres e lindos Maracatus.

E pousa enfim de seu vôo, minha escola majestosa, nesta "África Pequena" que a gente do Rio resolveu assim batizar. Terra dos "Zungus", do "Rei das Ruas", do "Príncipe Negro", Dom Obá.

Oh! Cidade Maravilhosa, do Samba, da "Rainha Ciata"e dos bambas, de tantas Áfricas a reinar. Receba, assim, Mãe soberana, a reverência de todos os súditos dessa Corte Brasiliana e permita que a mais bela entre todas as Áfricas de Samba, a Princesa Nilopolitana, como Beija-Flor te beijar.


Alexandre Louzada, Fran Sérgio, Luiz Fernando "Laíla" Ribeiro do Carmo, Carlos "Shangai" Fernandes e Ubiratan Silva

Comissão de Carnaval 2007

 

JUSTIFICATIVA:

Celebrar a África é, acima de tudo, um momento de memória, o resgate da herança que vem reafirmar o nosso compromisso genético.

É um instante precioso, de lembrança ao povo brasileiro mestiço, esse povo brasileiro que é também africano.

É uma exaltação a todos que viveram o horror do cativeiro, mas que não se deixaram aprisionar o espírito, a alma africana, a fibra que une o indivíduo à ancestralidade.

O objetivo, porém, foge da narrativa do sofrimento vivido nas terras de escravidão; o avesso dessa história vem coroar a majestade africana.

Falamos não apenas de uma África, este enredo faz emergir muitas Áfricas, cacos de um mesmo pote que na diáspora ocorrida nas travessias dos tumbeiros, vieram se espalhar pelo novo mundo e que nessas terras de exílio, os filhos e filhas da África-Mãe tiveram que colar, juntando fragmentos das suas e de outras Áfricas originárias, pincelando com tintas e vernizes dessa nova terra, criando assim novos potes, novas Áfricas.

Assim como quartinhas, nelas foram guardando suas identidades tribais, suas crenças, costumes, lembranças, ferramentas da reconstrução de suas humanidades.

Mostramos em desfile a África-Mãe e sua gênese, a realidade e a realeza e outras tantas Áfricas realizadas, onde, de uma forma ou de outra, existiram reis e príncipes, rainhas e princesas, de reinados e reisados, de cortes e cortejos.

Por isso, a Beija-Flor que é, uma entre tantas outras pequenas Áfricas, vem tecer o fio da memória, evocando sua ancestralidade para unir dois mundos: - Á África real e a Corte Brasiliana.
 

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