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G.R.E.S. UNIDOS DO JACAREZINHO

Sinopse 2006

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"JACAREZINHO GUERREIRO MOSTRA QUE A ÁFRICA É AQUI !"

 

Apresentação:

A África é o centro dos sentimentos do mundo. A nossa terra dos sonhos, nossa terra natal espiritual. Há um mundo em cada ser humano que é a África. Todos a temos dentro de nós. A África das lendas, das cores brilhantes, da sabedoria, da adivinhação, da surpresa e em quatro dimensões e épocas, a África da fé, da paciência, da resistência, de um profundo conhecimento dos caminhos da natureza e dos ciclos secretos do destino.

O Presidente Lula foi na África pedir desculpas pela escravidão. Não precisava. Somos o resultado da miscigenação das raças, somos um país que tem na intolerância sua marca registrada. Existe o racismo, mas isso tem mais a ver com a educação do que com a cultura do país. Isso é uma carga extra que os negros carregam historicamente nas costas. Não devemos cultuar esse passado mas sim o lado bom desta história. Nas origens do futebol brasileiro, uma história deliciosa, dizia-se que quando começou a ser jogado no Brasil, era por brancos. Não havia os esquemas de jogo, as posições dos jogadores, nem as especialidades. Quando os negros começaram a jogar, sempre que havia um choque entre jogadores, os juízes apitavam as faltas contra os negros. Percebendo essa dificuldade, eles não seguiam mais com a bola em linha reta para o gol, mas contornando aqui, girando ali, catimbando acolá. Assim nasceu o drible. E com o drible, o futebol campeão do mundo. O momento sublime em que o esporte se transforma em arte. Da dificuldade brotou o talento. Foi assim com a culinária, assim com a música, assim com o esporte, com as artes em geral. Os negros são a cultura de nosso país.

É essa África que importa, do seu nascer do sol, sua luminosidade, seu brilho e sua beleza. Somente vemos o que queremos ver. E somente quando vemos mais uma vez, é que os detalhes se revelam a nós. A África está aguardando há séculos para ser descoberta pelos olhos do amor de um amante. Não há visão verdadeira sem amor. Para que a humanidade comece a conhecer a felicidade nesta Terra, temos de aprender a amar a África em nós.

A África certamente ficaria mais feliz com um sincero "muito obrigado", que celebrasse a inspiração, a criatividade e reconhecesse sua contribuição para nosso futuro.

 

Justificativa:

A nossa África, o primeiro continente a ver o homem caminhar ereto, o próprio berço da humanidade, merece no início do novo milênio, todas as atenções. A África que nos une é aquela que pacientemente recaptura sua memória, uma memória com feridas infligidas pelas experiências dolorosas, onde milhões de jovens, no auge da juventude, foram arrebatados de sua terra natal e postos à extrema força sob as mais terríveis condições. Mas além da tragédia, a África que nos une é um continente cuja memória é feita da resistência à opressão. É essa capacidade de resistir usando todas as armas possíveis — as armas da luta política, da luta armada, as expressões artísticas e literárias — que possibilitou vencer o colonialismo e o abominável sistema do apartheid.

Nas tradições folclóricas africanas vemos que é uma cultura que inventa alternativas para subverter os desejos de seus opressores de submeter sob seu poder, um povo nobre de reis , rainhas, cortes e deuses. No Brasil há uma África na construção e na reconstrução de idéias em todos os setores da cultura, a partir dessa rica herança.

 

Objetivo Geral:

É essa África diversa e pluralista que se quer exaltar para fazer valer a voz do povo africano, que seja ouvida forte e clara no concerto das nações e para reafirmar essa renascença africana que desponta em 2005.

Por essa renascença, a África está construindo um novo nacionalismo fundado no pan-africanismo. O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de África como forma de potenciar a voz do continente no contexto internacional. Queremos aqui, contribuir com a renascença africana, onde jovens e mulheres, são cientes de que o destino está em suas próprias mãos e ninguém construirá uma África em seu lugar. A renascença africana busca enaltecer a herança cultural africana que fincou raízes por toda a humanidade, como forma de elevar sua auto-estima e conscientizar sobre seu valor, principalmente no Brasil, com o intuito de clamar por esse povo berço da humanidade histórica que continua sofrendo com os interesses mundiais e aqui chamamos a atenção para as heranças culturais deixadas no Brasil por este povo.

 

Objetivo específico:

Nos meados do século 18, o tráfico de escravos para as Américas afetou tudo dramaticamente na África Ocidental, foram reorganizados escravos Yorùbás que desciam para o Brasil, onde ainda hoje podem ser achados elementos marcantes na cultura deste povo como por exemplo à culinária, a dança, a música e a religião. As matrizes africanas que contribuíram para moldar nossa cultura, a religião e a música são aqui examinadas. A presença de elementos culturais, religiosos e musicais provenientes da África é marcante na nossa história, isso que vale exaltar.

Esta é a forma de nossa Escola de Samba Unidos do Jacarezinho, guerreira, exaltar o lado bom desta história triste destes filhos brasileiros da África na emancipação das terras brasileiras.

 

Sinopse:

A África é o centro dos sentimentos do mundo, a nossa terra natal espiritual. O primeiro continente a ver o homem caminhar ereto, o próprio berço da humanidade que nós exaltamos. O sincretismo religioso africano faz um registro deste berço da terra, através do mito da criação do homem, no qual Oxalá , o mais elevado dos deuses yorubás, é o dono da argila e da criação, onde molda os seres humanos no barro, povoando o mundo e ensinando-os como cultuar os Orixás, construindo a cidade sagrada de Ilé Ifé, onde ao seu redor o mundo começou a ser criado.

A África é aquela que recaptura sua memória, desde quando o comércio de escravos foi sistematizado, onde milhões de jovens, no auge da juventude, foram arrebatados de sua terra natal e postos à extrema força sob as mais terríveis condições. Os negros que conseguiam fugir da escravidão, se refugiavam em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Eram os quilombos, que buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura, reavivando as tradições, crenças e costumes. Hoje, o Quilombo do Jacarezinho que finca raízes na avenida, assim como seus antepassados, também luta pela sobrevivência, faz arte, cultua sua fé e representa um foco de resistência cultural. Os habitantes dos quilombos de ontem e hoje, alimentavam a mente, o corpo e espírito, O mesmo povo que festejava e faziam oferendas aos Deuses, através da música e dança - aqueles que antes caçavam e pescavam na África -  aqui também praticavam a agricultura e desenvolviam oficinas para a fabricação de instrumentos de trabalho. É este o segredo que explica a resistência dos quilombos durante vários séculos.

Um dos grandes símbolos dessas manifestações na África é a Rainha Nzingha que ocupa uma posição de destaque na galeria de heroínas negras. Nzinga é cultuada como a heroína angolana, devido à sua destreza política e força bélica, na resistência à ocupação dos portugueses do território angolano e conseqüente tráfico de escravos. Nzingha foi inspiração no Brasil de Zumbi, o maior líder do Quilombo dos Palmares. A luta contra os negros de Palmares durou por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o empenho e determinação dos negros chefiados por Zumbi, eles, por fim, foram derrotados. Contemporâneos de Nzingha e Zumbi, nós do Quilombo do Jacarezinho, queremos demonstrar que a história tem seu lado bom, que é a herança cultural em todos os sentidos, bem precioso na formação da identidade social, que vale exaltar.

A música brasileira estrutura-se a partir de duas básicas matrizes africanas, que são a espinha dorsal de nossos ritmos. Uma proveniente das civilizações iorubanas que molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira em seu passado mais remoto com os estilos dela decorrentes e outra proveniente das civilizações conguesa que tem no samba sua face mais exposta. Responsáveis pela introdução, no continente americano de instrumentos musicais, como a cuíca, o berimbau, o ganzá e o reco-reco, o povo Bantu, em seu sincretismo, deu origem a maior parte dos folguedos de rua até hoje brincados nos períodos de festas populares. A Congada seria a raiz dos maracatus, dos ranchos de reis (depois carnavalescos) e das escolas de samba, que está ligado a danças típicas tribais do continente, que vieram com a mão-de-obra escrava para nosso país. O Samba, entre os povos de Angola, é verbo que significa “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”. Essas duas formas se originam da raiz semba, rejeitar, separar, que deu origem ao seu amplo leque de variantes, que inclui, entre outras formas, batuque, baiano, coco, umbigada, calango, lundu e jongo.

No Rio de janeiro, numa região conhecida historicamente como “Pequena África” - que se estendia do morro da Conceição - nas cercanias da atual Praça Mauá - até a Cidade Nova, na vizinhança do Sambódromo, hoje – viveu Tia Ciata, mulher guerreira que em sua casa, defendeu e perpetuou as suas tradições, justificando a “Pequena África”. O samba, assim como outras expressões da cultura negra no início do século XX, eram proibidas. Sabendo que os policiais, incumbidos de reprimir as rodas de samba, não distinguiam a música religiosa da profana, os sambistas aproveitavam para se reunir, cantar e dançar, quando se encerrava o culto do candomblé na sua casa. Tia Ciata instituiu a tradição carioca das`Baianas quituteiras, com tabuleiros fartos de bolos, manjares e cocadas – comidas de forte fundamento religioso. A partir deste período, o samba começa a ganhar feição urbana.

Na criação dos pratos da culinária afro-brasileira, histórias de mitos que misturam fé, à cura e às oferendas, através da comida e de plantas e ervas medicinais. A feijoada, feita com o que não era aproveitado na mesa do branco - como a orelha, o rabo e a pata de porco, cozidos no feijão preto - até hoje é consumida desta forma.  O mito de não comer manga com leite surgiu quando os senhores quiseram impedir que seus escravos, que bebiam leite estragado, não invadissem seus pomares para pegar as mangas. O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê assim como os pratos como o angu e a galinha da Angola – quase todos de origem religiosa. A cozinha negra fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes e finalmente criou a cozinha brasileira. Mas os Nagôs de linha Yorubá fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que os Bantus de Angola, gente mais forte, submissa e mais aproveitada para o serviço pesado. Ao Brasil foram trazidos os mais diversos povos africanos e um sem número de cultos e deuses. A doutrinação cristã não substituiu as tradições africanas, que foram passadas com o leite materno. Entre os povos trazidos, no nordeste temos os Nagôs, que falavam o Yorubá (língua do rei). Já no sudeste, a predominância foi dos povos Bantus. Por viverem juntos nas senzalas, ouve uma mesclagem das culturas (roupas, dialetos, indumentárias, cultos e etc.). Daí nasce o que chamamos no Brasil Candomblé. As condições históricas da vinda maciça de africanos yorubanos, fizeram com que a cultura religiosa desse povo se transformasse numa tradição espiritual geral dos africanos no Brasil e seus costumes gozassem de franca hegemonia. Essa prevalência é que talvez tenha determinado o surgimento dos candomblés chamados “de Angola” e “de Congo” e a iorubanização das linhas de rituais. O Candomblé e demais religiões Afro-Brasileiras tradicionais formavam vertentes, mas, cada uma delas possuía seus fundamentos e com um único objetivo, a prática da caridade.

Na áfrica, assim como nas comunidades negras de hoje, o povo Nagô morou em grandes cidades densamente povoadas e seu sustento era feito através de comércios especializados de bens e serviços. Cada cidade mantinha sua própria interpretação das histórias, tradições religiosas, culinária e estilo de arte, mas, até hoje reconhecem a soberania ritual da cidade de Ilé Ifé, como o panteão dos deuses Yorùbás, chamados de Orixás. Para buscar as soluções de seus problemas da vida cotidiana, os Nagôs estavam sempre consultando os sacerdotes adivinhos destas cidades, conhecidos como Bàbálawo - que ordenavam desde decisões reais até os ritos que  determinavam qual Orixá que a criança, ao nascer, deveria seguir durante toda sua vida. Dentre as divindades Yorubás destacava-se o Ser Supremo chamado Òlorun e logo abaixo se encontravam outros dezesseis Orixás principais, que desempenham papéis diferente no destino dos seres humanos e na constituição do mundo. Algumas das divindades primordiais fazem parte das histórias dos homens, tendo existido e vivido na terra como por exemplo Oduduá e, outros, heróis ou heroínas que deixaram uma impressão importante nas pessoas. Estas divindades primordiais estão constantemente ligadas aos fenômenos naturais, como montanhas, colinas e rios que geraram agrupamentos e cidades. Os mais populares  e que se identificam com o enredo, são : Orunmilá também chamado de Ifá e senhor da adivinhação; Ogum é o deus das guerras, metais e agricultura; Oxossi o senhor dos caçadores e das florestas; Ossain o deus da medicina e da flora; Oyá é a senhora dos ventos, relampejos e ancestrais; Xangô o deus dos trovões e senhor da justiça divina entre os humanos; Omulú Obaluaê Filho do Senhor, "varre" as doenças, impurezas e males sobrenaturais, Oxum a deusa das águas doces e da fertilidade feminina, Yemanjá senhora do encontro das águas e mãe da humanidade, Euá guerreira transformadora, dona da beleza feminina jovem, da música e da alegria, Exu mensageiro senhor da vitalidade, Yansã a mais impulsiva das companheiras de Xangô, Orixá das paixões e aventuras, Nanã a mais velha das mães d’água, a Avó dos Orixás e a Mãe dos Mortos, Oxumaré o mensageiro dos Orixás para os mortais, Ibeji Orixá duplo da infância e da alegria e Logun Edé o príncipe da fartura, riqueza e beleza.

Eis aqui os ingredientes que o Quilombo do Jacarezinho põe na avenida, para prepararmos juntos uma oferenda ao povo, cantando e dançando a Mãe África, que nos trás o alimento para a mente, o corpo e o espírito – arte, culinária, religiosidade – além da resistência de um povo. O corajoso Quilombo do Jacarezinho Guerreiro - como os africanos – não se abateu e vem com toda a força para voltar a ser destaque do carnaval, mostra que a África é aqui!


Laerte Gulini
 

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