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G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO

Sinopse 2005

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"DO FOGO QUE ILUMINA A VIDA, SALGUEIRO É CHAMA QUE NÃO SE APAGA"

 

A chama da vida: a descoberta do fogo

Na pré-história, um misto de medo e admiração tomava conta dos homens. Como explicar aquela bola de fogo que se erguia no horizonte, irradiava calor e ocultava-se enigmaticamente, deixando-lhes cegos na escuridão da noite e a mercê de seu próprio medo? Como compreender os raios riscando o céu durante as tempestades ou os vulcões, as montanhas que cuspiam lava incandescente, fazendo-lhes crer que embaixo da terra em que pisavam existia um grande mar de fogo?

Temerosos e reticentes, os homens não tinham explicações, mas perceberam nos fenômenos da natureza aliados para sua sobrevivência. Observando-os, descobriu o fogo, aprendeu como fazê-lo e como mantê-lo aceso.

A domesticação do fogo mudou completamente a vida dos hominídeos. Provocou alterações físicas, demográficas e sociais nas primeiras comunidades. O fogo deu ao homem pré-histórico o poder de iluminar a escuridão, dominar animais, cozer alimentos, sobreviver aos rigores do tempo e desenvolver técnicas, como o cozimento do barro para fazer cerâmica.

As chamas, um dia dominadas, deram nova vida à vida humana.

 

Da fascinação à adoração

O fogo que descia dos céus e brotava da terra causou pavor, mas virou motivo de admiração, não só por sua utilidade, como também pela misteriosa atração de suas chamas. Ao dominar o fogo, o homem se distinguiu do restante da criação e compartilhou do poder divino. O fogo se transformou no centro da vida humana e passou a ser adorado e cultuado. Para muitas civilizações, deuses superiores eram os responsáveis por manter a chama acesa. Figuras míticas explicavam a relação do homem com o fogo, como a lenda grega de Prometeu, titã que roubou uma centelha de fogo do Olimpo para dá-la aos mortais.

Com diferentes nomes, Grécia e Roma cultuavam os mesmos deuses do fogo. Hefesto (ou Vulcano) era o deus do fogo e das erupções vulcânicas; Héstia, irmã de Zeus, era a deusa do fogo e guardiã da chama sagrada e eterna, que se transformava em labaredas no Monte Olimpo quando as cidades disputavam competições que deram origem aos Jogos Olímpicos.

Em Roma, um dia incendiada por Nero, o Grande Imperador, Héstia foi adorada como Vesta. Para ela, foi erguido um templo onde se mantinha vivo o fogo sagrado. Jovens sacerdotisas, chamadas vestais, tinham a missão de guardar o templo e manter sempre aceso o fogo sagrado, símbolo da perenidade do Império.

Alem de ser adorado, o fogo servia ao homem de outras maneiras. Para advertir navegantes da presença dos recifes no mar, derreter metais, ouro, cobre e bronze, modelar artefatos e adornos, destilar bebidas e elixires e forjar as primeiras armas de defesa.

 

Entre o inferno e o céu: o fogo que purifica a alma

Idade Média. Época que mistura o divino e o profano, o real e o sagrado, o medo e a adoração. Época dominada pelos dogmas da Igreja Católica, quando o poder religioso confundia-se com o poder real. A Santa Inquisição perseguiu, torturou e matou inimigos da Igreja, acusados de hereges e bruxos, como Joana D’Arc, heroína francesa. Corpos de homens e mulheres arderam em fogueiras acesas para glória de Deus sob o argumento da purificação da alma e da crença de que o inferno daquele momento anularia o inferno eterno.

No imaginário popular e religioso, as bruxas estavam por toda parte, nuas, montadas em vassouras, aterrorizando cidades, aldeias e castelos, semeando o pavor e consolidando a crença de uma grande conspiração arquitetada por Satã e suas seguidoras para tomar conta do mundo. Nos sermões, os padres proliferavam a idéia de que a bruxaria estava ligada à cobiça carnal insaciável do sexo frágil, que não conhece limites para satisfazer seus prazeres. Com seu "fogo uterino", a mulher era uma armadilha fatal que impedia os homens de estarem em paz com sua espiritualidade.

Convivendo com a fé exaltada, expressões artísticas, como a pintura e a literatura fervilhavam entre o inferno e o céu.

O clima e medo e superstição da Idade Média também era propício para o surgimento de lendas, como as dos dragões, criaturas aladas com corpo de réptil que cuspiam fogo pela boca.

 

O fogo ritual e sagrado

A forma mutável do fogo, com suas cores variadas, calor e luz, sempre gerou admiração religiosa. Além das verdadeiras mudanças que opera, despertando nas pessoas a esperança a fé e o amor, o fogo é a centelha de divindade que brilha dentro de nós. É, ao mesmo tempo, o mais físico e o mais espiritual dos elementos, indo sempre para o alto, para alcançar o divino.

Desde tempos ancestrais, o fogo é um instrumento que serve para guiar nossas preces. Independentemente da religião, praticamente todas elas acreditam no poder do fogo para louvar seus santos, deuses, orixás, entidades ou para invocar as forças da natureza.

O simples ato de acender uma vela é um ritual simbólico de ligação dos nossos pensamentos e desejos ao mundo espiritual. Um veículo de comunicação que simboliza a chama do Espírito, conduzindo-nos a um plano mais elevado da nossa existência.

 

O homem domina o fogo ... que domina o homem

O homem domina o fogo. Produz diversos instrumentos, melhora a qualidade de vida. Nas caldeiras da Revolução Industrial, forja em ferro o progresso. A siderurgia e a metalurgia tornam-se atividades que produzem riqueza e o desenvolvimento das nações. No dia-a-dia, o fogo torna-se munição para amenizar o frio, iluminar o ambiente, cozer alimentos. Meios, como fósforos e isqueiros, são criados para fazer nascer chamas. Calor incandescente que transformou terra em cerâmica, areia em vidro.

Mas as mãos criativas que constroem maravilhas são as mesmas que fazem a guerra. Na ânsia de dominação e poder, o homem cria armas de fogo, manda seus soldados para a linha de fogo, ordena ataques: “Preparar, apontar, fogo!”.

É o homem dominando o homem com fogo.

E na guerra contra o fogo, entram em cena os bombeiros, verdadeiro anjos que combatem incêndios e salvam vidas.

É o homem dominando o fogo.

 

Na imaginação do povo, o fogo faz a festa

Com tantas utilidades e peculiaridades, logo o inconsciente popular tratou de dar um ressignificação ao fenômeno fogo. Viajou na mente dos índios e sertanejos em lendas como a do Boitatá, uma grande cobra de fogo que se alimentava dos olhos de animais mortos, e da Mula-Sem-Cabeça, animal que trazia fogo no lugar da cabeça.

Também aportou no imaginário popular em diversas expressões e ditos. Quem nunca conheceu alguém que estava com “fogo no rabo”, deixou-se queimar no “fogo da paixão”, botou “lenha na fogueira” do amor, mas percebeu que tudo não passava de “fogo de palha”? Ao ser mais uma vítima da “fogueira das vaidades”, certamente soltou “fogo pelas ventas”, tomou umas e outras e ficou “de fogo”. Afinal, “quem brinca com fogo, pode acabar se queimando”...

Por seu valor simbólico e pelo fascinante visual que proporciona, o fogo é presença constante nas mais diversas festas. Quem nunca pulou a fogueira de São João ou viu rojões e balões clareando as noites de junho? E os fogos de artifício, que iluminam os céus e anunciam que um novo ano se inicia? No circo, engolidores de fogo exibem sua técnica e fazem a alegria da garotada. É o poder do fogo como elemento de contágio, força e celebração. É a festa do fogo, o fogo fazendo a festa.

 

A chama que não se apaga

O Salgueiro presta uma homenagem a cada folião que arde de entusiasmo, incendeia de prazer e flameja de alegria na Sapucaí. Àqueles que cumprem o ritual de acender a chama do amor por sua escola, de se deixar queimar no transe do desfile, arder de alegria e prazer no carnaval.

O folião que, como a Fênix, renasce das cinzas da quarta-feira através de um sopro de alegria ou de uma fagulha de esperança, para dar início ao ciclo mágico de preparação para o ano seguinte. Chama consumida em oitenta minutos de brilho e ilusão. Pra tudo recomeçar na quarta-feira.

É o recomeço inspirado no brilho incandescente do sol, a bola de fogo que fascinou os homens na pré-história e que nasce, a cada dia, para todos. Chama da vida que nos aquece, ilumina e reacende nossas esperanças por um futuro melhor.

 

Renato Lage, Márcia Lavia e Diretoria Cultural

 

Sinopse aos compositores

O Salgueiro descobre o fogo. E mostra como esse presente divino, que há milhões de anos fascina os homens e mantém acesa a chama da vida na Terra, contribuiu para a evolução da humanidade. Como o fogo passou da fascinação à adoração, criando deuses e mitos que tornaram-se chamas para acender a imaginação de diversos povos e civilizações;

O Salgueiro acende a fogueira e presencia como o fogo se tornou instrumento de purificação da alma, com labaredas que forjaram em ferro espadas e armaduras, modelaram brasões e insígnias no inferno da inquisição e incentivaram lendas de bruxas e dragões, os répteis voadores que cuspiam fogo;

O Salgueiro celebra o fogo em rituais de fé, de elevação do espírito e das cerimônias em diversas religiões;

O Salgueiro usa o fogo e percebe seu papel fundamental no desenvolvimento da indústria e no calor do dia-a-dia. E que a mesma chama, um dia dominada, serve também para dominar o próprio homem;

O Salgueiro perpetua o fogo. Viaja no imaginário do nosso povo, revela a sua constante presença em seres fantásticos e em expressões que usamos sem nos dar conta. E vê intensos brilhos no céu anunciando que a festança vai começar. É a festa do fogo na imaginação popular;

E, finalmente, o Salgueiro ressurge do fogo na figura do folião que queima de alegria no carnaval, numa combustão de euforia, e renasce das cinzas da quarta-feira. Tal e qual Fênix, o Salgueiro ressurge e revive simbolicamente o ciclo natural de todas as formas de vida. É o brilho vermelho e incandescente do fogo do Salgueiro que surge na Marquês de Sapucaí a cada carnaval e reflete, no brilho do sol, a esperança em uma vida que renasce a cada dia para cada um de nós.

 

Renato Lage, Márcia Lavia e Diretoria Cultural
 

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