"UMA
DELIRANTE CONFUSÃO FABULÍSTICA"
Minha
gente, se acomode,
Que eu agora vou contar
Uma história tão bonita
Pra móde vos entreter,
Pra móde vos agradar.
(Quando
a gente fala assim
e começa: “era uma vez”,
não tem quem não se interesse,
nem quem não queira escutar.
A criançada se achega
E gente grande com estresse
Que foi menino tomém
Se aquieta, vem, sossega,
Senta ou deita, se aconchega,
Se prepara pra sonhar.
E então
tudo é possível
E se pode acreditar
Quando se é bom ouvinte;
Tudo pode ser verdade
E tudo se pode inventar).
Ouçam a
história seguinte:
Era uma
vez um garoto
Bem alto e desengonçado
Que vivia lá no norte,
Na Dinamarca distante,
Um país onde cai neve
E faz um frio danado.
A mãe era lavadeira
E o pai dele, sapateiro.
Era um menino mais rico
De sonhos que de dinheiro.
Já
tinha alma de artista
E pra isso muito estudou
Tentou cantar e dançar
Mas não foi aí que acertou.
Saiu escrevendo histórias
Que primeiro ninguém quis.
Seus livros sem serventia
Viraram papel de embrulho
Em uma simples mercearia.
Vixe, óxente, quem diria!
Mas o
cabra era teimoso
E tinha muito talento.
Acabou grande escritor,
De muito merecimento.
Fez lindos contos de fadas
De aventura e encantamento,
Para a toda meninada
De qualquer tempo e lugar
Ler, e reler, e contar
Pros filhos pequeninos
Quando crescer e casar
E
agorinha se preparem
Que eu lhes vou anunciar,
Afinal vou dizer quem:
O nome do moço era
Hans Christian Andersen.
Êta,
sujeito arretado!
Criou muitos personagens
Um universo inventado
Que todo mundo conhece:
O soldadinho de chumbo,
Que a bailarina não esquece;
O pobre patinho feio
Que virou cisne faceiro;
E o rei que saiu pelado
No meio do povo inteiro;
O
rouxinol que cantou
E salvou o rei da China;
O grande amor que mudou
A vida da sereia menina;
Os sapatos vermelhinhos
Que sabiam dançar sozinhos;
A princesa que não dormia
Só por causa de uma ervilha;
E a Rainha da Neve que não ria
Em seu reino de maravilha.
Teve
ainda a velha lenda
Sobre o víquingue Holgar
Recontada pelo Andersen
Com maestria invulgar.
Era um guerreiro leal,
Destemido e muito honrado
Que jurou um dia se erguer
Do trono onde quis morrer
E onde ainda está sentado
Pro seu país defender
Se este for ameaçado.
E neste
ponto da história
Do escritor dinamarquês
Vale trazer à memória
Que aquele patinho feio
Que passou tanto aperreio
Era ele, mas ninguém,
O próprio Hans Andersen,
E que sua imensa arte
O fez voar como um cisne
Bem alto, em beleza e glória.
E foi
então que certo dia
Aquele cisne altaneiro
Veio pousar no Brasil,
Veio a falar português.
O autor desta proeza
Eu conto já pra vocês:
Foi o mestre brasileiro,
O pai da história infantil,
Também um tradutor nato:
O grande Monteiro Lobato.
Além de
trazer pra perto
Das crianças brasileiras
Os incríveis personagens
Desse escritor tão esperto,
Ainda fez algo mais belo:
Abriu também as porteiras
Pra eles da sua casa, o Sítio do Picapau Amarelo.
Quem duvidar, vá lá ver,
Pegue o livro e volte a ler.
Vai
encontrar a Emília,
Faladeira e muito prosa,
O Pedrinho e a Narizinho,
Tia Nastácia, Dona Benta,
O Visconde de Sabugosa
E, ao lado, bem pertinho,
O povo dos contos de fadas,
Que chegou e gostou tanto
Que a Vovó 'té comprou casa'
Pra hospedar com conforto
Aquela gente encantada.
A Terra
do Faz-de-conta
É igual no mundo inteiro,
Em geral não muda nada.
Tem sempre princesa e fada,
Tem rei, herói e dragão,
Bicho e floresta mutantes,
Cuca má, saci Papão,
Flor e boneca falantes,
A casa da vovozinha,
A bruxa e seu caldeirão.
Seja no
fundo do mar
Ou na beira de um riacho;
Num castelo em pleno ar
Ou num sítio pequenino;
Num país muito distante
Que nem careça bagagem
Que se chega num instante;
Não faz mal se o personagem
É um príncipe ou um menino:
O Sítio não tem fronteiras
Nem o Sonho tem porteiras
Neste vasto mundo mágico,
Que é aqui e em toda parte
Quando se escreve com arte.
Agora aqui me despeço
Agradecendo a atenção,
Pois a história chegou ao fim.
E logo desapareço
Com pó de pirlimpimpim.
Rosa Magalhães
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