G.R.E.S. ACADÊMICOS DO CUBANGO |
Sinopse 200 8 |
A identidade de um povo tem e sempre terá sua raiz mais profunda na cultura e na arte. Os Acadêmicos do Cubango, umas das instituições carnavalescas mais empenhadas na conservação de valores de sua comunidade, vêm mais uma vez pontuar o que tem de melhor: "seu chão". Todavia, para abrilhantar a festa, traremos a fundadora da extinta academia de danças étnicas, a bailarina Mercedes Baptista. Mercedes, com seu "balé de pés no chão", vem com toda a comunidade - Morro do Serrão, Mangueirinha, Abacaxi, São Luis e adjacências -"compor com ciência" e afirmar que para se aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar. Quem dança com as idéias descobre que pensar é alegria e quem sente tristeza ao pensar e porque só sabe marchar. Saltar sobre o vazio sem ter medo da queda ajuda a reconstruir um novo olhar sobre nossa cultura e origens... A mãe do balé afro brasileiro vem juntar leves e graciosos passos às danças sagradas dos orixás, e movimentos fortes, ritmados e até hipnóticos aos requebros de nossas mulatas. Os Acadêmicos do Cubango vêm compor uma opera afro brasileira: teremos negros em movimentos, com intuído de subverter uma realidade. Vamos dançar com as idéias e com os ideais. O carnaval, que reflete a pluralidade de nossa cultura, se manifesta envolto na nossa batucada, invenções e inversões da nossa arte popular. Uma escola de samba é forte um produto cultural e pontuou a mistura que no início se deu por curiosidade da classe intelectual. Os sambistas (artistas desconhecidos) experimentavam suas artes, antes confinadas em guetos e comunidades, sem espaços de ações. Hoje, no "maior palco no mundo", com Mercedes Baptista os Acadêmicos do Cubango canta e dança, com orgulho, e mostra que o negro no Brasil faz arte e cultura muito bem! A luta pela defesa da cultura negra despertada pelos estudos antropológicos, etnológicos, etnográficos e sociológicos deflagra o que vamos cantar, faremos coro com Nina Rodrigues, Manoel Quirino, Arthur Ramos, Gilberto Freire, Nunes Pereira, Edson Carneiro e Pierre Fatumbi Verger que discutiram evidenciaram um passo que se tornou efetivo na década de 40 com a liderança de Abdias do Nascimento criando heroicamente o Teatro Experimental do Negro, de onde surgiram vários atores que até hoje brilham com sua arte na TV e no teatro. Paralelamente o grande poeta Solano Trindade fundou o Teatro Popular Brasileiro e, com Brasiliana, correu o mundo revelando grandes artistas. Neste mesmo período o maestro Abigail Moura fez a Orquestra Afro-Brasileira compondo musica erudita fundamentada na cultura negra e nossa divina Mercedes criava seu Balé afro. Através da garra de Mercedes Baptista vamos com cadência traçar um paralelo entre arte erudita e arte popular. Seremos investigadores e produtores de nossa arte. E assim que se faz do Brasil, o Brasil! Os Acadêmicos do Cubango apresentará um grande espetáculo com passos firmes, estabelecendo um dialogo reflexivo com criações artísticas afro-brasileiras. A ebulição social em movimentos e gestos vai fecundar um novo Brasil...
... Mais tropical, mais
fraternal, mais brasileiro.
1º movimento: Devorando sonhos Depois de ser sabotada na prova para participar do teste para compor o corpo feminino de baile do Theatro do Municipal, Mercedes Baptista faz a prova com os homens e foi aprovada em 1948.
Um olhar que vaga entre a
ternura e o medo.
Abram as cortinas do Theatro
Municipal. Com saltos, giros e atabaques Mercedes Baptista faz a evocação
todas as forças e energias para que se façam presentes na noite de magia e
superação. Entrelaçando as idéias, apresentaremos pás de deux e pirouethes ao som de chocalhos, repiques, surdos e tamborins, numa mistura de sons e ritmos que fecundaram novos movimentos compondo assim nosso verdadeiro: samba sinfônico.
Mercedes Baptista, e João Alves de Torres Filho, o famoso "Joãozinho da Goméia" propagou uma justa valorização ao legado ancestral. O Babalorixá ajudou e muito, na divulgação do candomblé, fazendo com que ficassem conhecidos os cultos afros, as manifestações dos terreiros de candomblé evidenciavam o refluxo de filosofia de respeito à natureza e o que há entre ela e o homem. Gomeia impôs, ainda que por meio de suas polêmicas, a divulgação e respeitabilidade ao candomblé, validando-o como produto da cultura brasileira, antes desprezada por falta de conhecimento. Hoje a sabedoria fundamentada nos cultos afros desperta interesse de estudiosos e/ou intelectuais de varias áreas do saber e não é nenhum exagero afirmar que é "negra a verdadeira cultura brasileira". Mercedes Baptista sabia que a dança afro vinha do candomblé este encontro com da Goméia foi fundamental...
A negritude vitoriosa torna
mais efetiva a valorização da nossa cultura. O Jornal, o Teatro, a
Orquestra, a Conferência, enfim, o trabalho erudito fundamentado na
cultura afro-brasileira, dos quais destacamos Abdias do Nascimento,
Abigail Moura, Solano Trindade e nossa bailarina negra Mercedes Batista.
"E a mulata que era escrava sofreu uma transformação"
Lá vem Salgueiro! E vem
chegando a ala dos importantes. O sol já dava o tom laranja na silhueta da
igreja da Candelária e o lendário desfile dos Acadêmicos do Salgueiro
apresenta polca em ritmo de samba e escola que nem é melhor e nem pior,
mas apenas diferente, dar uma roupagem vanguardista ao grande produto da
alma carioca: "o carnaval", que a partir daquele momento fez com que os
foliões deixassem capa e espada e as perucas da aristocracia para
mostrarem o outro lado da nobreza que estava sendo resgatada.
As minhas mãos colocaram
pedras nos alicerces do mundo. Mereço o meu pedaço de chão.
A luta despertada pela
defesa da cultura negra atravessa apoteose e começa a pincelar um Brasil
vencedor. Cores mais reais se misturam ao verde e branco do manto e
evidenciam que uma nação vence quando o respeito esta em vigor. Negros,
pardos e todos os cidadãos, que independentes da raça e da quantidade de
melanina, se destacam na dança, nas artes plásticas, na literatura, na
música, no teatro entre outras atividades culturais.
Wagner Gonçalves |