G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE |
Sinopse 2007 |
"TERESINHAAA, UHUHUUU!!! VOCÊS QUEREM BACALHAU?"
Chacrinha gritava Teresinhaaaa!!!! E a platéia respondia uhuhuuu!!!! Ele trazia malandragem cacofonia do rádio, a agilidade dos cortes, (que mais tarde foram incorporados à linguagem dos clips) e a sacação de que vivemos num país mix. A fantasia que vestia misturava uma alegoria da época de Luís XV com elementos top da nova classe média, como disco de telefone implantado no peito, tal e qual uma medalha de um novo país. A isto vinha se juntar a imperceptível buzina para reforçar seu império de profeta do caos. Um palhaço do povo, como ele mesmo se definia. Chocava todo mundo com seu bacalhau voando sobre o auditório. O palhaço do troféu Abacaxi, dos calouros, dos brindes de bacalhau e também dos pepinos e abóboras e tudo mais que lhe desse na telha de jogar, o palhaço que balançava a pança e celebrava a massa. E a massa não se intimidava ao receber seu pedaço de bacalhau porque, mal sabia ele, era uma generosa doação feita por Odin, um deus dos nórdicos. Para este povo que habitava o extremo norte da Terra, o nosso planeta começou com uma colisão entre o frio e o quente. No início do mundo, existiam duas regiões. Ao sul, havia um lugar intransponível, cheio de chamas, a que dava o nome de Muspilheim Nifheim, a região gelada ficava ao norte. Nifheim, saiam onze rios que se transformavam em gelo, camada por camada, até chegarem ao sul, que era quente. Com esse calor, o gelo se derreteu e as gotas deram vida a um gigante, Ymir, que dormiu e do seu suor nasceram os homens, as mulheres e os gigantes. A vida vinha de formas antagônicas extremas - o quente e o frio. Os vulcões islandeses em erupção cuspiam fogo borbulhante e as chamas e o vapor quente derretiam o gelo, inundando os vales. Foi nesta Islândia vulcânica que certos mitos se formaram. A idéia de uma vida emergido do encontro do calor e do frio intenso podia muito bem ser o nascimento dessa região encimada por um céu sustentado por quatro gnomos - o norte, o sul, o leste e o oeste. O mundo era dividido em três níveis: o superior, Asgard, era a morada dos deuses; o mediano, Midgard, era a morada dos homens; e o terceiro, Jotuheim, a terra dos gigantes. Asgard e Midgard eram ligados por uma ponte flamejante, que aparecia aos mortais em forma de arco-íris. Odin era o deus supremo, pai de todos, e reinava com a ajuda da tempestade, do raio, dos ventos e da chuva. Sua lança havia sido forjada pelos gnomos e era imbatível. Sempre acompanhado por dois corvos e dois lobos, partia para incríveis aventuras montado num velocíssimo corcel, pois era o animal que possuía oito patas. Thor, um dos filhos de Odin, era o mais forte de todos. Seu nome significa trovão e ele era o protetor dos homens contra os gigantes. E as Valquírias, filhas também de Odin eram virgens guerreiras enviadas à Terra para julgar a bravura dos combatentes. Em torno dessas figuras dominantes, gravitava uma grande quantidade de elfos, demônios e gênios. E foi nesse mundo gelado que os bravos guerreiros vikings partiram para conquistas e descobertas. A localização geográfica e o clima fizeram com que seus habitantes, hábeis navegadores, se lançassem ao mar em busca de outras regiões com o clima mais ameno e outras riquezas. Mal sabiam eles que uma de suas maiores riquezas estava nas águas geladas do próprio extremo norte. Durante mais de três séculos, dominaram regiões como a Irlanda, parte da França, Itália, chegando até à América uns quatrocentos anos antes dos espanhóis. Com suas embarcações de madeira, percorreram os oceanos, levando suas armas para se defenderem e o peixe seco ao sol para se alimentarem durante a viagem. O peixe era eviscerado e seco ao sol, porém era muito duro e perdia parte do sabor, embora não estragasse. Foram os bascos que, durante a Idade Média, descobriram as propriedades do sal para a preservação dos alimentos. O sal, até então pouco usado e desconhecido por muitos povos, tornou-se essencial na culinária e era muito apreciado, pois além de preservar os alimentos para estocagem ainda realçava seu sabor. Era uma mercadoria tão apreciada quanto os temperos. Nos banquetes, o saleiro dava a distinção aos convidados. Quanto mais próximo do saleiro, mais importante era o dignatário. Essa descoberta dos bascos propiciou aos povos do mar do norte melhorar o sabor e a umidade dos peixes que pescavam em suas águas geladas. A primeira pessoa conhecida como produtor de bacalhau, por incrível que pareça, foi um holandês, Jappe Ippes (século XVII), que se dedicava ao comércio e exploração de madeira e viu futuro na produção de peixe salgado. Foi tão esperto que conseguiu a exclusividade desta produção durante dez anos. Foram os vikings noruegueses em viagens pelo Mediterrâneo que ensinaram os portugueses a comer bacalhau. Os portugueses a comer o peixe seco antes de comerem um bacalhau salgado, e referem-se a ele como o "fiel amigo". O bacalhau norueguês desbancou o bacalhau canadense de modo a dominar o mercado completamente, desde 1900. Na verdade, o bacalhau português era mesmo... norueguês!!!!! Hoje o bacalhau faz parte da alimentação dos brasileiros e é festejado até no carnaval. Com bonecos gigantes e uma orquestra de frevo com 4 músicos, o Bacalhau do Batata leva uma multidão às ruas de Olinda na manhã da quarta-feira de cinzas, numa demonstração que o carnaval pernambucano vai além da terça-feira. Criado há 41 anos pelo garçom Izaías Pereira da Silva, o Batata, para poder se divertir, já que ele tinha que trabalhar durante o carnaval, a troça estimulou o surgimento de outras agremiações que também desfilam na quarta-feira de cinzas, de modo que vários outros blocos "Bacalhau" se espalham hoje por vários municípios da região metropolitana. A agremiação, hoje uma das mais famosas de Olinda, adquiriu vigor e continua crescendo mesmo dez anos depois da morte do seu fundador. O seu estandarte traz os ingredientes de uma bacalhoada, e o boneco gigante confeccionado em homenagem ao garçom sai na linha de frente da troça. E esses bonecos gigantes, não seriam eles por acaso descendentes de Ymir, caindo na gandaia? Rosa
Magalhães |