G.R.E.S. ACADÊMICOS DA ROCINHA |
Sinopse 2008 |
Introdução à sinopse: O Nordeste é meio irmão da Rocinha pela sua gente que veio renascer numa cidade que não tem um bom berço para abrigar. Mas que tem seus filhos no parto da alegria. A história nordestina é uma das mais ricas em seus valores culturais e de luta pela vida. Seus heróis e seus sertões, que se confundem nas secas e batalhas, seus ilustres e anônimos que se unem numa confraria de coragem. Sua sabedoria intensa e sua cultura simples que nos ensinam a ser brasileiro. Nosso enredo para 2008 é relembrar quem fez do Nordeste uma pátria tão amada quanto o Brasil. Como Antonio Conselheiro, cujo conselho era ter perseverança e ambição pela felicidade. Os Acadêmicos da Rocinha vão descer aquelas alamedas e ruas estreitas para mostrar, em forma de samba, que todos cantam a liberdade. Que todos querem um grito de paz. Que a beleza vem lá de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Bahia, contada por seus reis de ontem, vivida por seus heróis de um dia após outro. A beleza que se transforma em um desfile de Carnaval no Rio de Janeiro. Onde a vitória é ver a platéia fazer de conta que a história que está passando em alas e alegorias é o conjunto de uma nação unida.
Sinopse: A Borboleta da Rocinha voa e vai buscar num tempo iluminado, puro e sem pecado, a andança de um destino... O enredo do seu samba pra cantar a saga do povo nordestino. Pousa e anuncia: “Rocinha é minha vida. Nordeste é minha História”. Numa só celebração, de Zumbi ao Rei do Baião, a Rocinha apresenta os Reis do Nordeste da capital ao sertão. Brilha no céu a estrela guia, nas cores da folia, uma nobre gente. Três Reis Magos peregrinaram lá das bandas do Oriente, sob a régia um destino: anunciar o nascimento do Deus menino. É o auto de um povo pacato, feliz e abençoado, que na dança e no canto chega pra dá o seu recado. Tem cantoria é festa do reisado. Vencendo o lamento e escondendo a dor, da África reis e rainhas aportam em solo brasileiro sem nenhum valor. Uma vida, um engano, em “terra de homem branco” dia e noite, noite e dia: escravo não era “gente”, nem tão pouco “inteligente” era mercadoria, usufruto da nobre “fidalguia”. Tanta amargura; meio a opressão, um ato de bravura! A festa do negro se faz no congado: o Rei Congo é coroado. É canto e dança pra todo lado é maracatu batendo tambor sob o luxo de seus bordados, sem choro e sem dor, com muito brilho e muita cor. Tem batuque, tem gira de fé. O negro é Rei nos terreiros de candomblé. Culto sagrado, que faz da reza um canto, a cada pai de santo, um axé. Obá sarava! Mas quem pode com mandinga não carrega patuá. Peço licença ao Ketu, ao Jejê e ao Nagô, para louvar o Orixá da justiça, nosso Rei Xangô. Em cada canto soa um grito de esperança ou de agito, nossa reação. Cada qual com sua verdade, Zumbi e mil palmares reagiam, aquilombados, contra a atrocidade em nome da Liberdade. Povo aguerrido, por ser simples morria mais, como devia de acontecer. “Pobres mascates, e até alfaiates entravam na guerra sem saber”. Da revolta praieira uma tradição, eclode na região pernambucana a Insurreição. Levante, guerra, balaiada, revolução. Miscigenaram-se num só princípio de unidade geral ganharam um só corpo, virando uma só gente, unidos a uma Conjuração. Armados da palavra a tiros de espingarda, difícil situação, índios, brancos, negros lutavam contra a tal opressão. Em Canudos é gente sofrida, que tudo que tem na vida é o sacrifício da promessa cumprida. Na bonança todos – homem, mulher, velho e criança – tinham absoluta confiança, cantavam em romaria e se admiravam do sermão daquele guia. Lute pela paz ele dizia, e mais adeptos adquiria... “A História nunca provou se era santo ou embusteiro. Só se sabe que tinha o nome de Antônio Conselheiro”. Salvo de uma emboscada, de Virgulino, vez por outra comentada, não era conhecido. Devoto e afilhado de Cícero Romão, sujeito precavido, numa batalha, nunca se dava por vencido. Em qualquer situação, no braço ou no facão, a cada passo era Lampião: o Rei do Cangaço. Nordeste, terra abençoada onde a fé faz sua morada. Terra bendita, de um misticismo religioso, de um deus de carne e osso: Padim Padre Ciço. Vem gente de tudo que é canto, devoto, promesseiro até romeiro, pedir a benção do tal pastor de Juazeiro. Com a seca fica a lembrança, de que com o tempo tudo muda. Era um Deus nos acuda! Mas da cidade grande provinha à esperança de alguma ajuda. Foram muitos os “Severinos” que ganharam o mundo em desatino... Num flagelo peregrino, retirantes, nordestinos como sou... Que a arte pelas mãos de Portinari, os consagrou. Na fé o caminho é traçado. Os nordestinos conquistam os seus reinados; como herança da peregrina travessia, afinal, nunca se viu nada igual, a Rocinha é uma “Nação Nordestina” em plena capital do carnaval. Do sertão a capital, os filhos do agreste reinventam o “mundo das artes” de uma forma sábia e magistral. No forró e no artesanato, num encanto de um poema, nas telas de cinema, tudo cultura, como em toda literatura, nordestina é sua assinatura. Artistas, músicos, repentistas, cineastas, escritores... Não há aquele que não preste atenção, na letra de uma simples canção e leva consigo até mesmo a Asa Branca, que bateu asas do sertão. A essa altura nos conduz à leitura de um conto de amor doce e clemente, “A Pedra do Reino” de Ariano Suassuna. Que, pois eu lhe digo sem ter medo de errar, que se trata de um livro que conta à história do povo desse lugar, do encontro entre o erudito e o popular. As imagens ultrapassam as fronteiras da criação. Atrevido é aquele que diz não conhecer, o que no sertão se conhece desde de menino, a arte no barro de mestre Vitalino. Do lado de cá, vindo da Paraíba e da Bahia, conhecido como a “Sétima Arte”, aos olhos do povo é nordestino o nascimento do “cinema novo”. Ação! “Deus e o diabo na terra do Sol” um filme de Glauber Rocha narrando o sertão. A Borboleta da Rocinha cumpriu o seu destino... No encontro ou na despedida, faz um samba, uma oração...Dessa terra prometida, de sorrisos serenos que brilham no cais; após um aceno, repleto de paz... Bate forte o coração, a Rocinha ascende às luzes da imaginação e estende na Avenida a sua maior paixão... É verde, azul e branco as cores de seu manto, que num encontro mágico e universal chamado carnaval, canta a riqueza do agreste e num vôo celeste, celebra os “Reis do Nordeste”.
Fábio Ricardo |