C.C.E.S. CANÁRIOS DAS LARANJEIRAS |
Sinopse 2006 |
CARYBE, artista plástico de renome internacional, nascido HECTOR JÚLIO PAREDE BERNABÓ em 1911 na Argentina, viveu a infância na Itália, percorreu toda a América do Sul para finalmente radicar-se no Brasil onde se naturalizou em 1957. De uma versatilidade impressionante, suas obras tanto pinturas como desenhos, esculturas e talhas, que se estimam em cerca de 5.000 trabalhos, constituem um currículo invejável, com incursões em ilustrações para livros, trabalho de publicidade em jornais, e um sem numero de quadros expostos em galerias, bienais e salas especiais diversas espalhada no Brasil e exterior, com murais realizados os aeroportos de New York e Londres. Mas foi na Bahia, introduzido a convite no governo Octavio Mangabeira em 1954 para desenhar cenas do cotidiano baiano, que Carybé encontrou sua terra, a sua gente, o seu lar, o seu destino. Identificando-se de imediato com o povo, Carybé nunca mais deixou a boa terra. Como ele próprio se expressava, a Bahia tem tudo que um pintor procura, luz, água, mar aberto, corpos morenos e exuberantes, sempre em movimento. Não havia como ficar parado, esperando um estalo de criatividade, pois a arte fluía livre nas festas populares sacras ou profanas, na alegria dos festejos, logo traduzida em traços simples, quase esquemáticos, perpetuando as imagens da Bahia. Para melhor retratar o espírito dos baianos, seus costumes seus tipos populares, Carybé passa a viver intensamente a cultura afro-brasileira. Deslizando pela rampa do mercado, próximo a praça Cayrú e ao elevador Lacerda, seu olhar vagueia pelas calçadas e suas barracas, seus montes de frutas suculentas, o forte cheiro de comida misturado ao perfume de azeite de dendê, onde as baianas mercadejam no tabuleiro os quitutes tradicionais, o acarajé dourado, o abará misterioso ou o caruru de S. Cosme. Do lado do mar a vista da Bahia de Todos os Santos onde sobressai a forma circular do velho forte de S. Marcelo. Centenas de saveiros com suas velas coloridas estão fundeados no cais do quebra mar. Mais tarde,eu maravilhoso traço simplificado em poucas linhas fixa o imenso quadro de vida que é a rampa do mercado. Irrequieto, curioso, esse "gringo arretado" filho amado da Bahia, visita as grandes praias para assistir a pesca do Xaréu. Observa cerimoniais dos pescadores de hoje que remontam as tradições de seus antepassados. Essa revivescência de ritmos africanos com expressões de dança, poesia e canto dos pescadores negros da Bahia na puxada do Xaréu oferece a seus olhos o precioso material folclórico para seus desenhos inigualáveis. Uma festa de poesia com cantos de trabalho árduo de suor e luta, os cantos diversos que acompanham a pesca, alguns muitos remotos, em língua africana, que terminam sempre com uma saudação a Rainha do mar, são verdadeiras sinfonias a seus ouvidos, e levam para sua fértil imaginação os esboços iniciais de seus futuros desenhos. Assim era Carybé. Percorrendo as ruas tradicionais, descendo e subindo as ladeiras da velha S. Salvador, Carybé se depara deslumbrado com o imponente conjunto arquitetônico do Pelourinho, onde pontua no meio da praça a igreja de N. Sr3 do Rosário dos Pretos. Antigo lugar de castigo dos condenados a açoites públicos, hoje apenas reflete na beleza de seu casario, nos velhos sobrados do tempo do Imperador, as lembranças românticas da humanidade baiana. Nada escapa aos pincéis de Carybé. Seja na feira de Água de Meninos, ali ao pé da Igreja do Pilar, entre as suas centenas de barracas típicas abastecidas^pelos saveiros de nomes curiosos, ou na festa de lemanjá no dia 02 de fevereiro no Rio Vermelho de baixo, lançando nas águas verdes os barquinhos com as oferendas tradicionais de perfumes, espelhos, jóias e flores, lá estava Carybé, atento, observador, a beber avidamente os motivos para seus traços e desenhos. Pois até entre os capoeiristas - não fora ele próprio aluno do mestre Pastinha, a aprender nos toques de berimbau S. Bento grande e pequeno, ou no toque de cavalaria a distinguir entre as chulas de fundamento - lá estava Carybé a aumentar o seu já vasto número de figuras personagens típicos de seus inúmeros desenhos folclóricos. Mas não eram apenas os festejos profanos que o atraiam. Mais ainda os religiosos o arrastavam para as festas do Bonfim, com sua tradicional lavagem da igreja pelas baianas com água de flores após a procissão, ou para a magnífica comemoração ao redor da igreja da Conceição da Praia, como carinhosamente é conhecida a basílica de sua devoção, onde não faltam as deliciosas comidas de azeite e os saborosíssimos abacaxis do recôncavo e as suculentas melancias, tudo acompanhado pelo samba de roda, entremeado com os jogos de capoeira. Mas mais forte ainda foram os temas de origem africana, as solenidades do candomblé, culto pelo qual se apaixonou. Inspirado na cultura afro-brasileira, freqüentador assíduo dos terreiros baianos, Oba de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé como ninguém os deuses africanos e seu culto na Bahia. Grande parte de sua vastíssima obra versa sobre cenas de candomblé. No seu próprio dizer: "sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos". Aos 86 anos, tendo preservado como ninguém através de sua obra os valores do candomblé na Bahia, Carybé, - não poderia ser diferente -morreu do coração durante uma sessão na casa da qual era Oba de Xangô, o He Axé Opô Afonjá. Carybé, argentino de nascimento, italiano de formação, e brasileiro de coração, foi e será o mais baiano de todos os artistas da boa terra, de tal maneira que será impossível separar os dois vocábulos que se completam: BAHIA DE CARYBÉ.
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