G.R.E.S. PARAÍSO DO TUIUTI |
Sinopse 2006 |
São Cristóvão é um bairro com alma imperial. Aqui, podemos sentir ainda hoje esse espírito de ontem , de passado grandioso e aristocrático. Em largas avenidas, casarões parecem abrir-se para que entrem carruagens com damas da Corte voltando de seus passeios diários. História que se inicia com a doação das sesmarias de São Cristóvão aos padres jesuítas, pelo então governador geral Estácio de Sá, que exploravam as terras acumulando poder e riquezas. A partir da expulsão dos jesuítas no Brasil essas terras foram divididas em diversas propriedades com características de quintas e chácaras. Uma delas adquiridas pelo rico comerciante Elias Antônio Lopes. Com a chegada da família Real ao Brasil, Elias doou a sua propriedade a D.João transformando-a em residência do Monarca. Começa aí toda a realeza do bairro. O imenso jardim que cerca o Palácio, seu gramado verde que acolhe famílias com seus farnéis de piquenique, prática comum até hoje, as árvores centenárias estão lá, como testemunhas silenciosas que agitam ao vento, o mesmo vento que arrancou perucas de duques e marquesas que chegavam para as festas e audiências nos salões imperiais, donde emanava o poder e as questões que comandavam esse imenso belo país dividido em províncias quase sempre nas mãos dos seguidores fiéis do Imperador. Ah, e a paixão? Em sua casa, a Marquesa de Santos, a adorada Titila, esperava por seu grande amor, evocando o romantismo libertino de D.Pedro I, casado com a imperatriz Leopoldina, amor proibido que afrontava o convencionalismo da Corte. Passado, tradição, aristocracia, mas nunca a acomodação retrógrada. Sempre em mudanças constantes. Neste bairro de contrastes é possível ver dali, das janelas do Palácio, a casa que mudaria por diversas vezes a história da região. De casa da Marquesa à residência do Barão de Mauá, símbolo de ousadia, progresso empresarial, onde a burguesia capitalista, baseada em monopólios, confabulava a respeito dos interesses financeiros e comerciais, minando a estrutura do poder escravagista, trazendo à região inúmeros progressos: os bondes, os carris, as fábricas, companhias nacionais, os curtumes e até as feiras no Campo de São Cristóvão. Vindos no “pau-de-arara”, desembarca no Campo de São Cristóvão toda a riqueza cultural do Brasil, Jardim das Delícias regionais: carne de sol, queijo de coalho, boas pingas, rapadura, fumos; feira do chamego ritualizado no forró, que se dança agarradinho, anjos e demônios no “bate-coxas”. Feira da saudade da terra árida, inóspita, mas presente e relembrada após uma semana de árdua lida. Pedacinho da terra natal, improvisado debaixo do céu azul de lonas. Nada menos imperial e mais plebeu, nada mais povo, mais gostoso. São Cristóvão tem mais. Andando por suas ruas vemos os contrastes remanescentes até hoje. Grandes casarões transformados em bares, restaurantes pensões e lojas de comércio. Coincidência ou não, é o santo padroeiro dos condutores, e é no bairro que se concentra o maior comércio de autopeças e automóveis do Rio. Donde terá surgido essa aproximação entre o divino e o comércio? Coincidência ou providência? Ao andar pelos arredores graças aos Pedros I e II, as culturas, as artes, as ciências valorizam nosso bairro. Colégios conceituados, os mais disputados em tempos atrás pela burguesia da Guanabara. Centros de Arte, Museu de Astronomia e Ciências e Observatório Nacional. Este que aproxima o nosso bairro das estrelas, de onde se pode observar o maravilhoso e inigualável céu do Brasil. E domingo? Domingo é dia de Quinta! Andar por suas alamedas, empinar pipa, comer algodão doce, jogar bola – reviver nossa porção criança, aquela que procuramos preservar a qualquer preço – tudo isso, nos jardins da realeza. E a Quinta ainda reserva o Jardim Zoológico! A bicharada orgulhosa se exibe aos visitantes – tudo nos evoca, pelos sentidos, tempos idos, excursões com a turma do colégio, os passeios com a família e parentes. Se a pelada acabou nos gramados do Rei, é porque está na hora do jogo ficar sério. Clubes de regata e futebol do nosso bairro conquistam títulos e glórias em gramados mundo afora. Se a realeza se foi, ficaram tesouros de sua época. Que São Cristóvão possa nos abençoar e conduzir nessa viagem pela Avenida. Nossa Escola saúda o povo e pede passagem exaltando as belezas do Bairro Imperial. Somos imperiais porque o Rei morava ali, do outro lado do TUIUTI!
Sandro Carvalho |