G.R.E.S.E. IMPÉRIO DA TIJUCA |
Sinopse 2007 |
1º SETOR – De Capadócia ao Império Romano Diocleciano Imperador de Roma dominava um vasto Império, onde havia um jovem soldado chamado Jorge. Guerreiro originário da Capadócia na Turquia, aos 17 anos entrou para a vida militar pela sua aplicação, capacidade no manejo das armas e excepcional destreza nos torneios de equitação. Filho de pais cristãos, Jorge aprendeu desde a sua infância a temer a Deus e a crer em seu salvador pessoal. Trocou sua cidade natal pela Palestina, vindo a ingressar no exército de Roma. Lá foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade, qualidades que levaram o Imperador a lhe conferir o comando da corte-prima da guarda Imperial e o título de Conde. Com a idade de 23 anos passou a residir na Corte Imperial em Roma exercendo altas funções. Converteu-se ao cristianismo e não agüentou assistir calado às perseguições ordenadas por Diocleciano. Travou várias lutas no Coliseu de Roma, templo sagrado de importantes batalhas durante a Idade Média. O imperador tentou fazê-lo desistir de sua fé torturando-o de vários modos. Após cada tortura, era levado perante o supremo, que lhe perguntava se renegaria o seu salvador para adorar os ídolos. Jorge sempre respondia: “Não Imperador! Eu sou servo de um Deus vivo! Somente ele eu temerei e adorarei”. Finalmente o imperador, que não teve êxito em seu plano macabro, mandou degolar o jovem e fiel servo. Foi morto na Palestina no dia 23 de abril de 303 devido à sua fé cristã.
A devoção a Jorge rapidamente tornou-se popular, seu culto se espalhou pelo mundo, por ocasião das cruzadas. Conhecido como verdadeiro guerreiro da fé, começou a ser chamado como São Jorge, que segundo a lenda, venceu satanás em terríveis batalhas. Iconograficamente, São Jorge é representado como um jovem imberbe, de armadura, tanto em pé como em um cavalo branco com uma cruz vermelha. Essa imagem de todos conhecida, do cavaleiro que luta contra o dragão, foi difundida na Idade Média. Está relacionada às diversas lendas criadas a seu respeito e contada de várias maneiras em suas muitas paixões. De acordo com uma de suas lendas mais difundidas, um horrível dragão saía de vez em quando das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade trazendo-lhe a morte com seu mortífero hálito e suas labaredas de fogo. Para ter afastado tamanho flagelo, as populações do lugar lhe ofereciam jovens vítimas, pegas por sorteios. Um dia coube a filha do rei ser oferecida em comida ao monstro. O monarca que nada pode fazer para evitar esse horrível destino da tenra filhinha acompanhou-a com lágrimas até as margens do lago. A princesa parecia irremediavelmente destinada a um fim atroz, quando de repente apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge. Verdadeiro guerreiro da fé, São Jorge venceu contra os inimigos terríveis batalhas. Com seu testemunho, este grande santo nos convida a seguirmos Jesus sem renunciar o bom combate. A quantidade de milagres atribuídos a São Jorge é imensa. Segundo a tradição, ele defende e favorece a todos os que a ele recorrem com fé e devoção, vencendo batalhas e demandas, questões complicadas, perseguições, injustiças, disputas e desentendimentos. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país, os Gregos também trazem a cruz de são Jorge na sua bandeira, na Alemanha dedicou-se a ele uma ordem Militar e na França o rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro. As artes, também divulgam amplamente a imagem do santo. Em Paris no museu do Louvre, e na Itália existem diversos quadros célebres, como de autoria de Donatello. Ainda durante a primeira Guerra Mundial, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros e as irmãs de caridades que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos da guerra.
Com a chegada do navio negreiro e os portugueses no tempo da escravidão, os negros escravos eram proibidos de cultuarem os seus deuses africanos. A igreja católica naquela época, dizia que os santos/orixás não passavam de demônios. Por isso o sincretismo religioso com os santos da igreja católica, pois os negros escravos eram obrigados a se converterem ao catolicismo, muitas vezes até mesmo no tronco, dizendo-se ser uma espécie de exorcismo. Quando os escravos se passavam por convertidos eles comparavam a história ou a lenda de um santo católico, e também o que cada um representava, com os santos africanos. A simbologia dos mitos fala de necessidades e de princípios universais, mas cada cultura cria suas próprias formas de manifestar o significado dos santos e orixás. Como as culturas são como organismos vivos, onde cada elemento ajusta-se aos demais e responde às necessidades de adaptação ao meio ambiente, as particularidades da formação cultural geram traduções de conteúdos míticos que não são absolutamente intercambiáveis, se bem que guardem analogias entre si. Assim, não há como tomar o panteão dos deuses da mitologia greco-romana e encontrar, para cada um, uma correspondência exata nas lendas da Europa cristã, ou na mitologia afro-ameríndia. A lenda de São Jorge, por exemplo, guarda ecos dos mitos relacionados ao Ares grego e ao Marte Romano, assim como os mitos de Ogum encontram ressonância na história do santo cristão. Todos expressam valores de Marte, mas sempre com nuances locais, que respondem às necessidades específicas da comunidade que os cultua. Ogum é o arquétipo do guerreiro e bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser associado à luta, à conquista. É a figura astral que depois de Exu está mais próximo dos seres humanos, onde é muito popular. Tem sincretismo com São Jorge ou com Santo Antônio e que também se associa a Exu, tradicionais guerreiros dos mitos católicos, também lutadores, destemidos e cheios de iniciativa. Ogum na umbanda brasileira é o vencedor de demandas, que abençoado por sua mãe Yemanjá, protege aquele que sempre se encontra em dificuldades, seja na rua, no mar, no cemitério, no mato e nos campos. Suas cores são verde, vermelho e branco, sempre leva uma espada ou lança e está vestido com sua armadura e seu capacete. Várias imagens de Ogum com suas qualidades ou caminhos pela sua proteção se encontram em um altar, chamado de gongá, e no centro do mesmo há uma imagem de Oxalá seu pai, sincretizado de Jesus. Com isso, na parte folclórica temos a cavalhada e o congo, inspirados nas lendas do santo guerreiro.
No que diz respeito ao culto dos orixás, a grande diferença entre o Candomblé, que preserva mais fielmente as raízes africanas, e a Umbanda, resultado do sincretismo com cultos cristãos e ameríndios, é que, nesta última, eles não são mais vistos como seres com atributos humanos, mas como campos de força impessoais que manifestam diferentes facetas da energia divina e dentro do qual atuam entidades dos mais diversos níveis evolutivos, em missões específicas. Ogum, divindade masculina ioruba, figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal. Em muitas lendas aparece como irmão de Oxossi. Senhor da guerra, dono do trabalho por que possui todas as ferramentas como seu símbolo. Orixá do fogo e do ferro em que são forjados os instrumentos como espada, a faca, a enxada, a ferradura, a lança, o martelo, a bigorna, a pá, etc. É o dono do obé (faca) por isso vem logo após de Exú, porque sem as facas que lhe pertencem não seriam possíveis os sacrifícios. Ogum é dono da estrada ferro e dos caminhos, protege também as portas de entrada das casas e templos. Ogum é protetor dos militares, soldados, ferreiros, trabalhadores e agricultores. Dentre as diversas lendas existentes a respeito do orixá Ogum, ressaltaremos aqui sua luta sem cessar contra os reinos vizinhos, e que conseqüentemente deu origem ao seu culto. Trazia um rico espólio em suas expedições, além de numerosos escravos. Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odúduá, seu pai rei de Ifé. Ogum continuou suas guerras e durante uma delas tomou Irê. Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias. Por isto chamam-no, ainda hoje, ogum mejejê lodê Irê – “Ogum das sete partes de Irê”. Ele matou o rei, Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de rei. Ele é saudado como Ogum Onirê! – “Ogum rei de Irê!”. Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, “akorô”. Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô – “Ogum dono da pequena coroa”. Após instalar seu filho no trono de Ire, Ogum voltou a guerrear por muitos anos. Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar. Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio completo. Ogum tinha fome e sede. Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo. Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se. Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas. A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de ogum e ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e feijão, regados com dendê, tudo acompanhado de vinho de palma. Ogum arrependido e calmo lamentou seus atos de violência, e disse que já vivera bastante, que viera agora o tempo de repousar. Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum tornara-se um Orixá.
O Brasil, em 506 anos de história, já elaborou suas próprias sínteses, que são tão ricas do ponto de vista simbólico quanto aquelas originárias da velha civilização grega. Neste sentido, entender a relação e o significado de Jorge da Capadócia com São Jorge e Ogum para o povo brasileiro é entender também como o princípio simbolizado por Marte é vivenciado nestas paragens tropicais. Devotos no mundo inteiro comemoram no dia 23 de abril, o Dia de São Jorge, o santo padroeiro da Inglaterra, de Portugal, da Catalunha, dos soldados, dos escoteiros, dos corintianos e celebrado em canções populares de Caetano Veloso, Jorge Benjor e Fernanda Abreu. No oriente, São Jorge é venerado desde o século IV e recebeu o honroso título de "Grande Mártir”. Durante seus 90 anos de história, o Sport Clube Corinthians Paulista foi outra grande contribuição para a popularização de São Jorge, primeiro no Estado de São Paulo e depois no País, ao escolher o santo como seu padroeiro e protetor, em 1910. Orixá da guerra, das batalhas, dos metais, da agricultura, dos caminhos e da tecnologia. A relação entre o santo e a lua viria de uma lenda antiga que acabou virando crença para muitos. Diz à tradição que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo com a sua aspada, pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda. A guerra é de OGUM, cujo nome significa exatamente guerra. Como OGUM nunca se cansa de lutar, costuma-se chamar por sua ajuda em situações em que é extremamente difícil continuar lutando ou quando o inimigo é extremamente forte. E é com esse espírito de luta e com a ajuda de “São Ogum Jorge” que a comunidade do morro da Formiga presta esta grande homenagem a Jorge da Capadócia, que é refletido no trabalho árduo e guerreiro de todos os seus componentes e vem para a Marquês de Sapucaí mostrar que a Império da Tijuca não desistirá jamais de tremular sua bandeira da paz preservando sempre a cultura do carnaval carioca com muita fé e devoção.
Referências Bibliográficas:
DONADEO, Madre Maria. O Ano
Litúrgico Bizantino. Editora Ave Maria. São Paulo, 1990.
Carnavalesco: SANDRO GOMES |