G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO |
Sinopse 2009 |
No carnaval de 2009 o G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio fará uma homenagem ao ano da França no Brasil. Para tal, nossa intenção é consolidar a relação fraterna entre esses dois países que, ao longo da história, sempre tiveram uma relação próxima, preponderante, entre outras coisas, para a construção da identidade do Brasil como Nação. Os últimos anos, quer seja nas artes, ciência, tecnologia, educação ou na cultura em geral provam que a França sempre se fez presente em nosso país. Em 2005, foi comemorado o Ano da Brasil na França e nós brasileiros fomos homenageados com uma série de eventos e atividades culturais, que proporcionaram aos franceses o conhecimento, mesmo que de forma condensada, de nossa diversidade artística. Em 2009, Ano da França no Brasil, cabe a nós receber e exaltar as mais diversas atividades culturais e artísticas francesas, retribuindo igual homenagem, mostrando assim, sua importância aos brasileiros e renovando nossas ligações com esta Nação. E nada melhor do que o carnaval, maior espetáculo da Terra, para ser palco dessa grande festa de confraternização. Sendo assim, a Grande Rio, através do enredo "Voilá Caxias! Para sempre Liberte, Egalité, Fraternité. Merci beaucoup Brésil! Não tem de quê!", pretende enaltecer os vários anos de presença francesa no Brasil, justificando a reciprocidade existente entre estes dois países.
...O sol que ilumina a corte... Solte a sua imaginação, pois a Grande Rio lhe convida a bailar! Entregue-se a essa inebriante festa de requinte, luxo e ostentação, da mais exuberante corte de todos os tempos, a Corte do Rei Sol. Os fogos de artifício iluminam os jardins de Versalhes! Prove dos melhores vinhos e champanhes desta corte, servidos nas taças do mais refinado cristal. O cenário é o majestoso salão dos espelhos do Palais du Soleil! Neste salão de belezas ímpares, as imagens dos grandes personagens que marcaram a história da França se apresentam de forma atemporal num grande delírio lúdico. Observe Maria Antonieta e Luís XVI, madames como du Barry ou a de Pompadour. E como o grande anfitrião desta festa, Luis XIV, o rei que brilhava como sol! É nesse envolvente e fascinante "Bal Masquè" de reis e rainhas, duques e duquesas que nossa história vai começar! O girar dos espelhos do imponente salão faíscam são só os reflexos dos grandes lustres que o compõe, mas aproveitam também para nos abrir um portal para o encanto da desconhecida Terra Brasilis.
... E a França se encantou pelo Brasil! Fato nada estranho já que por aqui fervilhava uma abundante e exuberante fauna e flora, como bem descreveu Jean Lérry. Seus escritos sobre o Brasil refletiram de maneiras singular nossas belezas tropicais. Seus olhos de certa forma foram os olhos da França e o primeiro encanto veio na travessia, com os cardumes de peixes que saíam do mar e se erguiam voando fora d´água! Em terra firme a beleza plumária e pictória dos índios tupinambás seduziram seu olhar. As belas aves e o colorido dos frutos tropiciais também contribuíram para esse encanto! Não foi só o "esplendor natural" que causou encanto... A madeira usada para tingir era objeto de cobiça e muito renderia àqueles que pudessem obter o monopólio comercial desta árvore. Portanto, o escambo foi o meio encontrado para que, de um lado do franceses levassem o pau-brasil, e os índios, por sua vez, ganhassem espelhos e outras quinquilharias (colares, pentes e miçangas). Além do encantamento com a beleza natural e com a possibilidade de lucros explorando o pau-brasil, a sensualidade de nossas índias tupinambás quase fez cair por terra o sonho da França em se estabelecer na nossa baía. A França Antártica por pouco não virou pesadelo! Mesmo contendo algumas controvérsias, foi gostoso esse contato com o francês! Foi por causa dele que a cidade maravilhosa surgiu. A possibilidade de se perder território para Villegaignon fez com que o clã dos Sás expulssasse o "perigo" para longe. E assim sendo, depois da "saída à francesa", a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada no dia 1º de março de 1565.
Esse contato entre França e Brasil rendeu lucros muito maiores do que aqueles meros "tostões" que a Coroa francesa lucrava com o contrabando do pau-brasil. As experiência de vida dos índios brasileiros cunharam, ainda que posteriormente, o terreno político da França e serviram de base para a Revolução Francesa, ou seja, a liberdade, a igualdade e a fraternidade dos nossos tupinambás se transformaram, através dos ensaios de Montaigne, no lema Liberte, Egalité e Fraternité dos sans culotte, que não eram índios! Os devaneios de uma excêntrica rainha, somados aos privilégios de um clero secular fizeram surgir o descontentamento de uma esfera social, o dito 3º estado francês composto, sem sua maior parte, pelo povo e pela ascendente burguesia. Estes se rebelaram contra os tais privilégios e assim se fez a Revolução! A Revolução Francesa irradiou-se como "fachos de luminosidade" que refletiram de certa forma em outros lugares. Mesmo que, num primeiro momento, essa irradiação não tenha sido suficiente para deflagrar movimentos arrebatadores como o de 14 de julho de 1798, ao menos serviu para mostrar que as coisas poderiam mudar, ou que estavam em processo de mudanças. Na região das Minas Gerais do século XVIII, a "luminosidade revolucionária" inspirou a Conjuração Mineira, que buscava uma mudança na ordem interna da província. Na Bahia de Todos os Santos, os ideais revolucionários da França foram absorvidos pelas classes mais populares. A Conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, agregou em torno das idéias de igualdade, uma massa de destituídos de direitos: ex-escravos, solados, alfaiates e outros mais. Esses foram os reflexos da Revolução Francesa no Brasil, onde os ideais de guiaram o povo, tal como retratou, numa sublime inspiração, Eugéne Delacroix.
A Revolução Francesa e seus desdobramentos fizeram com que uma grande leva de artistas, totalmente sem ambiente de trabalho em solo pátrio, migrasse para outros lugares levando em sua bagagem as novas tendências artísticas do século XIX, o Neoclassicismo. Esta mesma Revolução foi a responsável também por tirar de seu território, uma corte inteira! D. João se transferiu para o Brasil, trazendo consigo toda uma corte com seus hábitos, costumes e tendências, que por sua vez, não encontrariam um ambiente favorável na colônia. O destino começou a conspirar a favor desses ditos "destituídos de pátria". D. João recebeu de portas abertas a Missão Artística Francesa, em terras brasileiras. Agora o novo reino passaria a ter requinte e os artistas teriam muito que retratar! Em território tropical desembarcaram, entre outros artistas, escultores, arquitetos e pintores, em especial Jean-Batiste Debret. Ele soube, com seus pincéis, matizar muito bem a essência mulata dessa colônia tropical. De suas telas só não foi possível captar os sons dessa corte mestiça na América, a primeira e única da história mundial! A arte missionária dos franceses fez florescer no Brasil do século XIX, o gosto pelo requinte europeu. E, é a partir da missão francesa que os alicerces para a Escola de Belas Artes se configuraram, consolidando a base para a construção de uma arte mais nacional!
... O rio de Janeiro do século XIX respirava Paris! E a Rua do Ouvidor, em especial, foi o centro deste exalar. Foi neste endereço que não só a moda, mas outros muitos hábitos parisienses se perpetuaram no dia-a-dia da cidade. Porém, se caso a presença francesa, na carioca Ouvidor não fosse capaz de saciar a vontade de muitos em estar em solo francês, restava ainda à possibilidade efêmera da imaginação! Imaginação esta que possibilitava àqueles que circulavam pelo reduto afrancesado na cidade, transpor um "arco" que os levariam à triunfante Paris! E agora, na eterna Cidade luz, era possível deparar-se com seus inúmeros monumentos. No passeio, fazer uma pausa para o exercício da boa alimentação, aproveitar para devanear sobre os mais diversos assuntos nos chamados cafés e em meio à profusão de cores desfocadas de um entardecer francês, perceber que a noite se aproxima. As luzes da noite em Paris são como um espetáculo à parte, que por si só, já valeria o passeio. E, sendo tudo isso fruto da imaginação de muitos, cabe ainda aproveitar da essência luxuriante dos cabarés parisienses, em especial da magia e esplendor do Moulin Rouge, que encanta e seduz pela instigante arquitetura de suas formas e pelos grandes espetáculos ali encenados.
A França, através de seus encantos, seduziu Pereira Passos e sua equipe de arquitetos, engenheiros e saintaristas, a realizarem as reformas urbanísticas no Rio de Janeiro no linear século XX. Passos, então, Prefeito da Cidade, revolucionou a arquitetura da capital do Brasil. A Belle Époque vestia com glamour e requinte a capital republicana. O Rio ganhava, então, ares europeus, mais precisamente ares franceses. Transitar na cidade era quase o mesmo que andar em Paris, haja vista a quantidade de ruas alargadas e boulevard construídos. Talvez a única diferença fosse que seria uma Paris mais acalorada. Não é a toa que o Rio de Janeiro na fase inicial da República era conhecido como a "Paris dos Trópicos". Um dos exemplos dessa influência é a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, prédio totalmente inspirado na magnitude do Ó pera de Paris que serviu para dar mais oportunidades artísticas e culturais a uma nova classe burguesa que se formava na cidade. Porém, não podemos esquecer que embora seduzidos pela França, nós brasileiros encantávamos os olhos do mundo através do advento da "máquina de voar", tendo como cenário o solo francês. Sim, o 14 Bis de Santos Dumont estimulou a busca de novos caminhos para o desenvolvimento. A França alça hoje, vôos bem maiores que aqueles do passado. "As flores de um maio" somadas ao universo intelectual composto de renomados ícones, despertaram a atenção do mundo inteiro e mostraram a evolução desta promissora nação que a partir de então passou a buscar incessantemente novas tecnologias, aprimoramentos científicos e conceitos arquitetônicos mais ousados, servindo de inspiração e auxílio para muitas outras nações.
É chegado o momento da grande confraternização. Peguemos nossa bandeira tricolor e rumemos à grande Praça de La Concorde do samba, a Marquês de Sapucaí. Não existe lugar mais apropriado para comemorarmos essa união entre França e Brasil, que delineou desde os primórdios da nossa existência, quando os franceses aqui chegaram. Misturemos nossa bandeira tricolor com não menos tricolor francesa para que assim possamos criar a bandeira da união destes povos, distintos em muitos aspectos; porém unidos pelo sentimento maior da liberdade e igualdade! Vamos lá Caxias, rumo à vitória! Inspiremos-nos nos revolucionários de Marselha que defenderam a Revolução, para assim lutarmos por nosso lugar no pódio do samba! Que os acordes dos grandes triunfos franceses de outrora mesclem-se ao nosso ritmo contagiante e crie uma ode à exaltação! Abram alas, pois a festa vai começar. E nada como o carnaval para selar essa união, até porque na França também se faz carnaval! Sapucaí e Nice se entrelaçam num espetáculo de flores, confetes e luzes! Mascarados franceses de mãos dadas com a ginga brasileira atravessam esta avenida e juntos nesse corso da folia festejam essa antiga e promissora relação! No ano da França no Brasil cabe a nós caxienses, e acima de tudo, brasileiros, nos encarregarmos da homenagem a este país que muito nos inspirou com idéias, formas e hábitos. Fica aqui a certeza que muitos outros anos virão! Seja na Fraca ou no Brasil, e com eles a cada dia se perpetuará a fraternidade entre estas duas nações! Vive la France! Viva o Brasil!
Carnavalesco: Cahe
Rodrigues |