"BRASIL
PAÍS MULATO"
A TERRA
Da cor do pau-brasil!
Um dia a Terra de Santa Cruz
Mestiça pelas mãos do senhor
Abençoada
Te fizeste multicor
Onde o veio beijo tuas
palmeiras
Rodopia dos coqueiros
Desperta os encantos
Brinca nos cambucais
Canta o sabiá...
Suspira a raiz do Ipê
Do fundo das verdes matas
Borboletas agitadas
Em coro canta a passarada
A natureza escuta extasiada
Vem de longe o canto das três raças
O ÍNDIO
Oh gentios, fostes os primeiros
Bravos guerreiros caçadores
Arco, flecha, lança e tacape
Longe da cobiça. Navega teu jatobá
À ti quantas injustiças
Festa na aldeia
Adoração a Tupã
Cânticos a Jacy que alumeia
O canto de amor de Jaçanã
Os teus vasos sagrados
Poções da vida e da morte
Entregues na mãos da índia velha
Ervas curtidas enfumaçam
Os ritos e magias do Pajé
Caiapó, caiapó
Dançam índios
Ritual e bailado
Curumim sobreviveu
Timbiras, Tapuais e Tupis
Sentados na areia
Manhã se anuncia
Clareia.
De ouro se veste o dia
Surge Guaracy
O BRANCO
Trezes naus
Pavilhões anunciam Portugal
À busca da riqueza
Nova fé, novos costumes trouxeste
Falaste do Divino
Enfeitaste os espíritos de flores e fitas
À espera de melhores colheitas
Acendeste fogueiras em louvor a São João
Quiseste mudar o credo
Fez-se batizado
Criaste o reisado ao som da sanfona e da zabumba
Teu poder impuseste
Pela chibata
Na cor do chicote
Resististe
Por vezes sucumbiste ao curare
Resistência dos gentios-primeiros
Em Além-Mar, na Mãe África
O negro buscaste
O mais novo irmão
O NEGRO
Ketu, Gêge
Nação Ioruba
Do Congo da Guiné
Em navio Negreiro
Vieste para cá.
Em praias brasileiras
Tuas crenças fincaste
Guardaste teu valor
Escondeste magias e segredos
Retalharam teu corpo
Teu sangue em terra derramaste
Não buscavam teu rosto
Não entenderam teus gritos e clamores
Embora em tatos açoites
Mantiveste tua fé
Sob a luz de lampião ou candeeiros
Na senzala rezaste
Teu amor a Oxum confiaste
Da indagação do Senhor
A quem rezavas
De olhar zombeteiro
Cabeça baixa, medo no coração
Então balbuciavas
-“E reza a Virgem da Conceição”
O CARNAVAL
Diante de tantas sanhas
Deixadas tantas marcas
Quis o senhor
As três raças misturar
De toda esta mistura a mulata é
exemplar
De três cantos fez um canto só
Dom som de bumbos, cuícas, reco-recos
De um só ritmo
Um só sorriso
De mãos dadas a mesma arte a se manifestar
Fez-se o nosso carnaval
De alegria e fantasias
O Samba-Enredo cantar
Exaltar tradições
Se vestir de fidalguia
Se rei ou rainha
De conde ou Condessa
Não importa...
O que importa é na corte
De Momo três dias reinar.
Antônio
Carlos Cerezzo
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