G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS |
Sinopse 2011 |
E lá vou eu, bem longe, além do horizonte, vivendo esse momento lindo, a reconstruir meu castelo de sonhos entre emoções, como quem chora sorrindo. Olha dentro dos meus olhos e vê quanta lembrança que na distância do tempo guardei. Ah! Como o tempo passa, é como se o trem que me trouxe, voltasse e dissipasse a fumaça, e eu então retornasse pras coisas que eu deixei. Meu pequeno Cachoeiro, essas terras entre as serras, doce terra onde eu nasci, te confesso, você é a saudade que eu gosto de ter, e que mora pra sempre em mim; é como sentir você bem perto, é como estar desperto pra ver tudo igual como era antes, que nada se modificou, e ouvir de novo as águas cantantes do meu Itapemirim. E é assim que o pensamento voa, vagueia assim, à toa, e até parece que eu voltei... Voltei a ser criança, a ser "Zunga" outra vez. Ah! Sentimento bem vindo... Vejo o meu cachorro me sorrir latindo, estou em frente ao portão, eu voltei, pra viver o sonho mais bonito que um dia alguém já sonhou, e sentir que o sol que atravessa essa estrada jamais se apagou. Me vejo menino, correndo aos braços de minha mãe, pro seu abraço, e no carinho e afago, me envolver num laço, e adormecer, como sempre eu fazia. Olhar meu pai, e seus cabelos brancos, seu rosto marcado, à disfarçar o cansaço com um sorriso franco das verdades da vida e ouvir as suas histórias, lições que me fizeram crescer e, do jeito simples à esconder as dificuldades, tentando encher minha vida de fantasia ao enfeitar as coisas que eu via. Ah! Quem dera... Poder fazer desse tempo, uma eterna primavera, desabrochar em flor pra sempre, o flamboyant no meu quintal, e deitar à sua sombra, e sentir aquela brisa mansa, que sopra enquanto lança o perfume do laranjal. Vai e vem na minha mente, esse vento do tempo, e traz as ondas do rádio que um dia me embalaram ao som de tangos e boleros, velhos tempos... Belos dias... Onde o meu sonho crescia nas cordas de um violão. Hoje relembro e refaço aquela despedida, nas lágrimas soltas na estação, a partir na promessa de uma volta, como todos que um dia se vão e assim, na lembrança, colar os cacos do meu coração, me redimir e repartir essa dor e a saudade, nos versos de uma canção. Assim, como naquele dia, eu me vejo, com aqueles olhos tristes, porém cheios de esperança, buscando encontrar à sorte, todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, e me deixo levar em ritmo de aventura, nas batidas do meu coração, igual a quando aqui cheguei, nesse Rio de Janeiro, no seu abraço aberto, hospitaleiro, na transviada inquietude daquela louca juventude, que andava na contra-mão. Até parece que foi ontem... Aquelas tardes de domingo, de guitarras eletrizantes, que ecoavam como o ronco barulhento dos carangos, incendiando a multidão; era um ritmo alucinante e quente, o rock in roll envolvente, uma brasa a aquecer meu coração... E eu que sempre fui tão inconstante, te juro, bicho, me rendi àquela paixão... E não adianta nem tentar esquecer, o que durante muito tempo em minha vida passou a viver... Eu me lembro com detalhes, a velha calça desbotada, a jaqueta encouraçada e a brilhantina no cabelo. Meu mundo girava no vinil da vitrola, vivia voando no meu carro, à 120 por hora, a velocidade andava junto a mim, e sem saber quando, nem pra onde, me levava ao espaço, como "Sputnik" pelo ar. Nas curvas e esquinas da vida, encontrei amigos, parceiros da mesma viagem, e seguimos juntos a mesma estrada, como bons companheiros, amigos de fé, irmãos camaradas, que eu não esqueço jamais. Aquele era o meu momento, nascia um novo tempo, agitando o mundo ao som do Iê Iê Iê, e com ele, um movimento: a Jovem Guarda, que assim, como do nada, me coroou o seu rei. E eu então, me perguntava: - Que rei sou eu? Que rei que nada... Eu sou terrível! Um lobo mau, um negro gato de arrepiar, talvez um gênio... Nem pensar! Basta ver os erros do meu português ruim... Avancei sinais, vivi em festas de arromba e, pra conquistar garotas, dispensei meu cadilac, me rendi à um calhambeque, fui o bom no Splish Splash dos beijos roubados no cinema, de garotas papo firme, namoradinhas dos amigos e dos brotos no portão... Foi quando me lembrei do passado, do romântico apaixonado que eu era, do meu velho violão, e da simplicidade de dizer 'Eu Te Amo' com a voz do coração. Assim então, assumi meu reinado e proclamei, como um brado à esquecer a
tristeza e ter a certeza de que a felicidade um dia vem, que daqui pra
frente, tudo vai ser diferente, e que eu quero que vá tudo... Tudo pra
quem ama com ternura, tudo, pra tudo que se quer bem. Senti então, que esse amor fala uma só linguagem, e faz o sonho
acontecer... E assim, contei histórias de romances, de amadas e amantes,
o amor infinito, puro, sem medida, incontido; sentimento sem dia, sem
hora ou lugar pra nascer, o que não sai de moda, é moderno, mesmo que
seja à moda antiga, é eterno, um constante amanhecer. Desvendei caminhos, procurei atalhos, como a abelha necessita de uma
flor e na sede de amor, bebi das paixões desenfreadas, por metáforas
descrevi o côncavo e o convexo, o sexo como cavalgada. Me vi em
desalinho, a fazer ninho nos lençóis macios, a deixar marcas sem me
importar com a desordem de tanto amar, entre os botões que se desatam e
se abrem em braços que se abraçam e se enlaçam no céu do êxtase, mudando
estrelas de lugar. Fiz da canção a passageira no táxi das nossas ruas; no campo foi ela a companheira, tangendo em moda de viola, nas veredas desse sertão, e fui presente na saudade que roda e rola no coração disparado, no pára-choque estampado, todo dia nessa estrada, a contar horas de ansiedade na boleia de um caminhão. Fiz da minha voz, um grito de alerta à consciência dos seres humanos a
zelar pela natureza, e usei a poesia em defesa do céu, da Terra e do
mar; fiz chegar àqueles que estão surdos, a mensagem, que o progresso,
às vezes absurdo, tantos males nos traz, e que é preciso saber viver,
que a razão precisa entender enquanto há tempo e passar a seguir o
exemplo: ser civilizado como os animais. E por fim, essa fé que me faz otimista demais, me fez subir a montanha,
à dispor do alto, minha voz à voz de Deus, a fazer do meu cantar, uma
oração para a humanidade, a descobrir no verbo, a sua essência e sua
verdade, a tornar-me um instrumento mensageiro de paz e de boa vontade. São tantas emoções já vividas, detalhes de uma vida, histórias que eu contei aqui. E se hoje você me faz seu enredo, é talvez, a maior das emoções dessa minha vida, a qual, com palavras, não sei dizer, mas quero sim, abrir meus braços num abraço e em suas asas, Beija-Flor, me entregar e agradecer, e assim poder definir com singeleza, como é grande o meu amor por você! E se não há nada pra comparar, deixa o seu samba explicar, esse puro sentimento, que só o coração pode falar. Agora eu sei o que é ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar... Canta Beija-Flor! Pois seu canto acenderá ainda mais essa chama, essa aura azul e branca que te encanta, que te dá força, fé e esperança, que ilumina o sorriso de suas crianças, anjos de guarda da sua herança, essa luz que cobre como um manto essas "nossas senhoras", Marias, mães baianas do samba. Que os céus as abençoem, e que derramem por todo o seu povo essa luz que do amor emana e inflama o mundo através da nação nilopolitana, uma luz divina e que assim se traduz: Uma luz que nos une e se funde numa só luz, que nos traz a simplicidade e a paz do verdadeiro Rei, a paz do Nosso Rei Jesus.
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