G.R.E.S. ACADÊMICOS DO CUBANGO |
Sinopse 200 5 |
Apresentação O Carnaval do Rio de Janeiro tem sempre exaltado as tradições afro-brasileiras com sua religiosidade e os diversos tipos de colaboração e influência em nossa cultura. Ritos, costumes e tradições da Mãe África foram assimilados pela cultura brasileira e hoje, fazem parte de nosso dia a dia, muitas vezes sem percebermos. Em um país eminentemente católico, herança de nossa colonização portuguesa, os negros africanos conseguiram ludibriar a fiscalização de seus senhores de engenho, através daquilo que aprendemos a chamar de sincretismo que é a associação dos deuses da África aos santos católicos. Os portugueses no seu processo de distribuição de escravos, inteligentemente separavam etnias e tribos, numa verdadeira diáspora pelo território da colônia, para, que não formassem nenhum tipo de associação e assim, iniciar um processo de rebeliões e fugas. Uma vez que os portugueses sabiam que estes escravos, na grande maioria, eram de tribos inimigas. No entanto esta perda da liberdade serviu de elemento comum de unificação do negro neste país, inimigos na África, unidos pela dor e pela fé no Brasil. Na religião fundiram-se costumes, tradições e deuses a forma de culto que ficaria conhecida como Candomblé. Muitas etnias vieram para o Brasil. Na região da Bahia a mais influente delas foi a Yorubá, conhecida, também, como Nagô, cujo modelo de culto influenciaria as demais e será o objeto maior de nosso enredo. Este enredo narra a saga iniciada na África há algumas centenas de anos e "transformada" pela fé no Brasil culminando com a criação do primeiro terreiro de Candomblé em Salvador, na Bahia de todos os Deuses!
Jaime Cesário Sinopse África, terra de deuses e mistérios, onde o "criador" "Olodumaré" busca entre seus filhos um homem para fazer florescer uma civilização organizada e próspera, tendo como fé a adoração dos elementos da natureza. A responsabilidade deste acontecimento fica por conta de um príncipe muçulmano de nome Oduduá, que por influência do "criador" adota uma nova visão de fé, contrariando os ensinamentos muçulmanos ao qual foi educado. Oduduá consegue converter muitos à sua nova doutrina, que o acompanham como seus seguidores no momento de seu banimento do reino. E assim, provenientes do norte, caminham rumo ao oeste num período de 90 dias. Oduduá encontra um grupamento de aldeias pequenas e desorganizadas. Utilizando os conhecimentos de administração e força, subjuga as populações das aldeias e funda Ifé, a primeira cidade, iniciando assim, a dinastias dos Reis de Ifé. A expansão do seu Reino coube aos seus netos que herdariam sua coroa, eram eles sete príncipes: Olówu que reinou em Egbá, Onisabe que reinou em Savé, Orangun que reinou em Ilá, Óoni que foi rei em Ifé, Ajerô que reinou em Ijerô, Alaketu que reinou em Ketu e Oranian que reinou em Oyó. Oranian foi o fundador da dinastia dos reis de Oyó. O mito da criação do mundo tal como é contado em Oyó atribui-lhe esse ato a ele e não a seu avô Oduduá. Evidentemente que o mito da criação do mundo é um reflexo da lenda histórica da origem das dinastias e a supremacia alcançada por Oyó sobre os demais reinos, a quem devem pagar tributos e impostos a cidade e vir participar uma vez por ano de uma festa dedicada ao grande fundador patriarca. Esta hegemonia é contada em muitas lendas narradas em Oyó,onde lembram que os demais príncipes tiveram suas vidas poupadas e receberam suas terras por condescendência de Oranian, que tornou-se Rei de Oyó e soberano da nação Yorubá, isto é, de toda terra. A religião yorubana é composta de uma rica mitologia de deuses que representam as "forças da natureza" e cada um tinha seu culto especifico num reino, aldeia ou região. Na África os orixás eram cultuados não em simultaneidade num grande panteão de deuses, e sim, como divindades específicas a um determinado lugar. Existem várias versões dos mitos dos orixás contados na África, alguns incompatíveis, entretanto, a essência pode ser perfeitamente absorvida através desta narrativa que explica a associação das forças da natureza a cada orixá: "Quando o planeta era um vasto oceano e os orixás queriam conhecê-lo, a "terra" foi criada e os deuses desceram do céu para cada um escolher uma parte do mundo que lhe agradasse, que passou a ser seu domínio. Assim, Oxum escolheu as águas doces; Iemanjá as águas salgadas;Iansã quis os ventos; Xangô os trovões e as cachoeiras; Obaluaiê a terra firme; Nana a lama dos fundos dos rios e os abismos; Ogum preferiu as montanhas e os minérios; Ossanha e Oxossi as matas e florestas; Oxumarê o arco-íris; Ewá o horizonte. Apenas Exu não sabia o que escolher, pois tudo e nada lhe agradava. E considerou-se assim dono de tudo um pouco, com que os demais orixás concordaram. Desse modo o mundo foi criado e dividido entre os orixás, e é por isto que cada um detêm o domínio de uma parte da natureza." Assim a semente plantada por Oduduá e Oranian cresceu e floresceu. Na África desenvolveu ricos e organizados reinos que a partir do contato com o europeu no século XVI, foram estabelecidos acordos comerciais na qual o produto a ser negociado é o próprio africano para vir trabalhar no Novo Mundo, como escravo, no processo de colonização das Américas. Surge um período de intensas guerras tribais e desarticulação de muitos Reinos, iniciando um processo de declínio da civilização yorubá. Navios negreiros cortam os oceanos trazendo os filhos da África para a escravidão no Novo Mundo. No Brasil, os filhos da África deixam as desavenças e os ódios de sua terra natal para se unirem pela fé em prol de um bem comum: a liberdade. Transformações importantes ocorrem no Brasil devido a mistura de diversas etnias, tradições e cultos religiosos, ocasionado uma fusão entre muitos orixás. Cerimônias e cultos que seriam assimilados numa única e central forma de preservação com algumas variantes. Um único panteão de deuses estabeleceria os vínculos, cuja forma de culto esta fundamentada na cultura Yorubá (nagô), servindo de modelo às outras etnias, principalmente as localizadas na Bahia - essa é base na qual se desenvolve o que vai ser denominado "Candomblé". O "Candomblé" se torna o fator preponderante de preservação da identidade do negro no território brasileiro, mantendo acesa a ligação cultural e religiosa com a grande "Mãe África". Foi na Bahia, na cidade de Salvador, que surgiu a mais antiga casa de candomblé do Brasil, "a Casa Branca do Engenho Velho", que foi fundada por três tias, Adetá, Iya Akala e Iya Nasó, que tem sua procedência nos Yorubás, de origem Ketu, a quem rendemos nossa homenagem pela luta e determinação na preservação da cultura religiosa, que muitas vezes mesmo sofrendo perseguições das autoridades locais, mantiveram viva a chama do Candomblé. Em nossa homenagem não podemos deixar de citar as figuras de Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois do Terreiro do Gantois; Mãe Aninha e Tio Joaquim fundadores do terreiro Axé Opô Afonjá; Tio Elisio e Martiniano Bonfim do Terreiro Alaketu e Pai Procópio do terreiro Ilê Ogunjá que também são bastiões do "Candomblé" na sagrada cidade de "Salvador de todos os Deuses e Orixás". A força da fé preservou o legado deixado por Oduduá e Oranian e todo valor vigoroso do continente africano. Mesmo sobrepujado por outras Nações, conseguiu abraçar o Novo Mundo, principalmente o Brasil. A força de sua cultura e religiosidade e a união deste povo aqui desenvolvida em prol da liberdade, se torna a principal fonte de preservação dos costumes e tradições de "Mãe África!".
Jaime Cezário |