G.R.E.S. EM CIMA DA HORA |
Sinopse 2008 |
Diz-se que era um dia chuvoso em Portugal e, devido à rapidez com que se decidiu ir embora, foi também um dia confuso. Todo um aparelho burocrático vinha para a colônia: ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários do Tesouro, patentes do Exército e da Marinha e membros do alto clero. Baús com roupas, malas, sacos e engradados seguiam junto com as riquezas da Corte, obras de arte, objetos dos museus, todo dinheiro do Tesouro Português e as jóias da coroa iam sendo colocados nos porões dos navios, bem como cavalos, bois, vacas, porcos e galinhas e mais toda sorte de alimentos. A confusão era tanta que as caixas com os livros da Biblioteca Real (mais de 60 mil exemplares) ficaram no porto, só vindo para o Brasil dois anos depois. Na manhã do dia 29 de novembro de 1807, a Esquadra Portuguesa finalmente partiu do porto de Lisboa com destino à colônia. A população de Lisboa assistia atônita a toda essa movimentação. Não podia acreditar que estivesse sendo abandonada pelo Príncipe Regente e demais autoridades, levando tudo que estivesse à mão, deixando-a totalmente desamparada para enfrentar o exército de Napoleão. Lisboa estava um caos. Junto e sua tropa, apesar de bastante desfalcada, não tiveram problema para dominar a cidade cuja população estava atordoada com o que consideravam uma fuga vergonhosa. A invasão foi conseqüência da aliança entre Portugal e Inglaterra, inimiga da França. Napoleão havia exigido dos países europeus que fizessem um bloqueio econômico aos ingleses, e Portugal rejeitou a medida. A viagem foi difícil. Com naus superlotadas, não havia espaço para todos se acomodarem. Muitos viajaram com a roupa do corpo, pois nem isso pôde ser embarcado, já que a capacidade dos navios há muito havia sido superada. A água e os alimentos foram racionados, a higiene era de tal forma precária que houve um surto de piolhos nos navios, obrigando as mulheres a rasparem a cabeça e a enfaixarem com bandagens, incluindo a Princesa Carlota Joaquina e as demais damas da Família Real e da Corte. Devido às tempestades, as esquadras se separam. A Corte primeiro desembarca na Bahia e, depois, em 7 de março de 1808, no Rio de Janeiro, com todos imundos, fedidos, com pulgas e piolhos. Assim, a população total da cidade, que era de 60 mil almas, das quais 40 mil escravos negros, recebe, só do reino, 15 mil pessoas, além de fortes comerciantes da Inglaterra e França, vários artistas da Itália, sábios naturalistas da Áustria e, da Costa da África, negros de várias compleições. D. João (13/05/1767 - 10/03/1827), 27° rei de Portugal, Duque de Bragança, Barcelos e Guimarães, Marquês de Viçosa, Conde de Arraiolos, é baixo, gordo, bonachão, comilão, sossegado, carola, e só foi rei porque os dois irmãos mais velhos morreram e a mãe ficou louca! Porém, apesar de aparente fraqueza, representa a visão do futuro e vem para o novo mundo, fica 13 anos, e faz o Brasil, que era colônia e vice-reino de 1500 a 1808, virar Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1808 - 1822). Sob pressão inglesa, em janeiro de 1808 abre os portos brasileiros às nações "amigas", num ato que é considerado o início da nossa emancipação econômica. Ainda em 1808, funda o Banco do Brasil para regular a moeda, porém, o desmando é de tal desordem esse emite tanto dinheiro que o lastro de ouro é superado, o dinheiro perde o valor e a respeitabilidade, e o banco fecha as portas em 1828. Mas D. João traz também sua esposa, Carlota Joaquina (25/04/1777 - 07/01/1830), filha de Carlos IV de Espanha e de Maria Luisa, era bisneta de Luís XV, tetraneta de Luís XIV, ambos reis da França, era baixa, feia, disforme, com barba e bigode, sonhava com a grandeza da Espanha e detestava o Brasil, não vendo a hora de voltar para a Europa. D. João e Carlota Joaquina tiveram nove filho, entre eles: um imperador, um rei e duas rainhas. Os moradores da cidade do Rio de Janeiro sofrem com o aumento do preço de tudo e ainda são obrigados a doar sempre, de alimento a tecidos, porque era preciso sustentar o dia a dia da Corte, que era de manutenção caríssima e contínua. Logo que chega, D. João começa a confiscar, sem cerimônia, propriedades particulares para a coroa, a fim de abrigar todos os transmigrados. Para dar moradia a 15 mil nobres portugueses que aqui chegaram, D. João não precisou de nenhum financiamento, simplesmente mandou que os nobres escolhessem as casas que gostassem e estas eram marcadas pelas letras P.R. (Príncipe Regente), e seus moradores tinham um prazo para sair das casas. Os brasileiros revoltados diziam que P.R. significava, na verdade, "Ponha-se na rua". Temendo talvez que a sua propriedade fosse confiscada sem ressarcimento, pois sua casa era grande para os padrões da época. Elias A. Lopes colocou sua Quinta à disposição de D. João, que mandou indenizá-lo e lá foi morar com sua mãe, D. Maria I, mas conhecida como D. Maria "a louca", que mandou, por exemplo, destruir os três mil teares existentes no Brasil e de monopólio da demanda nacional de tecidos da indústria inglesa e quase tornou motivo de rebelião ao tentar proibir a produção de cachaças, para que as pessoas tomassem vinhos trazidos da Europa e assim se civilizassem. Depois de dar casa, era preciso dar emprego a estes nobres. Para isto, D. João criou várias repartições públicas como tribunais, ministérios, a Casa da Moeda do Brasil, a Biblioteca Nacional, a Imprensa Real, o Jardim Botânico, as escolas de medicina do Rio e da Bahia, a Academia Real Militar e a Academia Real de Belas Artes. Houve, sem dúvida, um grande desenvolvimento cultural em nosso país. A vinda da Família Real para o Brasil mudou também a fisionomia do Rio de Janeiro. A cidade que os estrangeiros acharam suja, feia e mal cheirosa começou a se expandir e cuidar da aparência, abrindo-se às moedas européias. Nessa época, foram construídos chafarizes para o abastecimento de água, pontes e calçadas; abriram-se ruas e estradas; foi instalada iluminação pública; passaram a ser fiscalizados os mercados e matadouros, organizadas as festas públicas etc. Essas melhorias eram realizadas, muitas vezes, com a contribuição de ricos moradores que recebiam em troca benefícios materiais e títulos de nobreza do Príncipe Regente. A saída da Corte do Brasil, em abril de 1821, foi tumultuada como a vinda. D. João resolveu levar o dinheiro e o ouro do Banco do Brasil. Nas ruas, o povo cantava: "Olho vivo, pé ligeiro. Vamos a bordo buscar dinheiro". D. Pedro, filho de D. João, que ficou em nosso país como Príncipe Regente, ordenou as tropas que acabassem com o tumulto e impedissem as pessoas de revistarem o navio do rei. Assim, D. João foi embora levando todo o nosso dinheiro e a certeza de que a independência do Brasil era inevitável. E Carlota Joaquina, feliz da vida que ia embora, esfregava os sapatos um no outro e dizia: "Desta terra, não quero levar nem o pó!"
Bibliografia:
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