G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO |
Sinopse 2007 |
Intenção do enredo A grande inspiração sempre acontece quando o nosso tema está ligado aos nossos mais puros sentimentos. Um dos mais antigos e apaixonados motivos que têm movido os homens através da história é o seu chão. "Caxias" será honrosamente o nosso enredo para o carnaval de 2007, e certamente nos trará motivação e garra para conquistarmos nosso sonho maior, sermos os campeões do carnaval do Rio de Janeiro, cantando, sambando e contando a história do nosso querido município, ou melhor, o nosso pedacinho de terra onde nascemos, crescemos, vivemos e do qual temos tanto orgulho por sua posição de destaque no cenário nacional, bem como referência em tantos segmentos de desenvolvimento social, cultural e industrial sempre com responsabilidade. O nosso município criado em 1943, será berço e laboratório de projetos arrojados de vários governos. Este progresso provoca um processo de imigração de mão-de-obra, consequentemente desenvolvido demograficamente a região. Caxias torna-se o retrato 3x4 do Brasil; seu povo luta contra os desmandos, a opressão e também contra a pobreza. Este mesmo povo manterá viva a sua vocação para manifestações folclóricas, buscará em si e nas suas mais variadas manifestações de fé a força para crescer e progredir. Tal qual o país, renasce a cada dia na esperança e na alegria. Como no passado, o futuro nos reserva caminhos e, olhando para frente surgirão meios para construir um município socialmente cada vez melhor e assim somaremos para um Brasil ainda maior. A Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio tem a honra e o enorme prazer de levar para o Carnaval 2007 a sua cidade. Une-se em torno do tema todo o município em um só coração, cheio de orgulho para contar e cantar com toda a garra, a força deste povo que alimentará a nossa refinaria da folia e o nosso combustível será a felicidade. Este enredo traça trilhas e rotas. Redescobre os caminhos que hoje são de progresso e crescimento social. Porque somos Caxias, somos Brasil. Roberto Szaniecki
O ENREDO Primeiro setor - UM POVO FORTE O povoamento da área que hoje constitui o município de Duque de Caxias iniciou-se em 1566. As lavouras de cana-de-açúcar, arroz, milho e mandioca representam a primeira fonte de riqueza, mas a prosperidade inicial terminou na Segunda metade do século XIX. O progresso econômico voltou com as obras de saneamento. A locomotiva passou a ser a melhor opção não só de passageiros mas também para o transporte de mercadorias. A região foi a maior produtora de laranjas do país, o que colaborou para o assentamento de pessoas no local. Nestas paradas surgiam pequenas atividades de comércio, cortadores de lenha, carvoeiros e homens de serviços em geral. O crescimento rápido desta população fez destas importantes estações que serão embriões dos futuros distritos, os quais, mais tarde darão origem ao município de Duque de Caxias.
Em 1942, em pleno Estado Novo, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) implantou suas bases em Xerém, Duque de Caxias. O projeto ambicioso de colonização e desenvolvimento industrial começou com a produção de motores de aviões para fins militares em ritmo intenso a produção dos motores de aviões "Wright" (450 HP), os mais modernos fabricados no país. Era dado o primeiro passo para uma época de ostentação, luxo e crescimento. A eficiência estava em primeiro lugar os operários deveriam se comportar quase como autômatos por causa da rigidez dentro e fora da fábrica, o que funcionou nos primeiros momentos da produção; começava uma nova era na indústria e no distrito. Uma romaria de trabalhadores se dirigiu para a região em busca de emprego na estatal. Nesta época a organização dos operários já era notícia; a rigidez dos primeiros anos dava lugar ao primeiro modelo de sindicato metalúrgico e este serviria como exemplo anos depois para a formação dos sindicatos do ABC Paulista. Na década de 60, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) lançou, em Brasília, o Alfa Romeu "JK" em homenagem ao presidente da República. A venda da estatal para a Alfa Romeu ocorreu em 1968.
A história de Duque de Caxias está diretamente ligada ao crescimento da cidade São Sebastião do Rio de Janeiro. O vai e vem de pessoas pelas terras determinaram várias mudanças no perfil da região. Com a capital inchada, o futuro município recebia as primeiras levas aos estrangeiros, principalmente alemães e italianos. O processo de emancipação da cidade esteve relacionado à formação e um grupo que organizou a União Popular Caxiense (UPC): jornalistas, médicos e políticos locais. Em 1940 foi criada a comissão pró-emancipação. O grande crescimento pelo qual passava Meriti (antigo nome de Caxias) levou o deputado federal Dr. Manoel Reis a propor a criação do distrito de Caxias. Em 14 de março de 1931, através do ato do interventor Plínio Casado, foi criado, pelo Decreto Estadual nº 2.559, o distrito de Caxias, com sede na antiga Estação de Meriti, pertencente ao então município e Nova Iguaçu. Em 31 de dezembro de 1943, através do Decreto-Lei 1.055, elevou-se à categoria de município recebendo o nome de Duque de Caxias. Já a Comarca de Duque de Caxias foi criada pelo decreto-lei nº 1.056, no mesmo dia, mês e ano. Com a emancipação, o município recebeu grande incentivo em sua economia. Várias pessoas, oriundas principalmente do Nordeste do Brasil, chegavam ao Rio de Janeiro em busca de trabalho e elegiam Duque de Caixas como residência. Estes imigrantes foram decisivos para alavancar o desenvolvimento da região por sua imensa vontade de prosperar e as condições lhes pareciam propícias, movendo-os para tal. Apesar de não participar de nenhum movimento pró-emancipação, foi graças à iniciativa de José Luiz Machado, mais conhecido como "Machadinho", que Meriti passou a se chamar Caxias. Morador da localidade desde o início do século XX, "Machadinho" e um grupo de amigos foram à estação de trem, próximo à Plínio Casado, para retirar a placa que tinha o nome de Meriti e trocá-las por Caxias, uma homenagem a Luiz Alves de Lima e Silva, que nasceu na região. Caxias também fez nomes de projeção na política elegendo o primeiro deputado federal da Baixada Fluminense. Seria no município, que Tenório Cavalcanti garantiria seu poder político. Como deputado estadual, o "Homem da Capa Preta" providenciou diversas melhorias para a população local, buscando também instalar os milhares de imigrantes nordestinos que vinham para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. Suas obras políticas renderam-lhe muitos aliados e eleitores pelas favelas de Caxias, apoio este que o levaria a ser eleito deputado federal. Pelos cabos eleitorais, Cavalcanti fora conhecido como o "Rei da Baixada"; pelos rivais, era tachado e "O Deputado Pistoleiro". Devido aos constantes riscos de morte, Tenório e sua família habitavam uma fortaleza na Baixada Fluminense. No entanto, jamais se recusava em caminhar pelas ruas do gueto. Só andava armado e acompanhado por capangas quando estava longe do seu povão caxiense. Uma de suas maiores alegrias era fazer sua célebre festa de Cosme e Damião; para comemorar junto com os seus milhares de eleitores a data que coincidia com seu aniversário, tornando-se um evento aguardado ansiosamente pela população. Quarto Setor - A FÉ DE UM POVO VALENTE A Fé cristã na região vem do século XVI, como podemos conferir pela Igreja do Pilar, construída no mesmo século e importante monumento o primeiro barroco brasileiro. Também as religiões Afro-Brasileiras têm destaque no que tangem suas verdadeiras raízes; exemplo disso vem o Babalorixá Joãozinho da Goméia, que foi intitulado "Rei do Candomblé" na década de 1940 pela rainha Elizabeth da Inglaterra. A partir da compreensão de sua trajetória, entendemos as razões que levaram à proliferação de terreiros de Candomblé e Umbanda na Baixada Fluminense, desde a sua chegada no município de Duque de Caxias em 1946, transformando o município no grande divulgador e popularizador dos cultos Afro-Brasileiros, apontando-nos a validade do Candomblé como produtor cultural brasileiro. Do babalorixá podemos falar que "Seu João" fora um dos mais famosos líderes religiosos em meados do século que findou. A Rua Goméia, em São Caetano, bairro da cidade de Salvador, endereço do seu primeiro terreiro, deu-lhe o sobrenome que carregaria vida afora. Mas foi depois de sua transferência para o município fluminense de Duque de Caxias que sua fama atingiu contornos nacionais. Tanto que a rua onde Joãozinho fundou seu segundo terreiro acabou chamando-se também Goméia em homenagem ao pai-de-santo. Um complexo jogo de continuidades e transferências entre reinos, continentes, estados, nomes de ruas, homens e deuses. Seu "João" foi um dos mais importantes e polêmicos agentes na divulgação dos significados do candomblé ocorrida nos anos 60 na sociedade brasileira, sobretudo por fazer da mídia e das artes suas grandes aliadas. Trouxe para os centros urbanos do sudeste e percepção das vantagens de tornar conhecidos os cultos afro-brasileiros. Inclusive para sua própria defesa. Numa lista, elaborada em 1983, dos 24 terreiros mais antigos da capital e do litoral paulista, oito deles eram de filhos e filhas de santo de Joãozinho da Goméia. Em terras paulistas, a adesão ao rito Angola, praticado por "seu João" foi um caminho quase que inevitável na passagem e muitos sacerdotes da umbanda para o candomblé. Atualmente outras manifestações de fé têm mostrado a sua força na região, os protestantes também demonstram a sua influência em seus ritos envolventes. Pincelaremos tudo isto para mostrar que o Caxiense tem em seu peito a crença e que como já foi provado, o homem de Fé vai longe e esta é uma das muitas virtudes do nosso povo. Quinto Setor - FOLGUEDOS E SUA RAIZ SAUDOSA Caxias segue tradições herdadas de vários povos diferentes que por aqui chegaram. Suas manifestações se misturam e ganham personalidade própria na região. Dentro do ciclo de Natal, segue-se o dia dos Santos Reis, cultuado pelo calendário cristão. Além das homenagens especiais dos grupos de folias de reis, folguedo popular do ciclo natalino presente em todos os municípios fluminenses. É o caso do boi-de-reis, folguedo que se "brinca" no município de Duque de Caxias, desde longa data, formado por um grupo paraibano ali radicado. No mesmo local, costuma-se apresentar um grupo de lapinha também constituído por moças paraibanas ou filhas de nordestinos. Acrescente-se a estes o grupo de reis-do-congo organizado no mesmo município por imigrantes provenientes do Rio Grande do Norte. Os três últimos mantêm a tradição dos folguedos à moda a região de origem, sem incorporação de elementos da cultura fluminense, mostrando sua raiz saudosista. Outros exemplos de festejos se relacionam às festas juninas, cujos grupos de ciranda e de quadrilhas são agraciados com os melhores nas competições que disputam, não só do município como também no estado. Uma das mais curiosas formas de coreografia popular da região, na zona de influência da estrada de penetração para a região Serra-acima (Estrada Velha de Petrópolis) é o calango. O calango, como em geral, acontece nessas designações é baile, dança, canto e música. A "função" parece ser o gênero típico que predomina nessa parte da baixada Fluminense, inclusive está presente em uma das maiores feiras de nordestinos, situada justamente em Caxias. Sexto setor - COMBUSTÍVEL PARA CRESCER A maior refinaria em complexidade do Brasil opera em Duque de Caixas: a REDUC. Foi instalada em Campos Elíseos, 2º distrito, no dia 20 de janeiro de 1961, e foi o terceiro investimento feito pela Petrobrás no país. Produz 52 produtos diferentes decorrentes do processamento de petróleo e gás natural, classificados como combustíveis, lubrificantes, plásticos, parafinas, petroquímicos, etc. A refinaria abastece todo o Estado do Rio de Janeiro, parte de Minas Gerais e, por cabotagem (navios), Espírito Santo e o Rio Grande do Sul. Os produtos brasileiros também atravessam fronteiras, chegando aos seguintes países: Estados Unidos, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia. Duque de Caxias é o segundo maior Município do Estado do Rio em produto, sendo que boa parte dessa riqueza deve-se ao funcionamento da REDUC. Ao longo da década de 80, Duque de Caxias apresentou um crescimento de 32,5%, estreitamente relacionado com as atividades de refinaria. O suprimento de matéria-prima (nafta) garantido pela REDUC facilita a diversificação das indústrias químicas e petroquímicas locais, com destaque para o RIOPOL, indústria de polímeros que hoje atende a grande demanda de plásticos para os mais variados fins, sendo este produto essencial para a fabricação de uma enorme gama de grânulos específicos, o que a torna referência em qualidade e demanda para o território nacional. Outro que receberá matéria-prima da refinaria será o Pólo Gás Químico, ainda em fase de construção, também a maior termoelétrica da região sudeste, que gerará e exportará eletricidade para outros estados, conferindo assim a auto-suficiência de energia ao Rio de Janeiro. Sétimo setor - TERRA DE BAMBAS No esporte somos berços de atletas, principalmente no futebol. Em Xerém, situa-se um dos maiores "Centros de Treinamento" esportivo do Rio. O carnaval tem um capítulo a parte quando trata-se de Caxias. Por ter sido Área de Segurança Nacional, havia uma forte repressão às manifestações carnavalescas em nosso município, o que ocasionou na criação de núcleos de resistência nos terreiros de samba. Blocos e pequenas escolas de samba, no entanto, sobreviveram a esse período e, mais tarde, reuniram-se para a formação da "Grande Rio", fazendo surgir dessa forma, verdadeiros baluartes do chamado Mundo do Samba, como nosso querido Perácio, atual vice-presidente de nossa agremiação. Não esqueceremos de mencionar que a região já produziu e ainda o faz, gente famosa no mundo do samba; preservamos nossas raízes com jovens passistas, mestres-sala e porta-bandeiras mirins e hoje "exportados" também defendem pavilhões de outras co-irmãs do carnaval. Temos ilustres de fama internacional, como o nosso querido poeta do samba Zeca Pagodinho, menestrel de Xerém que leva durante o ano todo o nome de Caxias para todos os cantos do Brasil. Nossos compositores já fizeram parcerias memoráveis, mostrando que aqui também é um celeiro de bambas. Contaremos também as influências das manifestações de rua, que se mantêm vivas com sua poesia e inocência nas ruas do município. Brincaremos com a nossa refinaria criando um paralelo entre o combustível do mercado com o da folia, pois nossa escola além de ser o mais importante ícone da cultura caxiense para exportação de além das fronteiras do município também representa muito bem uma cultura de dimensões internacionais como o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Eis o nosso enredo para o Carnaval do Grupo Especial do Rio de Janeiro em 2007, que o Povo Caxiense terá o maior orgulho de realizar e com a certeza de que, contando com nossa garra e nossa tradição, chegaremos à vitória, através deste tema surpreendente e apaixonante, que estará sendo cantado e contado para o mundo todo através da nossa querida GRANDE RIO. Através de nosso hino, que deverá, assim como a maioria das canções que exaltam nossa terra, nosso chão, ser elaborado em primeira pessoa, ou seja, transformando todos os componentes em um único personagem contando sua própria história.
Roberto Szaniecki |