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G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL

Sinopse 2008

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"O QUINTO IMPÉRIO: DE PORTUGAL AO BRASIL, UMA UTOPIA NA HISTÓRIA"

 

Abençoado seja El-Rei Afonso Henriques, o primeiro dentre vários, aquele que recebeu do próprio Cristo, em sonho, nos campos de batalha de Ourique, a missão de transformar Portugal no "Quinto Império Universal", suplantando a Babilônia, a Pérsia, Roma e Grécia.

Bendito seja Portugal, pois apenas as nações grandes de coração e de alma podem sonhar os sonhos que lhe são maiores e dentre estas, a portuguesa foi a que certamente acreditou que poderia realizá-los.

E talvez por conta disso tenha se tornado tão gloriosa e reluzente, ofuscando poderosos reinos, alguns de extensões territoriais infinitamente superiores as suas.

Mas o tempo passou e a sucessão de vários reis aos poucos transformou Portugal num pequeno gigante adormecido sobre suas conquistas e seus mitos. As glórias e até mesmo o sonho do Quinto Império cada vez mais faziam parte de um passado esplendoroso.

Porém, aos 20 dias de janeiro de 1554, nasceu sob o signo da esperança, Dom Sebastião, o mais esperado herdeiro da história lusitana, aquele que afastaria a ameaça de Castela e reconduziria o reino aos áureos tempos de outrora... "Bendito seja São Sebastião, que nos livra da peste, e, em seu dia, nos dá um rei"!

Ah! Pequenino Portugal de sonhos tão imensos, mas que pareciam agonizar esquecidos entre o luxo e o fausto dos palácios. Novamente vivo, o sonho corria nas veias alcançando os corações da nobreza e do povo com contagiante alegria: Hossana! Hossana! Nasceu finalmente o Desejado, o Desejado!

Aos 14 anos, já coroado e influenciado pelas narrativas do Milagre de Ourique e pelos romances de cavalaria, o jovem rei partiu para o Marrocos. Dom Sebastião quis ser rei e seguidor de sinais. Ou melhor, era este o destino que lhe estava traçado.

Lutando contra os Mouros em Alcácer-Quibir, Dom Sebastião desapareceu nas areias africanas, golpeando mortalmente as esperanças portuguesas. Porém, ao desaparecer fisicamente no deserto, o rei Desejado renascia espiritualmente como o Rei Encantado.

O Reino de Castela, na ausência de legítimos herdeiros de Dom Sebastião, logo se pronunciou e deu o golpe misericordioso nas sofridas almas lusitanas assumindo impiedosamente o trono português.

Sem corpo presente, a crença no retorno de Dom Sebastião elevou-se neste período alimentada pela dor e pelo sofrimento, revestindo-se de contornos messiânicos: o povo esperava sua volta numa manhã de nevoeiro para a retomada do trono. E mesmo depois da restauração da coroa, muitos anos depois, a volta do Encantado continuou aguardada por seus seguidores.

Guardião das esperanças lusitanas, o messianismo sebastianista ganhou os mares alcançando a maior colônia portuguesa no Novo Mundo.

Ao tocarem as areias da Praia dos Lençóis, no Norte do Brasil onde combateriam os invasores franceses, os navegadores portugueses fundiram aquele cenário com o do Marrocos e a crença que no fundo daquelas águas repousava o castelo de Dom Sebastião guardado por um touro negro coroado logo se espalhou pela região.

Mais adiante, em 1808, quando caravelas aportaram no Rio de Janeiro, trazendo a bordo o príncipe Dom João VI e parte da corte portuguesa, traduzia em seu balanço nas águas cariocas, além da manutenção da independência, a sobrevivência de um sonho antigo, de uma magnífica utopia milenar que pelas circunstâncias, também eram transferidos para estas terras longínquas e desconhecidas e resguardados das tropas napoleônicas.

As fantásticas transformações realizadas por Dom João no cenário carioca, magistralmente registradas pelas formas e cores de Debret, não seriam a preparação do Rio de Janeiro para ser então a capital do próprio Quinto Império já esperado há algum tempo por estas bandas pelos sebastianistas tropicais?

A presença do "Encantado" Dom Sebastião e da utopia do Quinto Império em terras brasileiras, assim como o fora em Portugal, é como um farol nacionalista e patriótico refletindo em sua essência os mais íntimos desejos de um povo marcado pela dor e, acima de tudo, necessitado de esperança.

Dom Sebastião e a Utopia do Quinto Império têm um papel inestimável: foi a partir deles que tanto portugueses como brasileiros, cada um a seu tempo, passaram a procurar-se dentro de si próprios. Talvez cada um de nós tenha um Dom Sebastião dentro de si. E quando cada um regressa a si mesmo, é Dom Sebastião que retorna por entre as brumas da alma de cada um. Talvez a bruma seja o muro que nos separa da plenitude espiritual: aquela que nos realizará o sonho do Quinto Império.

Então seja em movimentos populares rebeldes e libertários como a Cidade do Paraíso Terrestre e da Pedra do Reino ou a Comunidade sertaneja de Canudos liderada por Antônio Conselheiro; seja como o mais importante encantado nas Pajelanças do Pará; seja na religiosidade popular manifestada no Tambor de Mina; seja como figura de destaque nas folias de reis; Salve Dom, São Sebastião; salve o Brasil das cavalhadas, do touro negro coroado e do bumba-meu-boi.

E que se estabeleça de fato nas caatingas e nos sertões, nos pampas e nos cerrados; no Norte e Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, um império de justiça e igualdade, de amor e prosperidade e sendo para o bem de todos que venha a se chamar de "Quinto Império do Brasil".

Cid Carvalho - Carnavalesco
Alexandre França - Pesquisador

 

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Preocupado com os avanços territoriais promovidos pelos muçulmanos no norte da África, Dom Sebastião já preparava, desde 1573, uma organização militar dentro do território português. Portugal pretendia, então, dar continuidade a uma política de conquistas territoriais, projeto que visava à volta de Portugal como poderio mundial econômico e político.

Em 24 de junho de 1578, rumo a Tanger, na África, 847 velas levaram 24 mil homens aos campos africanos. Finalmente, na manhã de 4 de agosto de 1578, finalmente é travada uma batalha, em campo aberto nas Campinas de Alcácer Quibir e Portugal sofre uma derrota desastrosa.

A notícia da derrota chegou semanas depois, com relatos de várias naturezas. Imediatamente a nação rangeu os dentes por causa do desespero e da dor causados pela possibilidade da perda de entes familiares. Em simultâneo a este impacto, sente-se o golpe nas esperanças da volta de um caminho glorioso, destinado a Portugal. A coroa fica, novamente, ameaçada pelo vizinho, Castela. O caos se instalou na Corte e nas ruas do reino.

Junto às notícias sobre a derrota do exército português, circulava a informação de que o rei Dom Sebastião havia desaparecido. De quando em quando, testemunhas afirmavam que o corpo do rei nunca foi comutado entre os mortos e prisioneiros feitos na batalha. Um fio de esperança começava a correr por todo o reino, tecendo o espectro de um rei desaparecido, um soberano que não permitiria o abatimento completo dos ânimos da nação, que pressentia a inevitável anexação ao reino de Castela.

De 1578 a 1580, o cardeal Dom Henrique, tio-avô de Dom Sebastião, sustentou a coroa em suas mãos, retardando o fim da independência de Portugal. Porém, após sua morte, em 1580, diversas batalhas no campo político e jurídico das cortes, acabam sendo vencidas pela Corte de Castela e Felipe II assume também o trono português.

Nesse ínterim, a crença de que Dom Sebastião estava vivo, toma grande vulto, não só por ser ele um monarca herdeiro da coroa portuguesa, mas por tudo o que já representava para a história de Portugal. Mesmo fora do território português, Dom Sebastião teve, e tem presença garantida em literaturas e movimentos que fazem uma leitura messiânica a seu respeito, ampliando os passos em direção a uma existência mítica em outro epíteto, o Encoberto.

Nesse clima, que traduzia um misto de esperança e fé, é que 4 falsos reis se apresentaram como Dom Sebastião. A criação destes falsos reis não significava propriamente a busca de uma nova ordem, mas sim, uma tentativa de restabelecer uma ordem humilhantemente obliterada, e sujeita a outra, a de Castela, através do forjamento de "cópias" do rei Desejado, herdeiro legítimo do trono de Portugal.

A escolha de organizar "Cortes" paralelas à de Castela em território português e, mais do que isso, da instalar nelas falsos reis, na tentativa de promover a imediata restauração do trono de Portugal, reforçou a consolidação da carismática imagem de Dom Sebastião como um monarca messiânico e apesar de ter sua imagem envolvida em casos embebidos em ações fraudulentas, Dom Sebastião ganhava maior potência no imaginário português: cada vez mais era tido como um rei desaparecido, capaz de trazer a salvação para Portugal e instalar o "Quinto Império Universal Cristão".

Mesmo depois de restaurado o trono português, em 1640, o mito de Dom Sebastião permaneceu vivo e a volta do Encantado aguardada dentro e fora dos limites territoriais de Portugal.

Especificamente no Brasil a maior colônia portuguesa daquele tempo, a crença na volta do rei "Desejado" e a concretização do sonho de implantação do Quinto Império Universal, encontraram o terreno fértil entre o povo humilde e sofrido.

Seja na crença de que Dom Sebastião e toda sua corte encontravam-se encantados nas profundezas das águas da praia dos Lençóis maranhenses, seja no sertão pernambucano, este imenso Brasil se vestiu de esperança sebastianista.

Mas, é no ano de 1808 que se dá o mais importante acontecimento para a transferência definitiva do sonho do Quinto Império Universal e a possibilidade de sua concretização nas terras do Brasil.

Neste ano, depois de praticamente 3 meses navegando, a família real portuguesa aporta no Rio de Janeiro, fugindo invasão ordenada por Napoleão Bonaparte às terras lusitanas no Velho Mundo.

Para o povo do Rio de Janeiro, que presenciava uma incrível transformação na maneira de viver da cidade, a chegada de Dom João VI representava finalmente a implantação do próprio Quinto Império, nas terras tropicais do Brasil, já anunciado pelos sebastianistas.

A cidade, aos poucos, vai se revestindo de elegância e costumes nobres. O novo reino parece estar sendo preparado para se tornar, de fato, o "Quinto Império Universal", tal os expressivos investimentos nas artes, nas ciências e na economia.

Porém o retorno de Dom João VI para Portugal, deixando o filho Dom Pedro Primeiro como príncipe regente do Brasil, abriu o caminho para o fim da monarquia.

Mesmo depois do fim do império e da implantação da república, a volta do rei Desejado, Dom Sebastião,e o sonho do Quinto Império permaneceram vivos nos cafundós do Brasil.

Neste período resplandece a figura de Antônio Conselheiro, um profeta popular que pregava, para um grande número de seguidores, o retorno do Encoberto e finalmente a implantação do Quinto Império. Como represália a este movimento o monárquico, a recém implantada República massacra o assentamento conhecido como Canudos, promovendo a morte de Conselheiro e de praticamente todos os seus seguidores.

Mas nem a brutalidade e crueldade conseguiram por fim ao mito de Dom Sebastião e da utopia do Quinto Império. Até os dias de hoje, eles permanecem vivos em várias manifestações religiosas e culturais espalhadas pelos recantos do Brasil.

Cid Carvalho
 

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