G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE |
Sinopse 2006 |
"UM POR TODOS E TODOS POR UM..."
O lema dos mosqueteiros do rei tornou-se popular através da obra de um trabalhador incansável, o escritor Alexandre Dumas, autor de Os três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, Rainha Margot e O Homem da máscara de ferro, entre dezenas de títulos, onde oferece um outro olhar sobre a história. Os romances históricos de Dumas foram construídos com o apoio de documentos, responsáveis por fatos e datas. Mas não lhe interessa apenas a narrativa dos acontecimentos, permite ressuscitar as personagens históricas criando para o leitor, cada personagem completa. Esse soberbo contador de histórias faz sucesso até hoje. Pois estava Dumas singrando os mares italianos quando Garibaldi partia com seus camisas vermelhas para libertar o reino de Nápoles e da Sicília. As peripécias do revolucionário foram descritas pela pena ágil de Dumas e inundaram as páginas dos jornais franceses, como se acompanhasse as ações com uma câmera de filmar. Com Garibaldi, Alexandre Dumas encontrou um herói. A ocasião era única para um rebelde de coração entrar na literatura de capa e espada; para o outro, "autor dramático" antes de tudo, viver uma aventura que não fosse apenas no papel. No fim dos anos 1860, Alexandre Dumas redige as "memórias de Garibaldi", recriando seu exílio na América do Sul e sua luta a favor das repúblicas jovens. Entre esses dois homens a cumplicidade é total. Garibaldi e Dumas são dois nomes ligados imediatamente à história popular. Pouco importa que Garibaldi tenha perdido batalhas, ele guarda sempre a imagem de vencedor. É um dos últimos heróis românticos, e a expedição dos camisas vermelhas é sem dúvida, a última epopéia do Velho Continente. Era necessário um Dumas, para escrever essa lenda. Se Garibaldi não tivesse existido, Alexandre Dumas o teria inventado. E sem Dumas, o mito de Garibaldi, campeão da liberdade, não teria todo seu esplendor. Garibaldi, herói de carne e osso, prova que a realidade pode ultrapassar a ficção. E é através da ótica folhetinesca e romântica de Dumas que vamos enfocar a história desse herói e de seus dois amores - a liberdade e a família. Quando Garibaldi veio ao mundo (1807), sua cidade Natal pertencia à França, mas seria logo depois anexada ao reino de Piemonte e Sardenha (1815). Assim Nizza (hoje Nice) era um porto, onde passou sua infância e juventude. O pai era bastardo e ligado à marinha mercante; foi assim que ele aprendeu a navegar. Entrou para a Marinha para pregar seus ideais de libertação para a Itália e sua unificação. Entretanto, teve que fugir, pois o movimento fracassou e ele e seus companheiros foram condenados à morte. Assim ele conta o episódio: "cheguei a Marselha sem acidentes... eu me enganei, um acidente aconteceu, li no Povo Soberano - eu tinha sido condenado à morte. Por esse motivo o nosso herói embarca com destino ao Rio de Janeiro, onde fica encantado com a natureza exuberante. Depois de algum tempo e um punhado de compatriotas, decide declarar guerra ao Império. Toma o navio de assalto, transformando-se num corsário idealista e deixa os prisioneiros livres em Santa Catarina, indo se juntar aos rebeldes farroupilhas. "Estávamos finalmente navegando com bandeira republicana, nós éramos corsários!" As pradarias orientais foram assim descritas por ele: "Lá, a terra saiu das mãos do Senhor no dia da criação e está como tal até hoje. Tem o aspecto de tapete de verdura e flores, que balança ao vento, salpicado de buquês de árvores com folhagens luxuriantes. Os cavalos, os bois, as gazelas, as avestruzes são os habitantes dessas imensas planícies, atravessadas pelos gaúchos, os centauros do mundo novo. Nessa época, lá pelo fim de 1834 e começo de 1835, existia uma grande quantidade de animais selvagens. Eu tinha medo de ser comido pelos tigres, comuns nesta parte da América. Por entre os talos das plantas, se esgueiram as serpentes com chocalho, a serpente preta, a coral, e nas florestas as índias, o jaguar, o tigre e o pulman, leão inofensivo do tamanho de um cachorro São Bernardo. Era a juventude da natureza na manhã da humanidade... chegando para a Piratini, fui admiravelmente recebido por Bento Gonçalves, verdadeiro cavaleiro errante do ciclo de Carlos Magno, irmão de coração de Oliveiro e Rolando, vigoroso, ágil e leal como eles. Um verdadeiro centauro." "Pensávamos numa expedição a Santa Catarina. Fui chamado para fazer parte dela sob as ordens do General Canabarro. Havia uma dificuldade, não podíamos sair da lagoa (Lagoa dos Patos) porque a sua desembocadura era guardada pelos idealistas. Mas, com os homens que eu comandava, nada era impossível. Eu propus construir duas charretes bem grandes e sólidas, para colocar em cada uma delas um barco e atrelar, nas charretes, cavalos e bois capazes de puxá-las. Minha proposta foi aceita. Cem bois domesticados, com a ajuda de cordas bem sólidas, se colocaram em marcha com aquele carregamento, tão naturalmente, como se aquele fosse um carregamento qualquer." Chegamos à margem do Lago Tramandaí e, depois de pequenos reparos, os barcos estavam aptos a navegar." Um dos barcos naufraga mas Garibaldi consegue se salvar. Chegando a Santa Catarina, ao invés de encontrar os imperialistas, encontra os republicanos e Canabarro funda a República Juliana. Dizia ele que... "da lagoa de Santa Catarina sairia a hidra que devoraria o Império". O encontro de Garibaldi com seu grande amor deu-se nesta época. "Nunca havia sonhado com o casamento, ter mulher e filhos. Tendo em vista meu caráter independente e minha irresistível vocação para a vida aventureira, ter mulher e filhos parecia impossível. O destino decidiu de outro modo. Eu me sentia só no mundo." Foi quando, vendo moças ocupadas nas lidas diárias, decidiu-se por uma que lhe atraíra. Entrou convidado numa das casas e por acaso encontrou a jovem que tanto o cativara: "Serás minha!", disse, criando o vínculo que só a morte poderia romper." E foi assim que a jovem Ana tornou-se Anita, mulher de Garibaldi, na saúde e na doença, na paz e na guerra. Durante todo o tempo que combateu no Brasil, Anita não só apoiou como participou das lutas ao seu lado, " uma amazona brasileira". "Anita tinha concluído o salvamento, ... orgulhosa como uma estátua de Pallas e Deus que estendia a mão sobre mim, a cobria ao mesmo tempo com a sombra dessa mão." Embora tenham feitos muitos esforços, a República Juliana não chegou a completar um ano. Garibaldi e Anita continuam na luta pela liberdade até que, em 1841 Garibaldi resolve pedir dispensa do exército republicano. Ficou decidido que partiria com sua mulher e o filho que já havia nascido, para o Uruguai. Estava encerrada a participação de Anita e de seu companheiro na Revolução Farroupilha, mas não na luta pela liberdade. Lutaram pela emancipação do Uruguai e da Itália. Os heróis dos dois mundos deixam a esfera histórica e se transformam em mitos. Personagens emblemáticos de uma época romântica. As aventuras americanas foram elemento essencial do mito garibaldino. Escritores como Vitor Hugo, George Sand e Dumas lhes prestaram homenagens. Seus feitos serviram de fundo para filmes como "O leopardo" dirigido por Visconti ou "Viva Itália" de Rossellini, até mesmo para um simples cantar brasileiro: "Neguinho do pastoreiro campeia no litoral, e hás de sentir ilusões de que ainda vês os lanchões de Giuseppe Garibaldi!" Rosa
Magalhães |