Começou o desfile.
Sente o frio?
Esse vento que passa provoca arrepios.
Esfregue as mãos, cubra o corpo, chegue mais perto de mim.
Não deixe que o sangue congele. Se embole, se agite.
Nunca vi nada assim.
Grite! Procure saber de onde vem o vento, a ventania.
Esfria, arrepia, me esquenta.
Ouça o samba. Mexa o corpo, requebre, me agüenta.
Quero fazer sua vontade. Te arrepiar na folia.
Quer fazer a cabeça?
Enrolado, arrepiado, embolado, colorido.
Qual é o seu estilo? Arrumadinho, despenteado, espetado, transviado.
De qualquer jeito, a gente se vira e desvira, desvia.
Desperte o meu desejo,
num beijo.
O seu corpo estremece no meu.
Vem comigo, vem pro mundo,
mas traz no seu grito a alegria
de quem já é poesia
somente porque nasceu.
Para mudar o sentido da
vida,
reescrever a história,
recompor a memória, a cena, a música.
Criar uma mesma emoção.
Está tremendo? Mas
amor, o que passa agora?
Me abraça, que também sinto o coração disparar.
O horror a me turvar a mente: desolação.
A vida que se deixa num fio, no fogo, no jogo do poder.
O fim consentido, provocado, executado.
Centenas, milhares, milhões de vidas perdidas.
E o que mais ainda
arrepia? Essa não! Que nojo!!!
Não quero decepcionar. A gente está só se conhecendo.
Mas chama alguém corajoso, de vassoura ou de chinelo,
que com esses seres eu me pelo.
Veja só o que vai passar! Sente um calafrio?
Esses monstros terríveis, que provocam pesadelos,
pulam da tela e vêm aqui te assustar?
Mas me abraça, que, mesmo apavorado, com você aqui do lado,
já me dá outro arrepio!
Por tudo o que já se
viu,
a Viradouro vai arrepiar.
Mas nem pense que é o fim.
Porque o maior arrepio
virá de um vento tardio.
Daqueles que sopram na memória.
Um vento sem frio,
um tempo de aquecer as lembranças
e sentir arrepios de emoção e saudade!
Não fale. Simplesmente exale
o perfume que roubam de ti!
Paulo Barros